O ensino público brasileiro em 2021 teve queda de matrículas na educação infantil e na de jovens e adultos, mas viu o aumento de alunos no ensino médio e no ensino integral. Os dados são do Censo Escolar da Educação Básica 2021, divulgado nesta terça-feira (21) no “Diário Oficial da União” pelo Ministério da Educação.
Ao todo, houve neste ano 36.401.378 matrículas na educação básica pública, que vai da creche ao ensino médio, incluindo a educação de jovens e adultos. O número representa um aumento de 0,15% em relação ao ano passado.
Já o número de matrículas totais da educação especial aumentou 4,22% neste ano, com 1.143.717 alunos inscritos na educação básica na rede pública. Este ano teve mais de 46 mil alunos matriculados em relação a 2020. As únicas áreas que tiveram queda foram o ensino fundamental 1 (1º a 5º ano) e ensino fundamental do EJA.
O dados sobre matrículas são importantes para a distribuição de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e para a execução de programas na área da educação.
Destaques do levantamento
- Queda de 101.893 alunos na educação infantil (-1,59%) , que compreende creche e pré-escola;
- Queda de 43.754 alunos da educação de jovens e adultos (EJA) dos ensinos fundamental e médio (-1,8%);
- Aumento de 189.706 alunos no ensino médio (3%);
- Leve aumento de 11.712 alunos no ensino fundamental (0,06%);
- Troca do ensino parcial pelo integral. Enquanto mais de 438 mil alunos deixaram o ensino parcial, mais de 530 mil ingressaram no integral.
Os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio são considerados as etapas mais problemáticas nas avaliações de ensino e aprendizagem.
Uma das estratégias para combater o déficit de aprendizagem é expandir o ensino para o período integral, uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Escolas estaduais e municipais aumentaram consideravelmente a oferta desse tipo de ensino e o reflexo é visto nessa transição do censo, com a entrada de meio milhão de alunos para a modalidade.
Os maiores aumentos foram registrados nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º), com mais de 270 mil matrículas, e no ensino médio, com aumento de quase 200 mil matrículas.
Pandemia e da mudança demográfica
Para Claudia Costin, diretora Geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, os números refletem mudanças na estrutura da sociedade, o medo dos pais em relação ao coronavírus e os impactos da crise econômica associada à pandemia.
Em relação à diminuição de alunos do ensino infantil, ela vê a raiz em duas questões. “Estamos vivendo uma transição demográfica, as famílias têm menos crianças pequenas. Durante um tempo, isso não impactou as creches dada à insuficiência da oferta”, explica.
Para além disso, a diretora vê um medo dos pais em relação ao contágio nas escolas associado à ideia de que essas crianças podem demorar mais para entrar na escola. Para ela, essa decisão vai impactar o desenvolvimento das crianças.
“Os pais estão assustados. Eles lidam melhor com com retardar a entrada em creches e na pré-escola do que no ensino fundamental. O que é uma pena, porque a educação infantil tem um papel importante pro desenvolvimento, socialização. Muitas crianças no isolamento retardaram a fala, não temos mais as famílias ampliadas em que as crianças convivem com crianças maiores”, explica.
A queda no EJA também está relacionada com a pandemia, segundo Costin, porque esses alunos foram muito impactados pela diminuição da renda e dos empregos.
Já o aumento de matrículas do ensino médio e a transição do ensino parcial para o integral são resultados de políticas de educação. Segundo a diretora, o ensino médio vivia uma tendência histórica de aumento.
“É um número para ser celebrado. Durante um certo tempo, dada à repetência, o ensino ficou inchado porque os jovens de 15 a 17 anos ficavam retidos no fundamental. Agora, vem aumentando o percentual de jovens dessa idade que estão matriculados no ensino médio”, explica.
Fonte: G1