Um casal procurou a Delegacia de Flagrantes, em Rio Branco, na quinta-feira (11), para registrar um boletim de ocorrência contra o médico cirurgião Carlos Lino, que atende pacientes do Acre em seu consultório da Bolívia. De acordo com a denúncia, registrada na Polícia Civil, o médico teria assediado sexualmente a dentista de 30 anos que foi até o país vizinho colocar próteses de silicone nos seios.
Já o médico rebate as acusações e diz que está sendo vítima de difamação. Lino alega que é cirurgião há 40 anos e já operou mais de 30 mil pacientes e que não há nenhuma queixa contra ele.
A dentista conta que chegou em Santa Cruz de La Sierra no começo de novembro e no dia 3 teve sua primeira consulta com o cirurgião. Seria a primeira avaliação.
“Ele mandou eu tirar a roupa, ficou passando a mão na minha bunda e perguntou se eu era casada. Eu disse que era casada e tinha um filho e ele disse que eu era o número dele. Ele me puxou para perto do corpo dele e ficou passando o pênis em mim e senti que ele ficou excitado”, conta a mulher.
Segundo ela, o médico continuou a acariciando e a obrigou a colocar a mão nele. “A sala estava trancada, percebi que ele não gosta que a moça acompanhe a gente. Ele colocou o pênis para fora da calça e disse a ele que não queria e ele disse que era pra eu relaxar”, relata.
Os abusos, segundo a paciente, se estenderam ao longo dos sete dias que ficou na Bolívia. Ela, inclusive, fez a cirurgia com ele e relata que os abusos continuaram na troca de curativo. A dentista conta que o médico ofereceu ainda procedimentos estéticos, como aplicação na pálpebra e testa de graça em troca de ter relações com ela. Teria, inclusive, prometido a troca da prótese por uma maior para daqui seis meses.
O boletim foi registrado pelo delegado Alexnaldo Batista, que informou que o caso foi encaminhado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
Ao g1, a delegada da Deam, Elenice Frez, disse que, a princípio, vai colher as declarações da denunciante e fazer os encaminhamentos necessários de imediato.
“Depois vamos analisar com calma sobre o destino. A primeira preocupação da Deam é com o acolhimento e o bem estar da mulher, o segundo é com a preservação da imagem dela.”
A reportagem também pediu posicionamento da assessoria da Polícia Civil, que informou que, por se tratar de uma denúncia fora do país, o caso deve ser repassado à Polícia Federal.
‘Fiquei paralisada, em choque’
Questionada se não pensou em procurar ajuda na Bolívia ou relatar os abusos à polícia do país, ela disse que ficou com medo por estar em um país desconhecido e pela situação. A mulher conta que outras duas pacientes alegaram assédios parecidos, mas se recusam a denunciar. O g1 recebeu alguns áudios de outras mulheres relatando o assédio para a dentista, mas que alegam que não devem denunciar.
O marido da paciente, que é policial militar, percebeu que ela voltou diferente e decidiu questionar a mulher sobre o que teria acontecido. Foi aí que ela decidiu contar tudo. Ela conta que ficou com medo da reação do marido e também com vergonha.
“Eu não estava conseguindo dormir de noite, tava tendo pesadelo, porque a gente vai realizar um sonho e não imagina que pode sofrer isso, de um médico renomado. Comecei a chorar e desabei, tinha que falar pra alguém e estava com vergonha de contar pra ele, porque ele é policial, fiquei com medo da reação dele. Como mulher, fiquei paralisada, em choque. E o remorso de: por que não saí correndo? Por que não chutei? Eu não estou tendo paz mental”, se emociona ao falar.
Caravanas
É comum que mulheres acreanas montem caravanas para ir à Bolívia e fazer algum tipo de cirurgia plástica por ser mais barato e também por ter alguns médicos que são referências, como é o caso de Carlos Lino.
Para isso, algumas pessoas ficam responsáveis por organizar esses trajetos. No caso da dentista, Ocenilza Venancio foi quem fez essa ponte. Ela trabalha com o cirurgião há 10 anos e diz que foi surpreendida com a denúncia.
“O marido dessa paciente me procurou, me pediu alguns dados e não me recusei a passar. Eu tô surpresa, porque foi minha filha que pegou elas no aeroporto, levou e cuidou direitinho. Depois, o marido me informou isso. Faz 10 anos que levo mulheres para fazer procedimentos com ele, mas nunca nenhuma reclamou dele”, garante.
Ocenilza conta que costuma montar caravanas de 3 a 4 mulheres. Lá, elas são recebidas pela filha e ficam em uma residência enquanto se recuperar da cirurgia. O casal conta que, ao todo, gastou cerca de R$ 13 mil.
‘Calúnia e difamação’, diz médico
Ao g1, por telefone, o cirurgião Carlos Lino disse que as denúncia não são verdadeiras e que o casal está tentando difamá-lo. Disse ainda que tem advogados em São Paulo, que já estão cientes da denúncia e que devem entrar com um processo contra a paciente.
Ele alega que tem 40 anos de cirurgia plástica, já atendeu mais de 30 mil pacientes e que não tem nenhuma denúncia desse tipo contra ele.
“Acontece que a cirurgia que ela queria fazer não foi como ela queria, porque tinha um defeito no tórax, expliquei tudo, como que podia ser feita a cirurgia depois. Ela me disse que queria operar as pálpebras, colocar botox, como tenho escrito em uma mensagem dela e falei que não, que só fazia pagando, mas que poderia facilitar o pagamento. Os dias que esteve aqui sempre teve um contato ótimo comigo, sempre na presença de uma pessoa que hospedou ela, nunca ficamos sozinhos, a não ser no hospital e fazendo os curativos”, diz.
O médico diz ainda que até ela viajar de volta para o Acre não falou nada com relação à denúncia com ele.
“Ela me achou um coroa charmoso, cheiroso, me disse que eu devia ter muitas mulheres e eu disse que sim, porque gosto de mulheres, não gosto de homens, mas a acusação dela do jeito que ela disse, jamais eu fiz. Sou homem de modelos manequins, até miss Brasil já foi minha namorada”, disse.
Ele diz ainda que acredita que esteja sendo alvo da denúncia como forma do casal ganhar dinheiro. “Ela que me assediou, dizendo que sou um coroa enxuto e cheiroso. Tenho mensagens que não mostrar para não prejudicar mais esse casamento.”
O médico finaliza dizendo que tem influência no país boliviano e que deve acionar o Itamaraty.
“Tenho sobrinhos senadores da República e deputados, eles vão entrar em contato com o Itamaraty para processar marido e paciente por extorsão e tentativa de chantagem”, finaliza.
Fonte: G1 Acre