‘Não podemos viver em um mundo sem a Amazônia’, alerta cientista brasileira

Erika Berenguer, ecologista com especialização em Amazônia pelas universidades de Oxford e Lancaster, é uma das principais cientistas que estuda o funcionamento da floresta tropical diante do desequilíbrio causado pelo ser humano.


A AFP pediu a essa brasileira, de 38 anos, que analisasse as últimas pesquisas sobre a Amazônia para explicar o que significa para as pessoas.


– Ultimamente há muitas manchetes sobre desmatamento e destruição na Amazônia. O que a ciência diz sobre a floresta tropical?


– Os resultados são realmente terríveis. Eles estão em linha com as discussões sobre o ‘ponto de inflexão’ (no qual a floresta tropical se tornaria savana). Um estudo constatou que no sudeste da Amazônia, na estação seca, a temperatura aumentou 2,5 graus (nos últimos 40 anos). Isso é verdadeiramente apocalíptico.


Acho que nem os acadêmicos estavam preparados para isso. O Acordo de Paris tenta limitar o aquecimento global a 1,5 graus, e 2,5 graus na Amazônia é enorme.


No Nordeste, houve uma redução de 34% nas chuvas na estação seca.


As implicações de tudo isso são que, se você tiver um clima mais quente e seco, os incêndios simplesmente se espalharão pela selva. E assim você avança neste ciclo de retroalimentação, neste ciclo vicioso de horror.


– Ainda temos tempo de salvar a Amazônia? E se não o fizermos? –


– Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Nunca saberemos qual é o ponto de inflexão até que o superemos, essa é justamente a definição de um ponto de inflexão. Mas diferentes partes da Amazônia estão se movendo em direção a esse ponto em diferentes ritmos.


Se passarmos do ponto de inflexão, é o fim, e não digo isso levianamente. Estamos falando sobre o colapso do lugar de maior biodiversidade do planeta, com milhões e milhões de pessoas se tornando refugiados climáticos. Os padrões de chuva serão alterados em toda a América do Sul.


Sem chuva não teremos hidroeletricidade, então isso significará o colapso da indústria no Brasil e, portanto, o colapso de uma das maiores economias do mundo, uma das maiores fornecedoras de alimentos do mundo. Não podemos viver em um mundo sem a Amazônia.


– Sua foto de perfil do WhatsApp tem a palavra “esperança” escrita em letras grandes. O que a mantém esperançosa sobre a Amazônia?


– Chocolate (risos). Mas, realmente, definitivamente há esperança de mudança. Durante minha vida, vi uma redução de mais de 80% no desmatamento, entre 2004 e 2012. Não foi fácil; coordenação entre várias agências é necessária, mas eles fizeram. Então, por que não podemos ver de novo?


Em nível mundial, existem vários níveis de soluções para todas as pessoas no mundo. Todos têm que reduzir sua pegada de carbono.


Ninguém pode mais viver em uma caverna, devemos pensar profundamente sobre o que podemos fazer. Precisamos também pressionar por transparência sobre os produtos básicos que vêm da Amazônia, saber de onde vem o ouro que compramos, de onde vem a carne que comemos.


Mas o mais importante é que devemos insistir em mudanças estruturais. Precisamos pressionar nossos governos e empresas para reduzir as emissões.


Fonte: Correio Braziliense


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