Nova linhagem apareceu depois que uma pessoa foi infectada simultaneamente com duas versões do Sars-CoV-2.
Um grupo de cientistas do Reino Unido afirma ter encontrado uma nova linhagem do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, que possui a combinação de pedaços de duas variantes e que está em ampla circulação na América do Norte.
“Nós descobrimos uma grande e persistente linhagem recombinante de Sars-CoV-2 na América do Norte e Central. A recombinação como uma fonte de vírus de diversidade genética nova e viável precisa ser levada a sério”, alertou o epidemiologista Oliver Pybus, um dos autores do estudo, no Twitter.
O caso foi relatado por pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, e das Universidades de Oxford e de Cambridge, ambas na Inglaterra, na plataforma medRxiv, em um artigo publicado nesse domingo (21/11). O assunto rapidamente ganhou a atenção dos cientistas na rede social.
Denominada de B.1.628, a nova variante recombinante une pedaços das linhagens B.1.631 e B.1.634, encontradas originalmente nos EUA e no México, em 2021. Ainda não é possível dizer se ela é mais transmissível ou letal do que a Delta, ou se é capaz de driblar a ação das vacinas.
“Agora ela deu as caras. Encontraram a primeira variante persistente (que se espalhou) do novo coronavírus que é uma mistura de outras duas”, disse o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino. “Foi o pedacinho de um vírus com grande parte de outro. E não parece ter resultado em uma variante mais transmissível do que a Delta. Mas é importante acompanhar esse tipo de evento, porque isso poderia combinar um vírus mais transmissível com outro que escape de vacinas.”
“O que realmente preocupa é a transmissão do vírus. Se alguma nova variante passar por cima da Delta, é sinal de que ela ou é mais transmissível ou infecta melhor quem se vacinou. E as duas coisas preocupariam. Sem sinal disso até agora”, continuou Iamarino, em sua conta do Twitter.
Recombinação de variantes
O professor do Instituto de Biologia da UnB especialista em mutações de vírus Bergmann Ribeiro explica que eventos de recombinação entre vírus são muito comuns.
Isso ocorre quando uma pessoa é infectada por dois micro-organismos diferentes que entram em uma mesma célula. Nessa situação, o material genético deles pode ser trocado aos pedaços aleatoriamente.
“Esse tipo de evento, chamado de recombinação homóloga, pode resultar no aumento da variabilidade genética do vírus, com o aumento das chances de produção de novas variantes com potenciais riscos, como a evasão do sistema imune”, explica Ribeiro.