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Ex-funcionário diz que Extra reembala carne vencida para venda no litoral de SP

O g1 teve acesso a vídeos que mostram a suposta prática do mercado. O Extra informou, em nota, que repudia e proíbe qualquer prática que contrarie as normas e procedimentos relativos à qualidade e segurança alimentar.


Ex-funcionário mostra carnes sendo embaladas com data de validade vencida
Um ex-funcionário do Mercado Extra em Mongaguá, no litoral de São Paulo, afirmou ao g1 que o estabelecimento reembala e recoloca à venda carnes, frios e embutidos com a validade vencida. Nas imagens, gravadas em 11 de março, o profissional mostra produtos vencidos sendo retirados da embalagem original, colocados em uma nova embalagem e passando pelo processo de vácuo para, em seguida, receber uma nova etiqueta e retornar à venda (veja o vídeo acima).
Caso similar já havia sido denunciado há alguns dias no supermercado Extra do bairro Cambuci, na Zona Sul da capital paulista, também por meio de um ex-funcionário.
O Extra abriu investigação interna e informou que repudia e proíbe qualquer prática que contrarie as normas e procedimentos relativos à qualidade e segurança alimentar (leia mais abaixo).
Em nota, o Departamento de Vigilância Sanitária de Mongaguá afirmou que não recebeu denúncia sobre o caso, mas que encaminhará técnicos ao local para averiguar a situação .
O profissional, que preferiu não se identificar, disse que trabalhou durante dois anos na unidade e foi demitido em outubro deste ano. “Desde que entrei o procedimento é esse, reembalar produtos vencidos, lavar a carne e linguiça vencida para ser consumido”.
Ele ressaltou que isso chegou a prejudicar até a saúde dele. “Sempre fui contra esses procedimentos deles, mas tem situações em que você fala não e eles te dão advertências e, na situação em que nós estamos de emprego, a gente acaba acatando até o momento em que não aguentei mais”.

Carnes estavam com a validade vencida em supermercado em Mongaguá, no litoral paulista — Foto: Reprodução
De acordo com o ex-funcionário, os produtos são lavados em água corrente. “Por que eles não descartam? Cada chefe tem um percentual de descarte que eles têm que cumprir, eles fazem de tudo para não descartar e não ser cobrado. Cada setor tem o seu macete para não descartar produto, essa que é a real”.
Ele disse que as carnes são lavadas até perderem o odor. “Quando a carne vem pronta, principalmente, a vácuo, a partir do momento que você abre a [embalagem] a maturação é muito rápida porque tem produtos dentro dessas embalagens que mantém o alimento sem estragar. Só que quando você corta esse saco, perde o conservante e a carne, linguiça, qualquer produto ao pegar contato com o ar, matura muito rápido, então como o Extra precisa vender, se não vende a tempo, eles pegam essa carne que já está vencida e faz a bandeja”, explicou.

Linguiça sendo lavado em cuba no Extra de Mongaguá, no litoral de São Paulo, após prazo de validade vencido. — Foto: g1 Santos
O estabelecimento realiza um procedimento, chamado pique, que é o descarte de alimento vencido, de acordo com ele. “Todo departamento é obrigado a fazer o pique do dia. Cada setor tem o seu local apropriado de descarte, mas eles têm um controle e uma média do que pode descartar ou não. Só descarta aquilo que não tem como manipular, um iogurte não tem como pegar e alterar a data. Outros produtos que você consegue manipular a data são reaproveitados até perceber que não dá pra reutilizar”.
“As pessoas precisam saber os seus direitos. As pessoas têm que saber chegar no açougueiro e falar que ele não quer aquela carne, que quer que ele abra uma nova, mesma coisa com os laticínios, é um direito do cidadão. É onde mercados pequenos e grandes mercados se aproveitam para vender produto vencidos”, reforçou.
Ainda de acordo com o ex-funcionário, ele está com um processo contra o Extra, mas que não envolve as denúncias apresentadas nesta reportagem. Trata-se de questões trabalhistas envolvendo insalubridade, danos morais e horas extras que não foram pagos na rescisão.
Em outras imagens obtidas pelo g1, o ex-funcionário mostra linguiças em uma cuba junto à um pedaço de metal enferrujado, uma esponja e um pano. Segundo ele, o embutido estava ali para ser lavado e reembalado para ser vendido aos clientes.
Em nota, o Departamento de Vigilância Sanitária de Mongaguá afirmou que não recebeu denúncia sobre o caso, mas que encaminhará técnicos ao local para averiguar a situação.
O que diz a Lei
Ao g1, o advogado Fabrício Sicchierolli Posocco explicou que todo consumidor tem o direito básico a informação e como o produto foi acondicionado. “A identificação do conteúdo deve ser estampada na embalagem de forma clara e fácil linguagem. Essas informações precisam ter a data de fabricação, validade, modo de usar e até mesmo a composição”.
Segundo Posocco, em relação aos produtos fracionados, por exemplo, queijo, salame e carne, eles têm que conter na etiqueta, obrigatoriamente, a data em foram cortados, a marca, o prazo de validade e o responsável pelo fracionamento. “Tudo isso tem que estar bem claro. Muitas vezes as pessoas acabam fazendo um pouco de confusão. Você abre a embalagem original e a partir do momento que abriu ele vai perder o prazo de validade que foi informado pelo fabricante”.
Ele explicou que o correto é o estabelecimento fatiar o produto na frente do consumidor e replicar a nova etiqueta de validade no momento exato do corte. “É importante que o consumidor veja onde o produto está sendo partido. Tem que conferir a higiene do ambiente, verificar o lote do fabricante e todas as demais informações que só a peça inteira tem em detalhe. Esses direitos estão assegurados efetivamente no artigo 8º do Código de Defesa do Consumidor”.

Linguiça vencida dentro de cuba em processo de lavagem antes de ser recolocada à venda. — Foto: g1 Santos
Posicionamento
Em nota, o Extra informou que a rede repudia e proíbe qualquer prática que contrarie as normas e procedimentos relativos à qualidade e segurança alimentar previstos nas políticas da companhia e recomendadas pelos órgãos competentes.
Ainda de acordo com o Extra, um processo de investigação interno foi aberto para apurar a informação relatada e tomar as providências necessárias.
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