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AIDS: Mesmo com todos os avanços, doença ainda tem preconceito na capital

Eu fiquei na beira da BR olhando os carros passar e pensando sobre a decisão que estava tomando. Liguei pra minha mãe, contei o que iria fazer, e ela com muita tranquilidade, delicadeza e emoção me convenceu a lutar pela sobrevivência”. Misturando emoção e uma disposição incrível em aproveitar cada segundo da vida, o jovem Huan, de 24 anos, fez esse relato.

Huan e sua mãe Elza Rodrigues | Foto: Arquivo pessoal


No local, ele foi encaminhado para uma clínica onde fez nova coleta de sangue e veio a confirmação de que estava com HIV. “Um médico, uma psicóloga e um assistente social me deram o diagnóstico e minha reação foi começar a rir. Aquilo não podia ser verdade. Tanto é que não entrei em pânico. Eu acho que o riso foi uma maneira de não chorar e “passar vergonha” na frente dos profissionais de saúde”, explica Huan.
Ele conta que tinha conhecimento sobre a doença, sua ação no corpo e o que ela representava. Após passar o impacto da notícia, ele recebeu remédio para três meses e foi embora. Huan morava em Vilhena e ligou para a mãe em Colorado do Oeste avisando que seu exame de HIV tinha dado positivo. “Ela pediu pra eu ficar tranquilo, disse que me amava e que iria me ajudar no tratamento”, explica.

Huan com sua medicação diária


O jovem relata que os primeiros seis meses de tratamento foram como se ele estivesse em transe. Tomava o remédio corretamente, mas a cabeça não concatenava as coisas. Tudo que fazia era “meio no automático”, a doença dominava os pensamentos e não havia interesse por qualquer coisa que fosse.
O estado hipnótico só terminou quando seis meses depois de começar a tomar remédio, ele fez novos exames para uma avaliação do organismo diante do tratamento e os resultados apontaram que o CD4 estava perfeito. A sigla se refere a carga viral e o resultado mostrou que o CD4 havia se tornado indetectável. Ou seja, ele permanecia com o vírus, mas a quantidade de toxina existente não era suficiente para contaminar outra pessoa.

Huan maquiado em peça teatral


A informação deu um alento ao jovem, mas ele continuo escondendo a doença. Somente a mãe e as avós sabiam, nem os três irmãos tinham conhecimento do HIV. Somente após cinco anos, Huan diz que percebeu que não havia necessidade de esconder nada e sim começar a compartilhar o que houve para mostrar que estar com Aids não é o fim da vida.

Com ânimo e muita coragem, o rapaz passou a participar de campanhas educativas e contar sua história em redes sociais. “ Eu consegui ver que o medo de se informar sobre o assunto é o que apavora as pessoas. A doença existe, ainda está por aí, mas também existe tratamento eficiente. Não existe cura ainda, mas as pessoas com HIV podem levar uma vida normal, digna, seguindo exatamente os tratamentos prescritos”, explica o jovem.
Medo
Huan diz que a pandemia foi algo que lhe apavorou tanto quanto o HIV. Ele explica que ficou mal psicologicamente por ser do grupo de risco e ter que ser obrigado a ficar recolhido em casa. Ele já tomou três doses de vacina contra o Covid-19 e segue trabalhando seguindo todos os protocolos recomendados.
Sempre sorridente, Huan encheu os olhos de lágrimas ao contar sobre a perda de um amigo que descobriu o HIV na mesma época que ele. O jovem fazia o tratamento corretamente, mas não resistiu após contrair uma pneumonia. “Era um guerreiro que nunca se abalou, nunca baixou a cabeça”, lamenta mordendo os lábios.
Sobre a Aids, o rapaz enfatiza que o Sistema Único de Saúde (SUS) fornece dois medicamentos importantes no tratamento da doença. O Prep e o Pep. O primeiro impede a contaminação pelo vírus e o segundo é para pós-exposição de risco. Uma vítima de abuso sexual, por exemplo, toma o remédio por 29 dias para não desenvolver a doença em caso de contaminação.

Relacionamento
Huan conta que na vida pessoal procura se manter reservado, mas não esconde nada quando surge a possibilidade de um romance. Disse que 1 ano e meio após descobrir a doença conheceu uma pessoa, contou sobre sua situação de saúde, o companheiro entendeu e começaram a namorar. A relação, segundo Huan, durou 4 anos.
Ele afirma que o HIV fez acreditar mais em si e resolveu enfrentar desafios e viver tudo que a vida lhe oferece. Garante já ter realizado vários sonhos como ter participado de peça teatral, figurações em novelas e também de um episódio de Malhação, da TV Globo.

Turma do elenco de apoio da novela Malhação da TV Globo | Foto: Arquivo pessoal


Embora venha levando uma vida com muita garra e otimismo, seu único desânimo está relacionado ao preconceito. Muita gente ainda muda o comportamento e o trato ao saber que ele tem HIV. “Vou participar sempre de tudo quanto é evento voltado ao tratamento da doença e lutar para que haja uma mudança na sociedade em relação aos soros positivo. Sou uma pessoa normal, obrigada a conviver com uma doença que não tem cura, mas não posso ser tratado com um excluído, um Ser nocivo que não pode estar na sociedade”, finaliza ele com um olhar de incerteza.
A seguir algumas fotos de Huan quando trabalhou nos Estúdios Globo:

Huan e atriz Malu Mader | Foto: Arquivo pessoal


Com a atriz Nicette Bruno | Foto: Arquivo pessoal


Com Gianne Albertone em gravação no Especial Chacrinha da TV Globo | Foto: Arquivo pessoal


