Foram 310 votos a 142. Houve uma união da oposição, que apresentou o requerimento, com o centrão, grupo de siglas que hoje dá sustentação política a Bolsonaro.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em um forte sinal político de insatisfação, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (6) a convocação do ministro Paulo Guedes (Economia) para explicar a existência de recursos dele em um paraíso fiscal.
Foram 310 votos a 142. Houve uma união da oposição, que apresentou o requerimento, com o centrão, grupo de siglas que hoje dá sustentação política a Bolsonaro. Guedes é obrigado a comparecer, sob pena de cometimento de crime de responsabilidade caso falte sem justificativa adequada.
Os 60% dos votos da Câmara contra o ministro seriam suficientes para aprovar uma PEC (proposta de emenda à Constituição), algo que o governo não conseguiu alcançar recentemente, na discussão do voto impresso -mesmo com o empenho pessoal de Bolsonaro.
Vice-presidente da Câmara, e responsável por presidir a sessão desta quarta, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) criticou o ministro e disse que a revelação da offshore de Guedes representa uma forte contradição com o discurso no comando da economia brasileira.
“Não temos competência de dizer que ministro cai e que ministro fica, mas está claro que há uma insatisfação do Parlamento com um ministro que fecha os olhos para 14 milhões de desempregados, para 19 milhões que passam fome, que combate isenção fiscal para indústrias, mas transfere seu dinheiro para o exterior para não pagar imposto no Brasil. Nem estou entrando no mérito se isso é legal ou não, mas é absolutamente contraditório com seu discurso”, disse Ramos.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais aliados de Bolsonaro, não participou da sessão por estar em viagem. É bastante improvável, porém, que uma votação desse porte e com uma diferença dessa magnitude tenha ocorrido sem o conhecimento e aval do parlamentar, que comanda o centrão.
Deputados ouvidos pela reportagem também relatam problemas antigos e pulverizados entre a base de Bolsonaro na Câmara, que quer ampliar ao máximo os gastos federais com vistas às eleições, e a equipe de Guedes, quase sempre refratária a essas movimentações.
Guedes, sua esposa e sua filha são acionistas de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal, segundo reportagens publicadas neste domingo (3) por veículos como a revista Piauí e o jornal El País, que participam do projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (o ICIJ).
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ainda tentou transformar a convocação em convite, mas não teve sucesso.
“O ministro tem explicações a dar e está disposto a fazê-las para o Parlamento, como é natural de qualquer pessoa pública. Só não vejo razão de ser uma convocação”, disse.
“O assunto é relevante, é adequado que o ministro faça a explicação, embora já anunciou [sic] pela imprensa que não movimentou a empresa, que não tem nenhuma relação com a sua atividade de ministro de Estado da Economia, mas é justo que toda a pessoa pública tenha que explicar quando questionada a sua ação.”
icialmente, partidos do centrão, como o PP, PL e Republicanos, sinalizaram apoio à transformação da convocação em convite. Sem acordo com a oposição, porém, decidiram votar a favor do comparecimento do ministro no plenário. Ainda não há data para que Guedes preste esclarecimentos aos deputados, mas a expectativa é que seja na próxima quarta-feira (13).
“Há uma vedação explícita de que servidores públicos possam manter aplicações financeiras e investimentos no exterior que possam ser afetadas por políticas governamentais”, justificou a oposição no requerimento apresentado.
“É imperativo que Guedes dê explicações ao Parlamento sobre a manutenção destas contas no exterior, mesmo após ter assumido uma função pública de enorme relevância, o que é vedado pelo artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal”, afirmou o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).