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Concurso de beleza em cadeia no Rio tem condenada por tráfico de drogas eleita ‘miss’

Vestido rendado vermelho e sandália alta da mesma cor, cabelo com luzes feitas e maquiagem caprichada. Com a produção, Talita Gomes Pereira, de 28 anos, foi a primeira colocada em um tradicional concurso de beleza realizado na penitenciária Talavera Bruce, em Gericinó, Zona Oeste do Rio. Presa há cinco anos e condenada por crimes como tráfico de drogas e associação para o tráfico, a jovem disputou o título na manhã desta quinta-feira com outras nove detentas, todas encarceradas na mesma unidade prisional.
Essa já é a 15ª edição do Garota Talavera Bruce, que acontece uma vez por ano, mas em 2020 não foi realizado por causa da pandemia da Covid-19. Na disputa, além de beleza, também são avaliados os quesitos desenvoltura e simpatia. Os preparativos para o concurso começam de manhã cedo com penteados e maquiagem. Por um dia, as presas deixam de lado os uniformes usados na cadeia – blusa branca ou verde e short ou calça azul – e vestem dois “looks”: primeiro, “moda praia” e depois, de gala.
Presa desde outubro de 2016 acusada de fazer parte de uma quadrilha de traficantes de Resende, interior do Rio, Talita conta que decidiu se inscrever no concurso para receber visita da mãe. As participantes têm direito a convidar os familiares sem que eles precisem passar pelo procedimento de se cadastrar como visitante e tirar carteirinha. Essa é a motivação da grande maioria das mulheres que resolvem participar da disputa. Mas a vencedora conta que também queria fugir da rotina do encarceramento e resgatar um pouco de sua autoestima.
– É uma chance de termos um dia de beleza, fazer algo diferente. Aqui, tento me cuidar, mas há muitas restrições. Por isso esse dia é tão importante para nós mulheres. Pela primeira vez desde que fui presa, me olhei no espelho e me senti linda de novo – conta Talita, que aclamada pelas outras detentas, recebeu a faixa de Miss Talavera Bruce das mãos do secretário de Administração Penitenciária, Fernando Veloso.
Apesar da mãe da campeã não ter conseguido comparecer, a jovem emocionou-se com o prêmio. Além da faixa de “miss”, ela ganhou um ventilador.
– Esse dia vai ficar marcado para sempre em minha memória. Foi um marco para mim, nesse tempo que estou aqui presa.

Tayonara (esquerda), Talita (meio) e Janaína após a premiação Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo
Segunda colocada no concurso, Tayonara Pereira, de 26 anos, considera que seu troféu na manhã desta quinta-feira foi outro: ela se emocionou quando a bateria da Portela chegou para se apresentar no evento. Cria do bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, a detenta conta que tem enorme ligação com a escola. Condenada a mais de 30 anos de prisão por cinco diferentes roubos, ela também se inscreveu no concurso para ver as filhas, de 7, 8 e dez anos, mas as meninas não apareceram.
– Acredito que minhas irmãs não tenham conseguido trazê-las. Não vejo minhas filhas desde que fui presa, há seis anos. Tinha ficado triste por elas não terem vindo, mas quando vi a Portela chegando, era como se minha família estivesse aqui. Foi muito especial.
A professora de zumba Janaína Silva Lima, de 37 anos, condenada por ter matado o padrasto do marido, foi a terceira colocada no concurso. Presa há dois anos, ela alega que cometeu o crime para proteger o marido, que tinha sido atacado pela vítima. Janaína foi condenada a 16 anos de prisão e foi capturada ao comparecer em um posto do Detran para renovar a carteira de habilitação.
– Eu acho legal participar desse concurso para termos um dia diferente aqui dentro. Mas também acho importante mostrar a minha história porque eu tinha minha vida lá fora, foi uma fatalidade que aconteceu. Matei para proteger meu marido. E infelizmente isso pode acontecer com qualquer um – afirma.

As dez concorrentes com o traje de verão Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo
Para acontecer, o concurso conta com o apoio de lideranças religiosas e voluntários, que ajudam com a preparação das presas com maquiagem e cabelos, além de emprestarem as roupas que serão usadas.
Dona da marca A cara da Nega, Renata Castro fornece as roupas do desfile “moda praia” há três anos. A empresária faz questão de estar presente a ajudar porque já esteve atrás das grades há 20 anos. Após ter saído da cadeia, ela conseguiu reconstruir a vida e fundou a marca.
Eu faço questão de participar para mostrar para elas que há vida depois que elas saírem daqui. É preciso mostrar que há sim como reconstruir a vida depois que ganhamos liberdade – conta Renata.
O secretário Fernando Veloso também destacou a importância do evento para a ressocialização das presas.
– (Esse evento) é importante para que a sociedade lembre que quem está aqui dentro são pessoas. Ninguém pode se esquecer disso. A Justiça determinou que essas mulheres fiquem presas, mas temos que garantir que elas saiam melhores. As pessoas que estão aqui dentro voltarão para a sociedade um dia.
O secretário participou da banca de avaliação das candidatas, junto com subsecretários e diretores de unidades prisionais.


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