Ele em peça teatral | Foto: Arquivo pessoal


Banner de peça de teatro | Foto: Arquivo pessoal


Rotina
Esse outro exemplo que vamos mostrar agora é de uma mulher- vou chamá-la de Ana – que concordou em dar entrevista desde que não fosse identificada. Ela descobriu o HIV em 2011, quando já estava separada. Ana foi fazer um checape e o resultado revelou a doença.
A “surpresa” aconteceu no dia seguinte, quando ela foi buscar os resultados acompanhada do ex-marido, com quem tem uma relação de amizade até hoje. Com o laudo em mãos, Ana entregou para o ex-marido ver. Ele teria levado um susto, achado um absurdo e avisado que no mesmo dia iria fazer teste de HIV.
O homem fez dois exames em locais diferentes e ambos deram negativo. Ana diz que apesar da notícia desestabilizadora, ela não entrou em desespero. Primeira coisa que fez foi começar o tratamento e entrar em contato com duas pessoas com quem namorou após estar solteira. Contou o que havia descoberto. Os ex-namorados também fizeram exame e deram negativo.
Diante dos resultados de HIV negativos, Ana entendeu que não havia pego a doença em relação sexual. Até hoje não sabe como foi contaminada. Na verdade, ela conta que só percebe que tem HIV quando toma a medicação diariamente ou vai ao médico fazer exames de rotina.
Na época da descoberta do HIV, Ana tinha emprego com carteira assinada e levou o resultado para o RH da empresa. Não demorou muito para ela ser demitida e metade dos funcionários ficar sabendo que Ana estava com Aids. A notícia se espalhou rapidamente e até uma manicure deixou de atendê-la.
“Além de eu ter ficado sem chão por conta da doença, algumas pessoas passaram a me tratar como se eu fosse um bicho contagioso. Você não tem ideia do preconceito e da total falta de sensibilidade. Imagina que alguém da empresa chegou a ligar para um ex-namorado falando que eu estava com Adis. Ele não me procurou mais e nem atendeu minhas ligações. Foi uma época que, realmente, você pensa em tomar atitudes drásticas. Só não fiz nada por conta de minha filha e do apoio que recebi da família”, desabafa Ana.
Recomeço
Um ano após descobrir o HIV, Ana decidiu montar um negócio e seguir em frente. O tratamento estava indo tão bem que com apenas dois meses de medicação ela já conseguiu que a doença ficasse indetectável. Ou seja, já não havia quantidade de vírus em seu organismo que pudesse contaminar alguém.
A primeira surpresa de Ana ocorreu com a visita do ex-namorado que a ignorou quando ex-colegas de trabalho dela tomaram a atitude maldosa de ligar pra ele contando sobre a Aids. O homem lhe procurou para pedir perdão pela atitude insensata de não ter pelo menos tirado um tempo para lhe ouvir. Ana perdoou o rapaz e eles acabaram sendo amigos.
Há cinco anos Ana conheceu um homem e começou uma nova relação. Ela contou tudo que houve em sua vida, ele entendeu e aceitou assumi-la junto com o filho. O casal vive uma relação estável, tranquila, sendo que o marido sempre acompanha Ana nos exames e lhe apoia em seu trabalho.
Ana enfatiza que só lembra que tem HIV porque tem que tomar remédio todo dia e fazer exames de rotina. Ela leva uma vida bem tranquila, apoiada pela família e ao lado do marido.
Tratamento e Prevenção
O acesso universal ao tratamento e à prevenção da infecção pelo HIV é garantido aos cidadãos pelo SUS. O tratamento para as Pessoas que Vivem com HIV é composto, basicamente, por 3 medicações que podem ser formuladas em 1 ou mais comprimidos, a depender de cada caso.
Eles estão disponíveis no SUS, nas farmácias do Serviço de Assistência Especializada – SAE. Para a prevenção, 2 esquemas de medicações são disponibilizados pelo SUS, a PREP – Profilaxia Pré-Exposição e a PEP – Profilaxia Pós-Exposição de Risco à Infecção pelo HIV.
A PREP não é para todos, ela é indicada para aquelas pessoas que tenham maior risco de entrar em contato com o HIV. Procure um profissional de saúde e informe-se para saber se você tem indicação para PREP (http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/profilaxia-pre-exposicao-prep). Caso tenha indicação, esse serviço é ofertado aos usuários do SUS no SAE, através de agendamento de consulta médica.
Prevenção de urgência
Já a PEP é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, tais como:
– Violência sexual;
– Relação sexual desprotegida (sem o uso de preservativo), ou com rompimento do preservativo;
– Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes contaminados ou contato direto com material biológico).
Nesses casos, a pessoa deve procurar atendimento médico nas primeiras 24 h, no máximo até 72 h, nas Unidades de Pronto Atendimento da Zona Sul, Leste, Ana Adelaide, José Adelino, Hospital CEMETRON ou SAE.
No caso de violência sexual no sexo feminino, acima de 12 anos e 29 dias, deve ser procurado atendimento na Maternidade Municipal Mãe Esperança/MMME. Já em caso de violência sexual infantil (crianças de 0 a 12 anos e 29 dias) o caminho é o Hospital Infantil Cosme e Damião/HICD. No caso de violência no sexo masculino a indicação é procurar uma UPA.
Além dessas medidas farmacológicas, outras abordagens de prevenção para responder a necessidades específicas de determinados segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do HIV são possíveis, para isso todas as equipes de saúde estão aptas a atender. Os testes rápidos são ofertados a população nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Porto Velho.


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