Novo tratamento de leucemia mieloide aguda leva esperança a pacientes

Foto: Valdo Virgo/CB/D.A.Press

Apesar de intensos estudos científicos, a leucemia é um tipo de câncer que ainda guarda alguns mistérios que, uma vez descobertos, podem ajudar na busca por novos tratamentos. A doença teve, em média, 10.800 novos casos no ano passado, e é um tipo de câncer da medula óssea. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que, em 2017, o Brasil teve 4.795 óbitos decorrentes da enfermidade.


A leucemia tem início nas células-tronco da medula óssea. As células sanguíneas doentes se formam e atrapalham a produção das saudáveis, diminuindo o seu número normal. Existem quatro tipos principais de leucemia, a mieloide aguda (LMA), a mieloide crônica (LMC), a linfoide aguda (LLA) e a linfoide crônica (LLC).


Uma das novas descobertas sobre a LMA permitiu que surgisse um novo tratamento que tem apresentado resultados promissores. O gilteritinibe é um tipo de terapia alvo produzida pela farmacêutica Astellas, que foi aprovado pela Anvisa para o tratamento de pacientes adultos com leucemia mieloide aguda com mutação no gene FLT3.


O tratamento, que se difere da quimioterapia por consistir em medicamentos orais que podem ser http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrados na casa do paciente, é voltado não apenas para um tipo específico de leucemia, mas exclusivo para um determinado tipo de mutação.


O oncologista Eduardo Rêgo, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente do Comitê de Membros Internacionais da American Society of Hematology, explica a importância de conhecer e compreender melhor cada um dos tipos de mutação que podem causar o adoecimento das células sanguíneas.


“Não existe uma única mutação que vá causar essas doenças; é um grupo de mutações. E, nos últimos 15 anos de estudos, conseguimos entender algumas delas. Isso é muito importante porque, em cada uma, a doença vai ter características diferentes, e isso pede tratamentos diferentes”, esclarece.


A doença

– A leucemia mieloide aguda (LMA) é a forma mais comum de leucemia aguda nos adultos e caracteriza-se pela produção e pelo crescimento rápidos de células sanguíneas anormais, que podem se desenvolver na medula óssea e impedir a produção de células sanguíneas normais.


– Apesar de ser a mais comum em adultos e não acometer o paciente antes dos 45 anos, a LMA é rara, representando apenas 1% de todos os cânceres.


– A doença pode estar associada a algumas síndromes hereditárias, doenças hematológicas anteriores e medicamentos quimioterápicos para o tratamento de outros tumores.


– Dentro da LMA, existe a mutação de um gene específico, o FLT3, que é um dos mais agressivos pelas sua rapidez de propagação.


– O FLT3 é responsável por codificar proteínas e sinalizar para as células sanguíneas como e quando elas precisam se diferenciar. Ela dispara uma série de sinais dentro da célula para que ela se divida e se diferencia para suprir a necessidade do corpo.


– Quando sofre a mutação causadora da leucemia, ela passa a emitir esse estímulo de forma descontrolada, causando a proliferação muito grande de um grupo de células que vai contribuir na progressão da leucemia.


– Por esse aspecto, esse tipo de mutação faz com que exista uma grande chance de reincidência da leucemia, mesmo após um tratamento que elimina as células cancerosas, como a quimioterapia.


– A mutação é a responsável pela LMA em cerca de 30% dos pacientes.


– Esses pacientes costumam ter uma mortalidade precoce pelo rápido avanço da doença e pela dificuldade de ter acesso a um diagnóstico que especifique a mutação responsável. “A atenção e conscientização sobre essa testagem genética ainda são muito reduzidas,a dificuldade de acesso é grande”, acrescenta o oncologista Eduardo Rêgo.


– O tratamento mais comum é o transplante de medula óssea, mas muitos pacientes morrem à espera de um doador. Por isso, o novo medicamento surge como uma grande esperança.


– O gilteritinibe atua no organismo inibindo o funcionamento do FLT3. O medicamento impede que o gene com mutação continue produzindo as células de forma descontrolada. Além de impedir a criação de novas células doentes, o medicamento promove a morte de muitas das que já surgiram.


– Eduardo também afirma a necessidade de mais investimentos na saúde. A nova droga é eficaz, porém, só está disponível na rede privada e cerca de 75% dos pacientes oncológicos dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).


Palavra do especialista

Quais as vantagens do tratamento com o gilteritinibe?


O medicamento, comparado a outros tratamentos para o câncer, como a quimioterapia, tem poucos efeitos colaterais. Além disso, é mais seguro e tolerável para o organismo. Os pacientes vivem mais e têm chances muito maiores de entrarem em remissão.


O medicamento só pode ser usado na mutação do gene FLT3?


Sim, ele foi criado especificamente para tratar este subgrupo de pacientes com LMA


Qual a importância deste tipo de estudo na vida e na saúde dos pacientes com leucemia?


Pouco a pouco e dando um passo de cada vez, estamos fazendo progresso em tratar e curar o câncer, que se desenvolve quando mutações específicas acontecem em células chave no corpo. Primeiro, precisamos identificar essas mutações e, então, criar drogas que atinjam e possam inibir os efeitos dessas mutações. Estudos clínicos, como o que levou à aprovação do gilteritinib, são essenciais para demonstrar que identificar e inibir as mutações podem ajudar os pacientes com câncer a viver mais e melhor.


Mark Levis é professor de oncologia e líder do programa de Malignidades Hematológicas e Transplante de Medula Óssea na Universidade Johns Hopkins.


Fonte: Correio Braziliense


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