E quando o aumento da temperatura chega a ser insuportável?

Foto: Pixabay

Do Vale da Morte às margens do Eufrates, passando pelo subcontinente indiano, o aquecimento global torna insuportável a existência diária de milhões de pessoas.


“O Vale da Morte é o lugar mais quente da Terra. A temperatura média no verão tem sido ainda mais alta nos últimos 20 anos”, diz Abby Wines, assessor de comunicação do Parque Nacional do Vale da Morte, na Califórnia.


Neste deserto coberto de arbustos, o termômetro atingiu 54,4°C em dois anos consecutivos, uma temperatura nunca registrada por instrumentos modernos.


E o mês de julho de 2021 foi o mais quente de todos os tempos, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).


“Este calor insuportável nos afeta muito. E nós, os pobres, somos os mais atingidos”, lamenta Kuldeep Kaur, moradora de Sri Ganganagar, no Rajastão, noroeste da Índia.


Do outro lado do planeta, sob a “cúpula de calor” que atingiu o Canadá neste verão boreal (inverno no Brasil), Rosa se desesperava em Vancouver. “É simplesmente insuportável. Não podemos sair neste calor”, dizia.


“Milhares de mortos”

Sem reduzir as emissões de gases de efeito estufa, esse tipo de fenômeno “se tornará ainda mais comum”, diz Zeke Hausfather, climatologista do Breakthrough Institute.


O aumento das temperaturas associado ao “efeito estufa” leva, por sua vez, a um aumento da frequência e da intensidade de secas, incêndios, tempestades e inundações. E também a uma multiplicação de ondas de calor devastadoras para a agricultura, e mortais, para os humanos.


“Uma inundação causa alguns mortos, talvez dezenas. Cada grande onda de calor extremo leva a milhares de mortes. E sabemos que essas ondas de calor se multiplicam”, resume Robert Vautard, climatologista e diretor do instituto Pierre-Simon Laplace.


Se o aquecimento global atingir +2°C, um quarto da população mundial experimentará ondas de calor pelo menos uma vez a cada cinco anos, de acordo com um rascunho de relatório da ONU obtido pela AFP antes da grande conferência internacional do clima (COP26), que começa em Glasgow (Escócia) em 31 de outubro.


Os beduínos sempre conviveram com esse calor sufocante. “Deve estar fazendo uns 43ºC, e são 8h30! Às 14h, a temperatura pode chegar a 48ºC, 49ºC, às vezes até 50ºC. Mas é normal para nós, estamos habituados a isso, não ficamos surpresos nem preocupados”, diz Nayef al-Shamari, 51 anos.


Nayef e seu pai, Saad, vivem e trabalham no deserto de Nefud, na Arábia Saudita, onde criam camelos há gerações.


Apesar da calma de Nayef, o modo de vida desses beduínos pode estar em risco.


“Até os animais da região que toleram o calor, como alguns camelos, ou cabras, vão ser afetados, assim como a agricultura. Esse calor extremo vai ter impacto na produção de alimentos”, garante George Zittis, pesquisador do Cyprus Institute.


Os pântanos mesopotâmicos no Iraque, entre o Tigre e o Eufrates, onde a lenda coloca o Jardim do Éden, também estão em perigo.


“Altas temperaturas, acima de 50ºC, têm consequências para peixes, animais, habitantes e turismo”, diz o dono de um barco, Razak Jabar, avançando lentamente no meio de um curso d’água.


Com resignação, explica que terá de ir embora.


Esses deslocamentos forçados de áreas rurais criam novos desafios.


“Nesta parte do mundo (Oriente Médio e Norte da África), prevemos que, até o final do século, 90% da população viverá em cidades”, onde as temperaturas já tendem a ser mais altas, prevê George Zittis.


Diante da urgência, os apelos pela ação se multiplicam.


“Sem uma redução imediata, rápida e em grande escala das emissões de gases de efeito estufa, não seremos capazes de limitar o aquecimento global a 1,5°C, e as consequências serão catastróficas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em setembro.


Fonte: Correio Braziliense


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