Estudo avaliou impacto do aumento da temperatura na saúde da população da Amazônia, que pode virar uma savana se nada for feito para combater o desmatamento.
Calor extremo causando altas taxas de estresse térmico, redução do desempenho físico e psicológico das pessoas e, consequentemente, a morte, pode ser o futuro da população do Amapá, devido ao desmatamento e às mudanças climáticas na região amazônica.
É o que indica um estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). O grupo avalia que mais de 12 milhões de nortistas, inclusive amapaenses, estão sob risco de morte por calor até 2100.
- Confira a pesquisa na íntegra
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Conforme o estudo, o cenário não é reversível, mas o futuro de altas temperaturas pode ser freado a partir de boas práticas com o meio ambiente.
Desmatamento e queimadas na Amazônia aumentaram intensamente nos últimos anos — Durante a pesquisa, foi substituída a condição natural que é vivida atualmente na região por modelos do tipo savana. De acordo a pesquisadora Beatriz Oliveira, a hipótese é que a floresta pode ser devastada ao ponto de trocar a atual biodiversidade por uma com vegetação predominantemente de plantas rasteiras.
“Existe uma hipótese de que, se a gente desmatar até chegar ao ponto em que a floresta não vai ter mais resiliência, ela vai lentamente se transformar numa savana, num pior cenário possível. A gente olhou esse efeito do aquecimento global com essa savanização. Com isso, o estresse por calor devido ao clima vai ser potencializado”, detalhou a pesquisadora.
Essas mudanças influenciam diretamente nas condições de sombra, umidade e vento, que por sua vez, alteram a sensação térmica e influenciam na saúde da população.
De acordo com a pesquisa, de todos os 16 municípios do Amapá que já possuem riscos causados pelas altas temperaturas, 10 podem chegar ao calor extremo.
Vitória do Jari foi listado como o mais afetado, além de Santana, Mazagão, Pedra Branca do Amapari, Serra do Navio, Ferreira Gomes, Itaubal, Laranjal do Jari, Macapá e Porto Grande.
Entre os municípios, três terão aumento de temperatura de menos de 1 grau e 13 com mais de um grau. Destes, 10 sofrerão um aumento acima de 2,5 graus. O resultado não considera que a população dos municípios deve aumentar nos próximos anos.
Sol em Macapá — Foto: Jorge Júnior/Rede Amazônica
Nesse modelo futuro, seria necessário uma adaptação da realidade da região para que, mesmo em condições críticas, todos pudessem viver com saúde.
Entre as possibilidades estão uma melhor estrutura urbana, boas condições de trabalho, acesso a planos de saúde, boa condição financeira para manter ambientes climatizados, entre outros.
Mas o que torna a situação dos municípios amapaense ainda mais crítica é a vulnerabilidade social e as condições de trabalho verificadas na região.
“Para o Amapá, a gente já tem essa situação crítica. As projeções já mostram um aumento do estresse por calor em toda a Amazônia só que pode aumentar com a savanização. Então a gente olhou para os municípios e para a capacidade nas questões de saúde”, disse Beatriz.
Danos pode impactar inicialmente a agricultura no Amapá —