O árbitro saberá na quinta-feira se terá de se submeter a uma operação nas vértebras do pescoço. Além de não perdoar o jogador, deverá processá-lo. William Ribeiro será acusado de tentativa de homicídio. Pena: 20 anos.
“Desferiu um soco frontal na região do rosto, causando cortes e sangramento no nariz e boca, ocasionando a queda do mesmo no gramado.
“Em ato contínuo, acertou um chute violento na nuca do árbitro, sem qualquer possibilidade de defesa, causando traço de fratura do processo espinhoso de C6, deixando-o inconsciente.”
Mesmo na frieza da linguagem de uma súmula de futebol se percebe a selvageria que sofreu o árbitro Rodrigo Crivellaro. A agressão aconteceu há cinco dias, na segunda-feira, em Venâncio Aires, Rio Grande do Sul.
O soco, a transmissão perdeu. Mas as imagens do covarde e violentíssimo pontapé na nuca do juiz, que estava caído no gramado, ficaram registradas e correram o mundo, pela internet.
Agora, as consequências.
Primeiro, o árbitro Rodrigo. Ele sofreu um fortíssimo trauma na vértebra 6, osso que fica na base do pescoço. Se houvesse o rompimento, poderia ter ficado paraplégico ou até mesmo morrer.
Rodrigo fará avaliação na próxima quinta-feira para que se considere a possibilidade de cirurgia, caso haja um deslizamento de vértebras.
Até por conta disso, ele já está usando um colar ortopédico. Ficará com ele, no mínimo, por três meses. Rodrigo não poderá trabalhar como árbitro, portanto. E também não conseguirá desempenhar a função de preparador físico.
Ele ainda está com a boca rasgada pelo soco. E sente fortes dores no pescoço pelo chute que recebeu.
Deu várias entrevistas em Porto Alegre.
“Fiz uma ressonância, estou com uma lesão na C6, ali na cervical, na vértebra 6, uma lesão ligamentar. Vou ter que usar esse colar durante 90 dias, em casa, sem trabalhar. Se por acaso ocorrer um deslizamento das vértebras, vou ter que fazer cirurgia.”
“Rezo todos os dias para que consiga a recuperação naturalmente.”
“No acompanhamento médico, eu tenho falado com o traumatologista 24 horas por dia, tomando anti-inflamatório… Aparentemente ficarei por um bom tempo com este colar o dia inteiro, para não mexer na cervical. Volta e meia sinto dor, seja quando fico muito tempo sentado, deitado ou de pé”, desabafou ao Zero Hora.
Há uma séria possibilidade de o árbitro processar o jogador, não só pela agressão, mas pelo período que ficará impossibilitado de trabalhar.
A Federação Gaúcha de Futebol se comprometeu a ajudá-lo financeiramente durante sua recuperação.
William Ribeiro, no momento em que desfere o chute na nuca do árbitro caído
Em relação ao jogador, a situação é complicadíssima.
A princípio, William não terá o perdão do árbitro.
“Não tenho vontade nenhuma de falar com ele. Espero que pague pelo que fez, que não jogue mais futebol, uma pessoa assim não dá para chamar de atleta. Com todos os antecedentes criminais que ele tinha, é impossível que uma pessoa assim jogue futebol. Tem que pagar por tudo que fez”, desabafou ao Lance!.
E “pagar por tudo que fez” significa responder na Justiça à acusação de tentativa de homicídio, podendo pegar uma pena de até 20 anos de reclusão.
William Ribeiro foi levado à prisão na madrugada da terça-feira passada e solto no mesmo dia.
Atente-se para seu histórico de agressões. Revelado pelo pequeno Progresso de Pelotas, ainda garoto bateu em um árbitro. E tentou socar o pai de um jogador adversário. Seu comportamento agressivo sabotou sua carreira, fazendo com que ele tivesse passagens curtas por 14 equipes. A maior delas, o Internacional.
Ele tem três boletins de ocorrência contra si. Dois por lesões corporais e um por chegar às “vias de fato”. Os episódios se deram em 2009, 2015 e 2021. Neste ano, William já havia batido em torcedor do próprio São Paulo, clube que defende, por ele estar xingando o treinador do clube.
William teve seu contrato rescindido com o São Paulo, por justa causa.
O advogado José Felipe Lucca, que defendia o jogador e afirmou que ele “nunca teve a intenção de matar” o árbitro, abandonou o caso.
O que é um péssimo sinal.
A Federação Gaúcha vai julgar o jogador de 30 anos. A agressão com lesão grave ao árbitro pode custar até 720 dias afastado do futebol, pela legislação esportiva brasileira.
Mas a Fifa pode banir William pela atitude.
E há um movimento na CBF para que chegue à Fifa o pedido de banimento. Até para que sirva de exemplo aos demais jogadores do país.
O delegado Vinícius Lourenço de Assunção, de Venâncio Aires, o autuou, em flagrante, por tentativa de homicídio. Se ele for condenado, a pena poderá chegar a 20 anos de prisão.
William tem se recusado a explicar o que aconteceu. Sabe que terá de enfrentar sérias consequências.