O vídeo de um homem implorando por comida em uma rua de Brasília chama a atenção nas redes sociais. O registro de apenas dezoito segundos mostra um senhor que se identifica como Marcos pedindo alimentos. “Alguém compra arroz pra nós, alguém compra um leite? É fome, por favor, é fome.”
Carlos Alberto Jr. que registrou a cena, disse que situações assim tem se repetido toda semana na quadra onde mora. “Famílias famintas param embaixo dos blocos e pedem qualquer tipo de ajuda. Eu nunca havia presenciado isso na vida!”
O vídeo publicado nessa terça-feira (3/11) já tem mais de 122 mil visualizações. Nos comentários da postagem, pessoas de outros estados do país relatam situações parecidas.
“Isso também acontece aqui no Rio. Nunca sei dizer se alguém realmente dá alguma coisa. O casal pedia uma bicicleta para ele poder fazer entrega. Quando fui conversar com eles, eu falei que eu não tinha bicicleta e dei um pouco do dinheiro que eu tinha na hora. Dói”, comentou um deles.
“Várias pessoas bateram em meu portão pedindo ajuda. Alguns pra comprar remédios, outros pedem alimentos, vendem balas. Tá muito difícil. Sempre ajudamos de alguma forma”, contou outro.
“Vi isso em João Pessoa numa madrugada meses atrás. Pai desesperado a pedir comida para a família”, disse um terceiro.
Insegurança alimentar
Segundo pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), a pandemia deixou 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar em 2020, o que representa 9% da população brasileira. Esse número é quase o dobro, se comparado à pesquisa do IBGE de 2018, que identificou 10,3 milhões de brasileiros nessa condição.
Além disso, pela primeira vez em 17 anos, o Brasil registrou 116,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar. Assim, mais da metade da população não tem certeza se haverá comida suficiente em casa no dia seguinte, diminuindo a qualidade e a quantidade do consumo de alimentos, ou até passando fome.
O Nordeste foi a região brasileira com o maior número absoluto de pessoas nessa condição. De acordo com o estudo, são quase 7,7 milhões de nordestinos que passam fome, dentro do que se considera grave insegurança alimentar. Já a Região Norte, representa 14,9% das pessoas que não têm o que comer no país.
Os dados mostram ainda que mulheres e negros são a parcela mais atingida pela fome. A falta se alimentos foi registrada em 11,1% dos lares chefiados por mulheres. Quando a pessoa de referência é um homem, a parcela dos que passam fome é de 7,7%. Entre pessoas pretas ou pardas, cerca de 10,7% das casas enfrentam insegurança alimentar grave, contra 7,5% entre os brancos.