“Terroristas não têm lugar em nenhuma religião”, diz moradora de cidade que sofreu ataque arco e flecha

Espen Bråthen (acima), 37, matou cinco pessoas em Kongsberg: ataque começou no mercado Coop Extra (D) - (crédito: Terje Pedersen/AFP)

Os vídeos foram gravados em 2017 e traziam a mesma mensagem, em inglês e em norueguês. “Olá, eu sou um mensageiro. Venho com uma advertência. Isso é que você realmente quer? Para todos os querem se compensar. É hora. Testifique que sou um muçulmano”, afirma Espen Andersen Bråthen nas imagens. O dinamarquês de 37 anos, morador de Kongsberg, a 80km a sudoeste de Oslo, utilizou um arco e flecha para matar cinco pessoas e ferir dois, no fim da tarde de quarta-feira. A polícia da Noruega trata o incidente como “ato terrorista” e confirma que Bråthen se converteu ao islã. As autoridades chegaram a monitorar o autor dos assassinatos, por temer sua radicalização. Até o fechamento desta edição, não se sabia se ele cometeu o atentado a mando ou sob inspiração de algum grupo terrorista.


O ataque teve início no supermercado Coop Extra, na região oeste de Kongsberg, cidade pacata de 25 mil habitantes. Linda Ostergaard, 42 anos, contou ao Correio que passava na frente do estabelecimento comercial, acompanhada das duas filhas, de 10 e de 11 anos. “Nós estávamos a uns 10m ou 15m das portas do Coop Extra quando a primeira viatura da polícia chegou ao local. Não vimos o homem com o arco e flecha. Os policiais entraram correndo no mercado, de armas em punho. Na Noruega, a polícia normalmente anda desarmada. Eles gritavam: ‘Polícia armada! Largue ar arma!’”, relatou. A reação imediata dela foi a de proteger as filhas. “Até aquele momento, a matança não tinha começado”, disse.


Linda revelou que, apesar de nunca ter visto Bråthen, foi alertada sobre o homem. “Eu escutei que ele era uma pessoa instável. Recomendaram que eu mantivesse distância dele caso o visse”, comentou. A polícia recebeu a primeira chamada de emergência às 18h12 (13h12 em Brasília). Seis minutos depois, os agentes chegaram ao Coop Extra e mantiveram o primeiro contato com Bråthen. O suspeito atirou flechas contra os policiais, deixando um deles ferido. Depois, fugiu e começou a disparar contra civis. O ataque durou 35 minutos. Às 18h35, o autor foi preso depois de matar quatro mulheres e um homem, de idades entre 50 e 70 anos.


As autoridades de Kongsberg identificaram a primeira vítima: a artista de cerâmica Hanne Englund, de cerca de 50 anos. No Facebook, a última publicação dela data da madrugada de 5 de outubro, oito dias antes da tragédia que lhe tirou a vida. Ela postou a foto do gato acompanhada do texto: “Pensei em ir para a cama cedo. Vou perguntar a ele se tenho a permissão”. Um juiz decidirá, hoje, se acata o pedido de prisão provisória do suspeito. A procuradoria da polícia afirmou que ele está sendo submetido a exames psiquiátricos, os quais devem durar meses.


De acordo com a imprensa norueguesa, Bråthen foi alvo de duas condenações no passado: a proibição, no ano passado, de visitar dois familiares depois que ameaçou matar um deles; e outra por roubo e compra de haxixe, em 2012. Uma nação geralmente pacífica, a Noruega convive com as lembranças do pior atentado de sua história. Em 22 de julho de 2011, Anders Behring Breivik, um extremista de direita, matou 77 pessoas ao detonar uma bomba no centro de Oslo e ao fuzilar jovens em um acampamento do Partido Trabalhista norueguês, na Iha de Utøya, perto da capital.


» Eu acho…

“Kongsberg é uma cidade pequena, onde todos se conhecem. Nunca imaginávamos que isso poderia acontecer aqui. As pessoas estão preocupadas, tristes e em choque. Ainda estamos processando toda essa tragédia. Se foi terrorismo islâmico ou o seja lá o que for… Terroristas não têm lugar em nenhuma religião.” Linda Ostergaard, 42 anos, moradora de Kongsberg.


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