Bolsonaro busca medidas populistas para conseguir reeleição

O chefe do Executivo tem viajado o país ao lado de aliados, entre os quais integrantes do Centrão, líderes evangélicos e ministros, num ritmo frenético, semelhante ao de campanhas eleitorais - (crédito: Andre Coelho/AFP)

Com a popularidade em queda livre, a grave crise econômica e o desgaste provocado pela CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro partiu de vez para a campanha eleitoral antecipada e tem buscado medidas populistas para tentar um segundo mandato.


O chefe do Executivo tem viajado o país ao lado de aliados, entre os quais integrantes do Centrão, líderes evangélicos e ministros, num ritmo frenético, semelhante ao de campanhas eleitorais. Nesta semana, por exemplo, está entregando obras de infraestrutura hídricas que fazem parte da Jornada das Águas, ações em cidades do semiárido. O foco é a conquista, principalmente, do eleitorado nordestino, que, em geral, ainda é fiel ao ex-presidente Lula, líder das pesquisas de intenção de voto.


Bolsonaro tenta mudar essa realidade com medidas que devem sair caro à União, em um momento de grave crise nas contas públicas. Ele tem apostado no Auxílio Brasil — o substituto do Bolsa Família —, no valor de R$ 400, como principal arma para 2022. O novo programa ainda não tem fonte de custeio definido, mas a ordem do presidente é fazer o que for preciso para lançá-lo ainda neste ano.
Além disso, afirmou que criará um benefício para 750 mil caminhoneiros autônomos para compensar o aumento do diesel (leia reportagem ao lado). O anúncio foi feito ontem, durante cerimônia de inauguração do Ramal do Agreste, em Sertânia (PE). No evento, ele culpou governadores pelo aumento da inflação, por causa das medidas restritivas adotadas pelos gestores no combate à pandemia.
Nos eventos oficiais, Bolsonaro tem usado o palanque para inflar seus apoiadores radicais contra o PT.


Em Sertânia, disse que “o país sabe o que não quer”. Apesar do tom de comício, negou que esteja fazendo campanha. “Ninguém veio aqui falar de eleições, ninguém veio falar de 2022, mas nós devemos nos preocupar”, frisou. “Cada vez mais, temos deixado para trás o vermelho, que representa o ódio, a intriga, a divisão de classes, a corrupção e o atraso.” Segundo ele, “querer a volta desse que afundou o Brasil em corrupção, em descumprimento de legislação e em desesperança, é querer o próprio fim”.
Mais cedo, em São José de Piranhas (PB), Bolsonaro atacou Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid. Disse que chamar o parlamentar de “vagabundo” é elogio: “Não há maracutaia lá por Brasília que não tenha o nome do Renan envolvido”, disparou. No relatório, o senador pede o indiciamento do presidente por nove delitos, incluindo crime de responsabilidade e contra a humanidade.


Presente à cerimônia, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), ressaltou que o relatório da CPI merecerá “a lata do lixo da história política do Brasil” e ainda chamou a comissão de “inócua”. “Não teve a dignidade de escrever uma letra para reconhecer o esforço do governo federal no enfrentamento da pandemia”, frisou.


No mesmo tom de campanha, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, outro que acompanhou o presidente na Paraíba, endossou as críticas a gestores estaduais. “No passado, um consórcio de governadores disse que ia trazer vacinas (ao país). Quantas vacinas eles trouxeram? Nenhuma. Todas as vacinas foram trazidas pelo governo do presidente Bolsonaro, e as vacinas só têm um dono: o povo do Brasil”, discursou.


Divergências

No Congresso, há opiniões opostas sobre o impacto que o relatório da CPI da Covid terá no governo. Para a oposição, o parecer apresenta uma série de irregularidades e crimes que já eram conhecidos pela sociedade e, agora, servirá de instrumento para que o presidente responda juridicamente. É o que espera a deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS). “O relatório apontou nove crimes gravíssimos de Bolsonaro. Exigimos que Lira e Aras cumpram o seu dever. Acredito que o lugar de Bolsonaro é na cadeia”, enfatizou, numa referência ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e ao procurador-geral da República, Augusto Aras.


Já o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) sustentou que a comissão não entregou o que prometia e não arranha a imagem de Bolsonaro. “Ficou tudo no campo do achismo. Não ficou claro nenhum crime que o presidente possa ter cometido. Não há nenhum objetivo concreto para um alarde tão grande que estão fazendo”, afirmou. “A CPI é um direito da minoria. O Senado permitiu e deu condições. Se não chegou a algo mais profundo, de fato, ou não se concluiu qualquer prova que possa incriminar o presidente é porque não existia.”


O cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa, avaliou que Bolsonaro está em campanha aberta e, agora, busca minimizar os impactos do relatório da CPI da Covid e da alta inflação, desviando a atenção de seus apoiadores e dos futuros beneficiários do Auxílio Brasil para suas políticas populistas. “O estrago já está dado, porque tudo que foi apurado, todas as denúncias que vão ser materializadas e devem ser votadas, isso vai ser selo de conivência do governo, da incapacidade de fazer uma gestão da pandemia. É um instrumento que os adversários de Bolsonaro vão ter em mãos.”


Promessa de “auxílio diesel”

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, a criação de um benefício para caminhoneiros, sem informar a fonte dos recursos. “Números serão apresentados nos próximos dias, vamos atender aos caminhoneiros autônomos. Em torno de 750 mil caminhoneiros receberão ajuda para compensar aumento do diesel”, disse, num evento em Sertânia (PE).


A ajuda deve ser de R$ 400 a ser paga de dezembro de 2021 a dezembro de 2022. Embora Bolsonaro tenha citado o potencial de 750 mil beneficiários, a reportagem apurou que o público final ainda vai depender do número de caminhoneiros autônomos ativos no cadastro da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Essa quantidade varia entre 700 mil e 850 mil.


O custo estimado pelo governo com o programa é de cerca de R$ 4 bilhões. O valor final ainda vai depender de negociações com o Congresso e da disponibilidade no Orçamento.
A avaliação dentro do governo é de que o “auxílio diesel” é melhor do que uma alteração na política de preços da Petrobras, o que representaria, segundo uma fonte, “intervenção” na estatal. A ajuda não terá relação com o Auxílio Brasil, que também deve pagar R$ 400 até dezembro de 2022. Na área econômica, técnicos foram pegos de surpresa com o anúncio.
A defesa do auxílio diesel inclui o argumento de que os caminhoneiros são um elo importante da cadeia produtiva, e um peso excessivo dos combustíveis no bolso deles poderia gerar risco de desabastecimento.


No início da semana, a Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas notificou o governo e o Legislativo sobre suas reivindicações e o aviso de paralisação a partir de 1º de novembro. O presidente da Frente, deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), disse ainda não ter sido informado oficialmente sobre o auxílio.


Ministros também em campanha

O ritmo de campanha eleitoral antecipada do presidente Jair Bolsonaro compreende, também, integrantes do governo. Ao menos 12 ministros devem deixar os cargos na Esplanada até abril do ano, conforme determina a lei, para que possam concorrer no pleito de 2022. Por isso, estão em campo com o chefe por uma agenda positiva. “Eles sabem muito bem que têm chance de vitória se eu estiver bem”, frisou Bolsonaro.


O presidente tem demonstrado apoio, principalmente, ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para que se candidate à sucessão do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu inimigo político.


O ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (sem partido), ambos do Rio Grande do Norte, deverão concorrer por uma única cadeira no Senado. Outros nomes que também devem pleitear uma vaga na Casa são os ministros Marcelo Queiroga (sem partido), da Saúde; Gilson Machado (sem partido), do Turismo; Tereza Cristina (DEM), da Agricultura; Damares Alves (sem partido), da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos; e Marcos Pontes (PSL), da Ciência, Tecnologia e Inovação.


Estadual

Já o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni (DEM), se movimenta desde 2019 para disputar o governo gaúcho, mas ainda não se declarou oficialmente como candidato. Há, ainda, estímulo para que o ministro da Cidadania, João Roma, concorra a governador da Bahia pelo Republicanos.


Tanto o ministro da Justiça, Anderson Torres, quanto a ministra da Secretaria de Governo da Presidência, Flávia Arruda (PL), avaliam a candidatura ao Senado ou ao governo do Distrito Federal. Ela também tem recebido elogios de Bolsonaro, que a caracterizou como sua “melhor ministra”.


Atuando como titular da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) admite querer disputar o governo do Piauí. No entanto, aliados avaliam que, a depender da situação de Bolsonaro até o próximo ano, será mais vantajoso que ele permaneça no Planalto.


Por sua vez, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) avalia a possibilidade de concorrer ao Senado. A legenda dele, porém, insiste que busque o governo do Rio de Janeiro. (IS e LP)


Fonte: Correio Braziliense
 


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