Depois de mais de três anos da morte da menina Maria Cauane da Silva, de 11 anos, morta durante operação da polícia em maio de 2018, a família lamenta a demora no andamento do processo e pede que caso não caia no esquecimento. Ela morreu após ser atingida por um disparo de fuzil usado pela Polícia Militar do Acre (MP-AC) em uma ação policial no bairro Preventório, em Rio Branco.
Em novembro de 2019, 15 pessoas foram ouvidas, na 1ª Vara do Tribunal do Júri. Outra audiência para concluir a oitiva das testemunhas estava prevista para ocorrer em março do ano passado, mas foi desmarcada devido a pandemia de Covid-19.
“Desde a audiência de novembro, ficou marcada outra para março de 2020, só que foi no tempo que começou a pandemia e não teve. De lá para cá, ninguém tem mais reposta de nada”, lamentou o pai da menina, José Carlos.
O Tribunal de Justiça do Acre informou que que tentou dar prosseguimento dessa instrução, mas os atos presenciais foram suspensos durante a pandemia e, nesse período, seguindo orientações legais e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ficou permitido o atendimento limitado de processos mais emergenciais, e foi determinada a priorização de casos com réus presos e, nesse processo, os suspeitos respondem em liberdade.
Ainda conforme o TJ, com o retorno com dos atos presenciais, o processo está na fila aguardando pauta para entrar em audiência. Mas, a prioridade ainda é dos processos com réus presos. E que caso deve ser atendido, mas não informou data prevista.
“É a demora [que preocupa] e não veio nenhuma resposta de nada. O que a gente quer é que não seja só mais um caso, que caia no esquecimento. Todo dia a gente vê reportagens de audiências e julgamentos e não anda o processo”, reclama o pai.
Pelo menos cinco militares estão no processo suspeitos de participar da morte da menina. Um dos policiais é Alan Martins, que também está envolvido em um acidente de trânsito que matou Silvinha Pereira da Silva, de 38 anos, em maio de 2019.
Segundo o advogado de Martins, Wellington Silva, a defesa está trabalhando com as provas que têm nos autos. “As provas são de que teve um tiroteio. As famílias têm relação umas com as outras.”
Relembre o caso
Cauane morreu em maio de 2018, após ser atingida por um disparo de fuzil usado pela Polícia Militar em uma ação policial no bairro Preventório, em um tiroteio entre facções rivais. Na época, o Bope informou que o tiroteio começou após os policiais fazerem uma operação na área.
A ação no bairro ocorreu após a polícia ter tido acesso a um vídeo, no qual criminosos exibiam armas de grosso calibre e anunciavam a retomada do local. “O João falou que é pra não recuar e vai rolar troca de tiros”, dizia um dos trechos do funk divulgado no vídeo.
Além de Cauane, foram mortas mais duas pessoas durante um tiroteio entre facções rivais e a polícia. Na época, o Bope informou que o tiroteio começou após os policiais fazerem uma operação na área. Conforme o processo, um laudo balístico apontou que o tiro que matou a menina partiu da arma usada por Martins.
Ato
Após um ano da morte da menina, familiares e amigos fizeram um ato, em frente ao comando-geral da PM para pedir a prisão dos responsáveis pela morte dela.
“Foi uma crueldade o que eles fizeram, porque não tinha precisão. Por isso, que pedimos justiça pela nossa filha que morreu inocentemente. Era só uma criança de 11 anos”, falou a mãe da menina, Marlene Paula Araújo.
O pai de Cauane disse que família foi embora de casa porque vive assustada e espera que a Justiça atenda ao pedido de prisão dos acusados.
“Eles chegaram lá com imprudência, disseram que era briga de facções e não é verdade, chegaram atirando e sabiam que lá tinham famílias de bem, idosos e crianças e mataram nossa filha. Estamos aqui só para pedir que eles paguem pelo erro que cometeram”, disse.
Acidente que matou mulher
Silvinha Pereira da Silva, de 38 anos, morreu após ser atropelada — Foto: Arquivo da família
Alan Martins também estava envolvido no acidente que matou Silvinha ocorreu no dia 18 de maio, na Estrada Dias Martins, envolvendo o carro do policial e moto que a mulher estava com o marido. Os três ficaram feridos durante o acidente.
A estudante Gabriela Amorim, sobrinha de Silvinha, contou na época que o casal ia ao supermercado fazer compras para comemorar o aniversário de uma das filhas quando aconteceu o acidente.