Assim que o juiz Timothy Walmsley proferiu o veredicto de “culpado” contra Travis McMichael, um homem branco de 35 anos, Marcus Arbery, pai do corredor negro Ahmaud Arbery, comemorou com um grito a condenação do assassino do filho. Além de Travis, o pai, Gregory, e o vizinho William “Roddie” Bryan foram declarados culpados do homicídio que chocou os EUA e alimentou grandes manifestações antirracistas em 2020.
A decisão dos 12 integrantes do júri — nove homens e três mulheres, sendo 11 brancos e um negro, que deliberaram por mais de 11 horas na Corte de Brunswick (Geórgia) — pode levar os três réus à prisão perpétua. Os promotores do caso não pediram a pena de morte. Walmsley exigiu que Marcus abandonasse o tribunal e pediu respeito pela Corte. Travis, por sua vez, voltou o olhar para a mãe e a irmã, tão logo soube de seu destino. Ao fim do julgamento, Wanda Cooper-Jones, mãe de Ahmaud, desabafou: “Foi uma luta longa e dura. Mas, Deus é bom. Agora, ele pode descansar em paz”.
Travis, Gregory e William usaram uma camionete para perseguir Arbery, 25 anos, quando ele praticava corrida de rua, em 23 de fevereiro de 2020. O homem negro foi baleado duas vezes, no peito, por Travis. Um vídeo com imagens do crime apontou que Arbery estava desarmado, o que pôs por terra a versão dos réus de que agiram em legítima defesa.
Por meio de um comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que o assassinato é “um lembrete devastador de quão longe temos que ir na luta pela justiça racial neste país”. “Meu governo continuará a fazer o duro trabalho para garantir que a igualdade de justiça perante a lei não seja apenas uma frase gravada na pedra acima da Suprema Corte, mas uma realidade para todos os americanos.”
Em entrevista ao Correio, Theawanza Brooks, 37, tia paterna de Ahmaud Arbery, se disse “feliz” pela decisão. “Agora, nós temos um fechamento do caso”, comemorou. De acordo com ela, a morte do sobrinho não foi em vão. “Ele mudou tantas coisas na Geórgia. Por causa dele, a prisão de cidadãos foi abolida, e agora temos uma lei sobre crimes de ódio”, explicou.
Ronald L. Carlson — professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade da Geórgia — avaliou que o veredicto do júri não fez discriminação racial. “Foi um excelente exemplo de justiça não influenciada pela raça ou etnia. Os réus serão sentenciados à prisão perpétua. Em um ou mais casos, sem a possibilidade de liberdade condicional”, explicou à reportagem, por e-mail.
Carlson crê que os jurados endossaram o argumento da promotoria de que a “justiça dos vigilantes” não será tolerada. “Em vez de se armar e perseguir um suspeito, é melhor telefonar para o 911 e deixar a polícia agir.”
Fonte: Correio Braziliense