Documentos da Polícia Federal apontam que estrangeiros suspeitos de ligação com uma dissidência das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão entrando em território brasileiro atraídos pelo avanço do garimpo ilegal de ouro no Brasil.
Estrangeiros suspeitos de ligação com uma dissidência das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão entrando em território brasileiro atraídos pelo avanço do garimpo ilegal de ouro no Brasil nos rios da Amazônia. A informação consta de documentos obtidos pela BBC News Brasil e foi confirmada pela Polícia Federal.
As investigações apontam que os dissidentes estão extorquindo garimpeiros ilegais que atuam de forma clandestina nos rios da região e cobrando uma espécie de “pedágio” para poderem continuar trabalhando. Em agosto, a PF e o Exército brasileiro realizaram uma operação no município de Japurá (AM), a 745 quilômetros de Manaus, depois de receberem informações de que havia dissidentes na área urbana da cidade. Dois colombianos foram presos.
As Farc eram um dos grupos armados que, por quase 50 anos, esteve em conflito com o governo colombiano. Em 2016, comandantes da organização e o então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, firmaram um cessar-fogo que previa o desarmamento da organização e a possibilidade de o grupo participar da vida política do país. Em 2017, a maioria dos rebeldes se desmobilizou e passou a formar o partido político Força Alternativa Revolucionária do Comum, também conhecida pela sigla Farc. Mais de oito mil fuzis foram entregues pelos guerrilheiros.
Parte deles, porém, decidiu não aderir ao acordo e continuou a atuar na região, especialmente em território amazônico. São esses dissidentes que as autoridades brasileiras acreditam que estejam ingressando em território nacional desde então. Nos últimos anos, serviços de inteligência receberam a informação de que alguns deles fazem a “escolta” de carregamentos de drogas enviadas da Colômbia para o Brasil pelos rios da região.
“Segundo levantamentos na região, os dissidentes ingressam ilegalmente em território nacional, muitas vezes com documentos falsos, e atuam nas áreas de garimpo da faixa de fronteira abordando ribeirinhos e garimpeiros, ou infiltrados na zona urbana de Japurá, onde adquirem mantimentos”, explicou o delegado.
A suspeita de que dissidentes estejam usando o ouro ilegal brasileiro chama atenção porque, na Colômbia, há pelo menos nove anos existem registros de que grupos paramilitares comando minas ilegais no país vizinho.
“Isso é algo que aconteceu na Colômbia. Há minas ilegais http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistradas pelas Farc e outros grupos ilegais no meu país, de modo que não me estranharia que esses criminosos que atravessam a fronteira comecem a atuar dessa maneira no Brasil”, disse o embaixador da Colômbia no Brasil, Dario Montoya Mejia.
O diplomata afirmou também que as autoridades dos dois países vêm intensificado as ações de cooperação na região para sufocar atividades de organizações criminosas.
Bilhetes com carimbo das Farc
Entre os indícios que, segundo a PF, ligam o casal colombiano preso em agosto deste ano a grupos dissidentes das Farc estão um bilhete apreendido com o casal que contem o carimbo da Frente Carolina Ramirez, um dos sub-grupos da dissidência das Farc que atua no sul da Colômbia. O casal foi encontrado depois de invadir a casa de uma moradora de Japurá ao fugir da polícia e do Exército.