Guardas matam seis imigrantes em centro de detenção na Líbia, diz OIM

Foto: Hussam AHMED / AFP

Guardas líbios mataram a tiros nesta sexta-feira (8) seis imigrantes da África subsaariana em um centro de detenção em Trípoli, informou o chefe do escritório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) na capital líbia, denunciando as “terríveis” condições de vida no complexo superlotado.


O incidente ocorreu no centro de detenção Al-Mabani, em Trípoli, onde cerca de 3.000 imigrantes estão retidos, disse à AFP o chefe da OIM, Federico Soda. “Os guardas mataram um total de seis migrantes”, explicou.


“Não sabemos o que provocou o incidente, mas está relacionado com a superlotação de imigrantes no centro. Vivem em condições terríveis e tensas”, acrescentou. “Muitos migrantes fugiram durante o caos”, emendou Soda.


A imprensa líbia exibiu vídeos de centenas de migrantes fugindo do centro.


Segundo o encarregado da OIM, o centro de detenção de Al-Mabani tem capacidade para mil detidos, porém mais de 3.000 estavam no local, inclusive 2.000 fora do prédio principal, mas dentro do perímetro do complexo.


“Sua detenção é arbitrária. Muitos deles estão com os papéis em dia, mas estão bloqueados no país”, disse.


A Líbia é um importante ponto de passagem para dezenas de milhares de migrantes, a maioria procedente de países da África subsaariana, que tentam chegar à Europa todos os anos através da costa italiana, a cerca de 300 km da costa líbia.


Várias ONGs denunciam regularmente as condições nos centros de detenção líbios, onde contrabandistas e traficantes se aproveitaram nos últimos dez anos da instabilidade que se seguiu à revolta de 2011, e transformaram o país no eixo do tráfico de seres humanos no continente.


“Crimes contra a humanidade”

No começo de outubro, uma operação “antidrogas” das autoridades líbias em uma comunidade carente de Trípoli, que envolveu sobretudo migrantes sem documentos, deixou um morto e pelo menos quinze feridos, segundo a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (MANUL).


Ao menos 5.000 pessoas, inclusive mulheres e crianças, foram detidas, segundo a organização Médicos sem Fronteiras (MSF).


Na segunda-feira, uma missão de investigação de especialistas da ONU publicou um relatório no qual denunciou “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade” cometidos na Líbia desde 2016, especialmente contra migrantes.


Os migrantes sofrem todo tipo de violação “nos centros de detenção e por parte dos traficantes”, dizia o texto.


“Nossa investigação mostra que os atores estatais e não estatais praticaram agressões contra migrantes em larga escala, com alto grau de organização e incentivados pelo Estado”, destacou o informe.


“Um conjunto de características que levam a crer que se tratam de crimes contra a humanidade”.


Tragédias

A Líbia é cenário de uma série de tragédias com a imigração ilegal. Na terça-feira foram encontrados os corpos de 17 migrantes na costa do país, após o naufrágio da embarcação em que viajavam.


O número de migrantes mortos no mar durante a travessia para a Europa dobrou este ano em comparação com o mesmo período de 2020, segundo dados da OIM de julho.


Em setembro, a OIM contabilizou 1.369 migrantes afogados no Mediterrâneo este ano.


A Líbia tenta virar a página de uma década de caos desde a queda, em 2011, do regime de Muamar Kadhafi, deposto e morto após oito meses de uma revolta popular no rastro da Primavera Árabe.


Após anos de combates, em março deste ano, estabeleceu-se um governo de unidade, patrocinado pela ONU. A princípio, o país deve realizar eleições em dezembro e janeiro, mas a organização do pleito é um mistério, em vista das enormes divisões que continuam existindo.


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