Centros de Zoonoses devem deixar de sacrificar cães e gatos saudáveis

(crédito: Viola Júnior/Esp.CB)

Entre a década de 1970 e os anos 2000, o pavor das carrocinhas era um sentimento compartilhado pela maior parte das crianças. Isso porque todos sabiam do triste fim de cães e gatos abandonados nas ruas do país e apreendidos por veículos dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ).


Apesar de serem designados a prevenir e controlar as zoonoses — doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas —, os funcionários desses estabelecimentos davam aos animais um prazo de três dias, em média. Caso ninguém fosse buscá-los, o destino deles era o sacrifício sem motivo aparente.


A subsecretária da Comissão Nacional de Proteção e Defesa Animal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ana Paula de Vasconcelos, afirma que a ‘carrocinha’ deixou de existir na maioria dos estados, porém, ainda existem casos de extermínio em centros de Zoonoses em todo o Brasil sob “argumentos nebulosos” e em “procedimentos duvidosos”.


No entanto, a partir de agora, o abate dos animais domésticos pode finalmente ser proibido. O projeto (PL 17/2017), de autoria do deputado Ricardo Izar (PP-SP), que proíbe a eutanásia de cães e gatos de rua por órgãos de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos similares foi aprovado na Câmara dos Deputados.


Com a proposta, a eutanásia só será autorizada em animais com doenças graves ou enfermidades infectocontagiosas incuráveis com risco à saúde humana e com a apresentação de um laudo técnico de órgãos competentes.


Segundo o médico veterinário, Bruno Alvarenga, tais condições já estão previstas em uma resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (876/2008).


“Nesta norma temos uma série de situações onde se preconiza a prática. Quando, por exemplo, o animal está em sofrimento, com uma doença incurável, com uma enfermidade considerada uma ameaça à saúde pública ou se o tutor não possuir condição financeira para investir no tratamento”, explica.


Alvarenga diz que ainda que, nestes casos, o animal não deve ser colocado em situação de estresse e o processo deve ser indolor. “Algumas técnicas utilizadas no passado, como as câmaras de gás, já foram proibidas. Hoje, o procedimento é feito com fármacos específicos e só pode ser conduzido por um médico veterinário”.


De acordo com o texto, as entidades de proteção animal deverão ter acesso irrestrito à documentação que comprove a legalidade da eutanásia. Para a advogada, a nova legislação é mais um importante passo para que os animais tenham seus direitos assegurados contra a crueldade.


É suficiente?

Contudo, Ana Paula de Vasconcelos ressalta que, apesar dos avanços no quesito legislação, o governo ainda deixa algumas lacunas na Prevenção de Crueldade contra Animais e afirmou que sem o trabalho de base não será possível mudar a triste realidade de milhares de cães e gatos em situação de abandono e maus tratos em todo país.


“Apesar de termos leis, não existem políticas públicas efetivas para controle populacional nem mesmo de estímulo à adoção de animais. Além disso, não há locais dignos para acolher animais vítimas de maus tratos e campanhas educativas sobre a guarda responsável”, disse, ao citar a falta de fiscalização na aplicação das regras.


O médico veterinário defendeu também que ainda restam lacunas no texto do projeto e questionou: “Quem vai ficar responsável pelos cuidados com a saúde dos animais? O que acontecerá com os animais doentes? Haverá recurso para tratá-los? E quando os alojamentos estiverem lotados?”


Para os especialistas, se essas ponderações não forem realizadas, um problema estará sendo criado.


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