Desde o início da pandemia do coronavírus e das restrições nas cidades para retardar a transmissão em todo o mundo, alertou-se que o consumo de medicamentos poderia aumentar e prejudicar a saúde das pessoas.
Mas a pandemia também gerou angústia, ansiedade e depressão, que em alguns casos estavam associadas a um aumento no consumo excessivo de álcool. Pesquisadores em hepatologia da Universidade de Michigan descobriram agora que os registros de pessoas que sofrem de hepatite alcoólica que precisaram de transplante de fígado como tratamento têm crescido nos Estados Unidos.
A necessidade de transplantes de fígado devido ao uso pesado de álcool disparou durante a pandemia, relatou um grupo de pesquisadores na revista JAMA Network Open. Eles descobriram que o número de pessoas que se submeteram a um transplante de fígado ou foram colocadas na lista de espera para hepatite alcoólica foi 50% maior do que o esperado com base nas tendências pré-pandemia.
A hepatite alcoólica é uma inflamação do fígado causada pelo consumo de álcool. Este tipo de hepatite é mais provável de ocorrer em pessoas que bebem muito, por muitos anos. No entanto, nem todas essas pessoas desenvolvem hepatite alcoólica, e a doença também pode ocorrer em pessoas que bebem moderadamente.
Na hepatite alcoólica, a inflamação pode destruir células saudáveis, portanto, os pacientes podem precisar de um transplante de fígado para sobreviver.
No novo estudo, pesquisadores compararam o número de novos pacientes que se inscreveram para a lista de transplante de órgãos dos EUA entre março de 2020 e janeiro de 2021 com números projetados baseados em dados anteriores. Eles também examinaram os registros nacionais de vendas mensais de álcool no varejo entre janeiro de 2016 e 2021.
Os resultados sugerem uma correlação entre o aumento do número de pessoas na lista de espera para receber um fígado de doador devido à hepatite alcoólica e ao aumento das vendas de álcool no varejo durante a pandemia.
Entre março de 2020 e janeiro de 2021, os pesquisadores observaram que mais 51.488 pessoas foram colocadas na lista de espera para receber um fígado e que 32.320 transplantes de fígado foram realizados devido à hepatite alcoólica. O número de pessoas que precisaram de um transplante de fígado por qualquer motivo que não fosse a hepatite alcoólica permaneceu quase o mesmo.
“Embora não possamos confirmar a causa, este aumento desproporcional em associação com o aumento das vendas de álcool pode indicar uma relação com aumentos no uso indevido de álcool durante a Covid-19”, escreveram os pesquisadores.
O Dr. Fernando Bessone, professor titular de gastroenterologia e hepatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional do Rosário, na Argentina, disse em entrevista ao Infobae que as pessoas que mudaram seus hábitos de beber durante a pandemia devem procurar ajuda médica ou aconselhamento sobre dependência química.
“O maior impacto ocorreu durante os confinamentos. Além de consumir álcool, houve pessoas que consumiram mais refeições não saudáveis e aumentaram o sedentarismo. Hoje, devemos promover mais ações de políticas públicas para desestimular o consumo de álcool e tabaco, aumentar a atividade física e aumentar o consumo de alimentos saudáveis”, acrescentou Bessone.
Fonte: Jornal Ciência