“Esse ponto é muito importante para nós todos, tendo em vista não só os efeitos negativos que poderão ocorrer, tanto para a natureza, quanto para as populações indígenas que podem ser afetadas. Caso à estrada, a gente vai intervir no sentido de que a menor possibilidade de impacto aconteça, é claro que é muito difícil um empreendimento como esse causar baixo impacto, isso é surreal, não existe algo que demonstre baixo impacto com construções de estradas desse tipo”, frisou.
O ambientalista disse também que, em uma pré-análise, foi possível detectar diversos impactos, sendo que afetará diretamente a vegetação e a fauna em uma extensão de mais de 120 quilômetros. A obra, segundo Scarcello, causará um efeito na formação montanhosa na Serra do Divisor, que pode causar um processo erosivo incontrolável.
“Vai afetar diretamente a cabeceira de rios que formam afluentes do Rio Juruá, que são muito importantes, como o Rio Azul, que faz parte da bacia do Rio Môa, o Rio Juruá-Mirim e o Rio Paraná dos Mouras, todos eles afluentes do Rio Juruá, e isso afeta não só a oferta de água, mas também as populações ribeirinhas que habitam às margens desses rios” criticou.
Ele garantiu ainda que a suspensão dá tempo para que, caso volte a ser aprovada a contratação, seja discutido e elaborado um projeto de construção com um modelo de estrada que tem que ser adotado.
Em novembro de 2019, foi dado início ao trabalho com a abertura de uma trilha de cerca de 90 quilômetros até o município peruano de Puccalpa. Na época, segundo informou a Secretaria de Infraestrutura e do Desenvolvimento Urbano (Seinfra), a ação era de abertura da trilha e levantamento topográfico no trecho que vai desde o final do Ramal do Feijão Insosso, em Mâncio Lima, até o Rio Azul.
Em outubro, uma audiência pública feita pela Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), no Teatro dos Náuas, em Cruzeiro do Sul, no interior do estado, colocou em discussão mais uma vez a construção da estrada que liga o Acre ao Peru, pelo Parque Nacional da Serra do Divisor, no Vale do Juruá.
Seinfra começou a abrir a trilha de Mâncio Lima até o município peruano de Puccalpa — Foto: Divulgação/Secom
O encontro que foi proposto pelo deputado estadual Roberto Duarte (MDB) e contou com a participação de deputados federais, estaduais, representante do Ministério Público Estadual (MP-AC), líderes ambientais, indígenas, professores, vereadores e comerciantes da região.
Representando seu povo que fica próximo à Serra do Divisor, Maria Valdenice Nukini disse que os indígenas são contra a obra.
“Vai mudar nosso modo de vida, vai haver poluição, tanto no ar, no solo e na água. Vai mudar nosso modo de viver, vai destruir algo que protegemos há anos”, afirmou.
Além da audiência pública e do início da abertura da estrada, também tramita na Câmara dos deputados o projeto de lei 6.024, apresentado pela deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC), que tira a proteção integral da Serra do Divisor.
Atualmente, o projeto tramita na Câmara dos Deputados e está guardando parecer do relator na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra).
O PL é de autoria do senador Márcio Bittar (MDB-AC) e foi apresentado pela deputada federal Mara Rocha (PSDB) em novembro de 2019. Ele ficou parado durante todo o ano de 2020 e os três primeiros meses de 2021. Até que no último dia 31 de março foi designado relator e ele foi retomado.