Não é novidade que o futebol mundial tem passado por grandes transformações em suas organizações estruturais, que colocam em xeque até mesmo as competições de maior peso da modalidade — como é o caso da Copa do Mundo de seleções.
Em maio de 2021, a Fifa, através de seu presidente Gianni Infantino começou a explorar a polêmica ideia de realizar uma Copa do Mundo de futebol masculino a cada dois anos, em vez de quatro. Apesar do movimento ter ganhado alguma força nos últimos meses, o martelo ainda está longe de ser batido.
Fifa e organizações do futebol europeu em rota de colisão
O tema sobre a Copa do Mundo ser realizada de forma bienal tem gerado bastante discussão entre especialistas e nomes importantes do mundo da bola, colocando em rota de colisão a Fifa e o futebol europeu. O chefe de desenvolvimento global do futebol da Fifa e ex-técnico do Arsenal, Arsène Wenger, é um dos nomes importantes da modalidade que mais apoiam a ideia da Copa do Mundo ser realizada a cada dois anos a partir de 2024.
Em entrevista para o jornal francês L’Équipe, Wenger disse que o projeto para um novo calendário de partidas internacionais baseado em uma Copa do Mundo bienal é o melhor caminho a seguir para a modalidade como um todo. Isso porque ele acredita que a nova proposta, apesar de ser uma ameaça à tradição do futebol mundial, permitiria jogos mais interessantes para o público em geral.
Para Wenger, caso o projeto seja aprovado as eliminatórias continentais para a Copa do Mundo seriam mais enxutas para evitar sobrecarregar o já congestionado calendário do futebol mundial.
Por outro lado, há uma forte corrente contra a nova proposta defendida por Wenger. A começar pela Uefa, responsável por organizar o futebol europeu e que ameaçou um boicote à poderosa Fifa. Aleksander Ceferin, presidente da Uefa, declarou de forma veemente ao jornal britânico “The Times” que as seleções europeias não jogariam um Mundial disputado a cada dois anos, pois isso acabaria com o calendário do futebol.
Além da Uefa, o CEO do grupo Ligas de Futebol Profissional da Europa (EPFL, sigla em inglês), Lars-Christer Olsson, declarou recentemente à imprensa que a entidade ainda não está preparada para grandes transformações no calendário da modalidade.
De fato, nos últimos anos, um dos grandes problemas do futebol mundial de alto nível tem sido o excesso de jogos nas grandes ligas, trazendo efeitos negativos aos atletas. Segundo o preparador físico do Fluminense, Marcos Seixas, a maior incidência de lesões acontece através de dois mecanismos: o excesso de partidas, quando um atleta não consegue se recuperar adequadamente entre um jogo e outro, e a falta de preparação física para suporta muitas partidas em curto espaço tempo.
Portanto, partindo dessa premissa das lesões ocorridas devido ao excesso de jogos, uma Copa do Mundo a cada dois anos poderia congestionar ainda mais o calendário do futebol e gerar alguns problemas, visto que precisaria alterar uma parte significativa das competições da modalidade e ainda contar com o apoio da maioria dos envolvidos.
Ronaldo Fenômeno é a favor da Copa do Mundo ser disputada a cada dois anos
Maior vencedor da Copa do Mundo, com cinco títulos mundiais e um dos líderes do ranking da FIfa, o futebol brasileiro é uma das partes mais respeitadas e interessadas sobre qualquer assunto que envolva o tema Copa do Mundo. Portanto, o Brasil conta com representantes de peso para opinar sobre o futuro da competição.
O ex-atacante Ronaldo “Fenômeno”, 2º maior artilheiro da história da Copa do Mundo, é um defensor do Mundial da Fifa ser realizado a cada dois anos. Em uma reunião organizada pela Fifa em setembro deste ano, encontro esse que contou com grandes personalidades da modalidade, Ronaldo disse que o formato atual do Mundial de seleções já dura um século e que a Copa do Mundo organizada de maneira bienal seria uma grande oportunidade para a evolução do futebol.
Já a Conmebol, entidade responsável por organizar e representar o futebol sul-americano, vai na contramão do brasileiro. Em setembro, a Conmebol divulgou um comunicado oficial que é contra a ideia proposta pela Fifa.
A nota em questão está disponível no site da entidade sul-americana e foi assinada pelo presidente Alejandro Domínguez. O comunicado destaca que o Mundial de seleções realizado de forma bienal prejudicaria o seu caráter exclusivo e padrões de exigência, bem como afetaria a dinâmica das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo.