Autoridades da União Europeia e dos Estados Unidos se reúnem, nesta terça-feira (12) no Catar, com líderes do Talibã, que continuam seus esforços diplomáticos para obter apoio internacional.
Após tomar o poder no Afeganistão em agosto, o novo regime radical islâmico não foi reconhecido por nenhum país.
Diante da paralisia da economia e da iminência de uma grave crise humanitária no país – totalmente dependente da ajuda internacional após vinte anos de guerra – os talibãs se esforçam para romper o isolamento diplomático.
Os representantes americanos e europeus começaram a reunião com os delegados do Talibã esta manhã, de acordo com um fotógrafo da AFP. Este é o primeiro encontro do tipo desde a tomada de Cabul.
Depois de uma reunião com representantes americanos no fim de semana em Doha, Amir Khan Muttaqi, ministro em exercício do Talibã para as Relações Exteriores, anunciou na segunda-feira uma reunião no dia seguinte com “representantes da UE”.
“Queremos ter uma relação positiva com todo o mundo. Acreditamos em relações internacionais equilibradas. Acreditamos que essas relações equilibradas podem salvar o Afeganistão da instabilidade”, acrescentou em uma coletiva de imprensa.
Um bilhão de euros em ajuda
A reunião de Doha também conta com representantes dos Estados Unidos, segundo a porta-voz da UE, Nabila Massrali.
De acordo com Massrali, essas negociações devem “permitir que os Estados Unidos e os europeus discutam questões” como a liberdade de movimento de pessoas que desejam deixar o Afeganistão, o acesso à ajuda humanitária e os direitos das mulheres.
Na segunda, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, denunciou as promessas não cumpridas do Talibã em relação às mulheres e meninas.
Ele exortou os fundamentalistas a “cumprir suas obrigações de acordo com os direitos humanos internacionais e o direito humanitário”.
Outro assunto a ser abordado, de acordo com a representante europeia, é como evitar que o Afeganistão se torne um santuário para grupos “terroristas”.
Um ataque suicida reivindicado pelo Estado Islâmico (EI) na sexta-feira deixou mais de 60 mortos no nordeste do país, o mais mortal desde a saída das tropas americanas do país, em 30 de agosto.
“Este é um encontro informal, técnico. Não constitui um reconhecimento do ‘governo interino'”, insistiu Massrali.
A UE procura, acima de tudo, evitar um “colapso” do Afeganistão, de acordo com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Neste sentido, o bloco europeu anunciou o desbloqueio de um bilhão de euros (1,2 bilhão de dólares) para um programa de ajuda ao país, a fim de “evitar um grande colapso humanitário e socioeconômico”, segundo sua chefe, Ursula von der Leyen.
O dinheiro, prometido em uma cúpula virtual do G20, soma 250 milhões de euros a 300 milhões de euros que a UE havia anunciou anteriormente para necessidades humanitárias urgentes, com o restante indo para os países vizinhos do Afeganistão que recebem afegãos que fogem do regime talibã.
No sábado, em Doha, os talibãs se reuniram com autoridades americanas nas primeiras conversas diretas com Washington desde que assumiu o poder.
Seu ministro das Relações Exteriores pediu aos Estados Unidos que estabeleçam “boas relações” e não “enfraqueçam o atual governo”.
Depois de sediar negociações entre o Talibã e os Estados Unidos por anos, o Catar continua a desempenhar um papel mediador essencial entre o movimento islâmico e as chancelarias ocidentais.
Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em 2001 e derrubaram o regime talibã em resposta aos ataques de 11 de setembro planejados pela Al-Qaeda a partir do território afegão.
As tropas americanas retiraram-se do país no final de agosto, após um acordo com os islamitas. A tomada do poder pelo Talibã levou à retirada do Afeganistão de mais de 100 mil pessoas que temiam abusos ou atos de vingança por parte dos novos senhores do país.
E as partidas continuam. A Espanha organiza um segundo voo de evacuação nesta terça. Ontem, 84 pessoas foram retiradas do Paquistão para uma base em Madri.