A queda nos serviços do Facebook, do Instagram e do Whatsapp, ontem, provocou problemas a usuários em diversas partes do mundo. Os aplicativos apresentaram instabilidade por cerca de oito horas, o que foi suficiente para mostrar a dependência do público dos serviços e para causar um prejuízo de quase US$ 6 bilhões ao CEO das três empresas, Mark Zuckerberg.
Os aplicativos começaram a voltar ao ar por volta das 19h, mas o serviço só foi totalmente normalizado às 20h. Até o fechamento deste texto, o Facebook não havia esclarecido qual foi o motivo da queda das redes sociais.
A instabilidade fez com que as ações do Facebook, controlador dos serviços, tivessem queda de 4,89% na bolsa Nasdaq. Essa é a segunda crise que a companhia vive em menos de 30 dias.
Desde 13 de setembro, o patrimônio de Zuckerberg diminuiu em US$ 18 bilhões. A redução fez com que ele caísse uma posição na Bloomberg Billionaires, lista dos homens mais ricos do mundo. Com US$ 121,6 bilhões na conta, Zuckerberg é agora o quinto colocado, ultrapassado por Bill Gates, proprietário da Microsoft.
Mas Zuckerberg não foi o único a acumular prejuízos na segunda-feira. No Brasil, são mais de 120 milhões de usuários do WhatsApp, que , em tempos de pandemia, tornou-se essencial no ambiente de trabalho. A publicitária Ludimyla Pira, dona da Papillon Agency, contou que a empresa depende totalmente do aplicativo, já que funciona de maneira on-line.
“Nós não temos escritório e falamos com nossos clientes todos os dias pelo WhatsApp. Hoje, a nossa comunicação foi muito prejudicada. Tentamos usar mecanismos similares ao WhatsApp, como o iMessage e o Telegram”, relatou a publicitária.
Segundo Ludimyla, os clientes compreenderam que era uma situação fora do controle da agência. Mas, por trabalhar diretamente com as redes sociais, acabaram perdendo o timing de algumas publicações. “Conteúdos que estavam programados para hoje terão que ser postados depois, e, em alguns casos, não serão mais utilizados. Em relação à queda do WhatsApp, nós até conseguimos driblar usando o iMessage, por exemplo. Mas, infelizmente, não temos hoje um recurso que substitua o Instagram”, contou.
Com trabalhos fora do DF, o arquiteto e dono da Arquitécnika Arquitetura e Engenharia, Lutero Leme, conta que a instabilidade ocorreu no dia mais corrido no trabalho. O resultado foi a perda de um contrato. “É um dia que tiramos para fazer avaliações externas. Tenho obras no Rio e na Bahia, e o maior problema é com o pessoal de fora, pois muitos não utilizam outras ferramentas de troca de mensagens. Tínhamos marcado um fechamento de negócio do RJ, e não conseguimos passar no horário”, disse.
A brasiliense Isadora Valença disse que ver o Instagram fora do ar foi a mesma coisa que assistir à loja dela ser fechada. Ela é dona da Cascavel, uma loja de jóias artesanais que vende as peças pelo Instagram. “Antes de descobrir a pane, fiquei um tempo achando que era um problema na minha internet. Apesar de não ter perdido clientes, eu estava no meio de algumas negociações”, explicou.
Por volta das 21h, o Facebook emitiu uma nota lamentando pela pane nos serviços. “Para todos que foram afetados pela interrupção das nossas plataformas hoje: sentimos muito. Sabemos que bilhões de pessoas e negócios em todo mundo dependem de nossos produtos e serviços para permanecer conectados. Agradecemos sua paciência à medida que voltamos a ficar on-line”, diz a nota.
Saiba mais
Em 13 de setembro, o jornal norte-americano The Wall Street Journal começou a publicar uma série de reportagens com documentos internos e entrevistas com ex-funcionários do Facebook. As publicações revelaram que a empresa tinha conhecimento de que os algoritmos do Instagram estavam causando danos à saúde mental de adolescentes, mas minimizou as questões. Hoje, Francis Hauger, ex-funcionária responsável pelo vazamento das informações, vai ao Senado dos Estados Unidos prestar depoimento na investigação sobre proteção de crianças nas redes sociais.
Falha interna levou ao caos
Pelo Twitter, usuários começaram a comentar a queda nos serviços dos aplicativos de Zuckerberg por volta das 12h20. O site Down Detector, conhecido por apontar falhas em serviços na internet, recebeu centenas de reclamações em, pelo menos, 45 países. Às 13h, o gerente de comunicação do Facebook, Andy Stone, foi ao Twitter avisar que a empresa estava trabalhando para normalizar o serviço.
O caos foi tão grande que fontes ouvidas pelo jornal The New York Times relataram que funcionários do Facebook não estavam conseguindo acessar o prédio da empresa por não terem os crachás reconhecidos. Até mesmo o Workplace, sistema interno para funcionários da empresa, teria apresentado erros.
O Facebook não divulgou o que causou o problema, mas uma mensagem apresentada no site da rede social aponta que o erro estava ligado ao Domain Name System (DNS). A mensagem dizia: “DNS_PROBE_FINISHED_NXDOMAIN”.
Marcos Pitanga, professor do MBA em Data Protection Officer, do Centro Universitário IESB, explicou que o DNS representa uma forma de resolução de nomes de domínios, ou seja, associa os nomes aos endereços.
“Funciona mais ou menos assim: você pergunta quem é o ‘www.correiobraziliense’, se o servidor www souber, você acessa a página. Se ele não souber, vai perguntar aos servidores raízes, que são 13 servidores espalhados no mundo. Se nenhum deles souber, ele pergunta ao ‘.com’, e assim por diante”, explicou Pitanga. O erro aparece quando nenhum servidor localiza o endereço.
O professor detalha que todo o processo pode ser mentalizado por uma árvore de cabeça para baixo. “As informações vão passando de um elemento para o outro desta árvore. O DNS ajuda a realizar consultas das folhas para os galhos, por exemplo. Caso essa comunicação seja afetada, o caminho até o tronco e as raízes deixa de existir, causando uma falha nos sites”, disse.
Pitanga não exclui a possibilidade de outros motivos terem interferido no funcionamento das redes sociais. “Podem existir outras razões, sim, primeiro, porque o Facebook não responde por um único endereço físico no mundo. São vários endereços pelos quais você chega ao Facebook, então, para indisponibilizar o acesso dessa forma teria de alterar alguma informação em servidores raízes, o que não é algo fácil de ocorrer, mas ataques bem direcionados podem deixar servidores indisponíveis.”
Dois membros da equipe de segurança do Facebook, que falaram sob condição de anonimato ao The New York Times, disseram ser improvável que a causa dos problemas seja um ataque hacker.
As três redes sociais de Zuckerberg já passaram por quedas antes. Em junho deste ano, o Whatsapp e o Instagram ficaram off-line por 10 minutos. Em março, os três serviços ficaram fora do ar por 50 minutos. No ano passado, episódios semelhantes ocorreram nos meses de março, abril, maio, julho e setembro, mas nunca superaram três horas fora do ar.