A cantora de jazz Andresa Sousa, 34 anos, estava empolgada para mais uma noite de trabalho, na terça-feira (19/10). Nas redes sociais, ela fez um post especial para lembrar os seguidores de que se apresentaria em um restaurante da 108 Sul, em um texto alegre que terminava com emojis de coração. A empolgação da artista, no entanto, foi substituída poucas horas depois por choro, quando ela foi vítima de injúria racial ao ser agredida verbalmente e fisicamente por uma cliente do local. “Aprende a cantar, sua negra”, proferiu a agressora. O caso é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia da Asa Sul como injúria racial.
A agressão ocorreu por volta das 22h30. Andresa e o produtor musical Jônatas Santana estavam há cerca de duas horas cantando, quando alguns clientes começaram a fazer pedidos de músicas. Prontamente, eles atenderam às solicitações. “A casa tava cheia, principalmente na área onde fica o palco. Na minha frente tinha uma mesa com alguns gringos que se divertiam bastante”, conta Andresa.
Em outra mesa, no canto do palco, estava a agressora com um grupo de mulheres. Segundo ela, elas pediam, insistentemente, para Andresa cantar uma música que ela já havia cantado. “O garçom chegou a vir me dizer e eu disse que já tinha cantado e perguntei se era pra repetir e ele disse que era pra eu fazer o que eu achasse melhor. Decidi cantar de novo”, diz.
A mulher e outras três amigas então teriam ido para a frente do palco, dançaram, sorriram e cantaram a música — Fly me to the moon, originalmente cantada por Frank Sinatra. No fim da música, as mulheres foram se sentar, menos uma – a que teria proferido as agressões. A mulher teria ido até Andressa e dito que ela não sabia cantar e que tinha errado a letra.
“Elas estavam bêbadas e também pela idade, tentei ir levando. Mas ela foi insistindo. Chegou uma hora que ela falou que a palavra que eu errei era ‘word’, e eu repetia dizendo que não. E ela insistia”, desabafa a cantora. Logo depois, a mulher teria pedido que a cantora parasse de sorrir, subiu no palco e disse para ela aprender a cantar.
Antes de voltar para a mesa, ela teria ainda desferido dois tapas no braço da artista e disse em seguida: “Aprende a cantar, sua negra”. “Eu fiquei sem entender. Falei para o Jônatas o que aconteceu e me diluí, comecei a chorar muito. Ela ficou gritando da mesa que ‘essa negra tem que aprender a cantar’ e eu só conseguia chorar”, lembra.
Denúncia
Logo depois da agressão, a gerente do restaurante a auxiliou, pediu que terminasse o show, ofereceu água e a levou para um local calmo. Depois, os músicos chamaram a polícia para denunciar o ocorrido. Jônatas contou, ainda, que a agressora estava acompanhada por outras mulheres e que uma delas se identificou como delegada, como uma forma de evitar que a dupla chamasse a polícia.
“A cereja do bolo foi uma delas dizer que era delegada, igual a gente vê nos vídeos, mas eu disse que não interessava. Não deixem o racismo prevalecer. Quando ver alguém sendo racista, chame a polícia”, afirmou o músico. O boletim de ocorrência foi feito e o caso é investigado como injúria racial e “vias de fato”.
Andresa diz que o policial abordou a mulher na saída do restaurante, mas que ela não foi levada à delegacia porque “não tinha condições de ir”.
Ao Correio, a Polícia Civil do Distrito Federal disse que o caso está em investigação. De acordo com a corporação, Andresa forneceu uma imagem do veículo da agressora, que não foi levada à delegacia porque “se evadiu do local”. A PCDF afirmou ainda que Andresa “manifestou interesse em representar criminalmente em desfavor da autora” e que a 1ª DP vai auxiliá-la.
A cantora afirma que vai levar o caso adiante para mostrar que ações enraizadas no racismo têm consequências. “Com todo apoio que tenho recebido, não vou deixar barato. Por muitas vezes a gente se cala, mas com tanta gente comigo, eu vou fazer e buscar justiça em nome de tantos que não conseguiram denunciar”, declara.
Conheça
Andresa Sousa é um talento da capital. A voz poderosa embala canções de pop, MPB, jazz e bossa nova. Confira a interpretação da cantora:
Fonte: Correio Braziliense