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Mais mutações e maior risco para reinfecções: entenda por que a ômicron é preocupante

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a nova variante do Sars-CoV-2 como “de preocupação”. Isso significa que a B.11.529 pode estar associada ao aumento da transmissibilidade ou da virulência ou, ainda, reduzir a eficácia das vacinas e dos medicamentos disponíveis. Relatada pela primeira vez na África do Sul na quarta-feira, a agora chamada cepa ômicron apresenta um grande número de mutações, “algumas das quais preocupantes”, segundo uma nota divulgada ontem pela agência das Nações Unidas.


“A evidência preliminar sugere um risco aumentado de reinfecção com essa variante, em comparação com outras cepas. O número de casos dessa variante parece estar aumentando em quase todas as províncias da África do Sul”, relatou a OMS. A agência informou, ainda, que “a variante foi detectada em taxas mais rápidas do que surtos anteriores de infecção, sugerindo que pode ter uma vantagem de crescimento”. Também ontem, a Bélgica se tornou o primeiro país europeu a detectar um caso de infecção. Israel, Hong Kong e Botsuana também têm registros.


Ao mesmo tempo em que países começam a cancelar ou restringir voos procedentes do sul da África, cresce a preocupação da comunidade científica especialmente quanto ao possível grau de resistência às vacinas, algo que ainda precisa ser esclarecido. “Essa é preocupante, e é a primeira vez que afirmo isso desde a delta”, escreveu, no Twitter, o virologista britânico Ravi Gupta.


Do ponto de vista genético, a cepa tem um número de mutações elevado — cerca de 30 delas na proteína spike, a chave de entrada do vírus no organismo. Com base na experiência de variantes anteriores, sabe-se que algumas dessas alterações podem representar aumento na capacidade de transmissão e diminuição na eficiência das vacinas. “Pensando em termos de genética, é certo que há algo muito particular que pode ser preocupante”, disse à agência France-Presse de notícias (AFP) Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris.


Além disso, preocupa o fato de que o número de casos e o percentual atribuído à variante ômicron estão aumentando de forma muito rápida na província sul-africana de Gauteng, que compreende as cidades de Pretória e Joanesburgo, onde foi detectada pela primeira vez. A OMS afirmou ontem que não há, ainda, como responder às dúvidas sobre a cepa porque, segundo a organização, serão necessárias “várias semanas” para compreendê-la melhor. “É preciso ser razoável, continuar monitorando e não alarmar completamente a população”, concorda Vincent Enouf.


Suspense

Os cientistas chegaram a pensar que a próxima cepa preocupante seria o resultado de uma evolução da delta. Contudo, a B.1.1.529 é de uma variante completamente distinta, aumentando o suspense sobre o que se esperar agora. “Pode ser que um grande acontecimento de supercontágio (um único acontecimento que provoca um grande número de casos) relacionado com a B.1.1.529 dê a impressão falsa de que ela pode superar a delta”, opina a especialista britânica Sharon Peacock.


Alguns cientistas pedem o fechamento das fronteiras com os países que detectaram a nova variante o mais rápido possível, como medida de precaução. Outros especialistas consideram o fechamento prejudicial à África do Sul e a Botsuana, outra nação que registrou casos da nova cepa. Temem que isso seja contraproducente e leve outros países a tentarem mascarar o surgimento de novas variantes no futuro.


Impacto em vacinas é avaliado

Ainda não é possível afirmar que a variante ômicron reduzirá a eficiência dos imunizantes disponíveis. “É preciso verificar se os anticorpos produzidos pelas vacinas atuais continuam funcionando, até que nível e se impedem os casos graves”, explicou Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris. Para isso, estão sendo realizados testes em laboratório e com base nos dados reais nos países em que circula a nova cepa.


O laboratório alemão BioNTech, que desenvolveu um dos imunizantes atuais em parceria com a Pfizer, espera os primeiros resultados, “o mais tardar dentro de duas semanas”, relacionados à variante, disse um porta-voz à agência France-Presse de notícias (AFP). A empresa farmacêutica americana Moderna, por sua vez, anunciou que “está agindo o mais rápido possível” para desenvolver uma vacina de reforço contra a variante.Também serão feitos testes com a AstraZeneca.


“É urgente adaptar as vacinas de RNA mensageiro e as doses de reforço às variantes em circulação”, assinalou, no Twitter, o virologista francês Etienne Decroly. Apesar de tudo, a vacinação continua sendo essencial. Nesse sentido, é preciso que os países mais pobres tenham acesso aos imunizantes, insistem os cientistas. “Quanto mais o vírus circular, mais ele vai evoluir e veremos mais mutações”, advertiu Maria Van Kerkhove, uma das responsáveis da Organização da Mundial da Saúde (OMS) pelo enfrentamento da atual crise sanitária.


“Pensando em termos de genética, é certo que há algo muito particular que pode ser preocupante (…) É preciso ser razoável, continuar monitorando e não alarmar completamente a população”
Vincent Enouf, especialista do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris


Fonte: Correio Braziliense
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