Violência contra a mulher: medo de denunciar faz vítimas invisíveis na sociedade

Ministério Público do Estado do Acre lançou um estudo sobre feminicídios ocorridos no Acre nos últimos três anos (2018 ,2019 ,2020): FEMINICÍDIO – UMA REALIDADE QUE SE ENFRENTA. O estudo aponta que 59% dos autores eram companheiros ou ex-companheiros não satisfeitos com o fim do relacionamento. Além de apontar o ciúme como o maior motivador do crime.
Apesar da ampla divulgação e campanhas de violência contra a mulher, algumas vítimas não procuram a polícia por medo ou vergonha.
A jovem G.C.P, de 26 anos, por pouco não se torna mais uma estatística de feminicídio no estado. Presa em um relacionamento abusivo, por vezes tentava se separar, mas era ameaçada. “Ele sempre foi violento, me agredia desde que a gente começou a namorar. Aí eu aguentava, pois gostava muito dele e tinha esperança que ele mudasse, fiz de tudo para salvar meu casamento, principalmente, pelos nossos filhos. Mas até hoje não vejo mudança”, conta.
O amor se transformou em medo quando ela segurava o primeiro filho do casal e, no meio de uma briga, ele partiu pra cima dela e a agrediu. Mesmo querendo o fim do relacionamento e saindo de casa, se viu obrigada a voltar com medo das ameaças do ex-companheiro. “Ele começou a me ameaçar, dizia que ia me matar e depois se mataria e que ia me encontrar onde quer que eu estivesse”, relata.
Os ciúmes eram constantes e o companheiro percebia a frieza da mulher que não tinha mais vontade de se relacionar com ele “A gente já não vivia como um casal e, por isso, ele começou a ter mais raiva, pois sabia que eu não queria mais e começou a buscar motivos para me agredir. Foi quando fui acordada de manhã, depois dele ter pego meu celular e visto uma conversa com um amigo, onde eu relatava que não o queria mais. Ele me pegou, levou pra cozinha e disse que ia pegar a faca. Meu filho e minha ex-sogra ainda pediram para ele parar, mas ele estava possuído”, relembra.
A vítima conta que ainda tentou fugir, mas que ele tinha fechado o portão. Então foi quando a tortura iniciou, pois o agressor disse que ela deveria ser punida e ter o cabelo cortado, caso contrário morreria.
“Ele batia na minha cara e cortava meu cabelo, dizia que ia me matar, que ia arrancar minha cabeça, depois dizia que eu iria somente ser punida. Queimou minhas roupas, sapatos e meus documentos. Meus filhos choravam muito e pediam pra ele não fazer aquilo. Até que ele abriu o portão e me jogou lá fora. Uma vizinha me ajudou e pediu um mototáxi pra eu ir embora. Procurei minha família e fui embora do estado, não tive coragem de denunciar, pois ele deixou claro que, se eu denunciasse, mataria minha mãe”, diz.
Depois de passar um tempo fora, G.C.P voltou, arrumou um trabalho e conseguiu ver os filhos, que ficou com o ex. Ela conta que registrou um Boletim de Ocorrência e que ele ainda a perseguia até um mês atrás.
“Tenho medo de denunciar tudo que passei, pois sei que a polícia não fica 24 horas perto. Já tive muita raiva, mas entrego pra Deus e agradeço o livramento, pois agora eu poderia ser só mais um número nas estatísticas”, finaliza.
No Acre, a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), realizou, durante todo mês de agosto, uma série de eventos visando divulgar a campanha nacional Agosto Lilás. Já a Patrulha Maria Penha da Polícia Militar do Acre (PMAC) iniciou, no último dia 20, uma operação de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. E o Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) iniciou a sensibilização por meio de suas redes sociais, juntamente com a Associação de Magistrados do Acre (Asmac), tendo destaque a sensibilização ocorrida por meio de suas redes sociais, onde as desembargadoras e juízas iniciaram a divulgação de fotos com o Sinal Vermelho e desafiavam outras três mulheres a também divulgarem a campanha em sua rede social pessoal. No entanto, há uma necessidade de chegar nessas vítimas que sofrem em silêncio e ficam às margens com medo de ser o próximo número computado.


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