Estava ficando difícil para o governador de São Paulo, João Doria, segurar a pressão e desviar dos pedidos dos clubes paulistas e entidades esportivas para a liberação do torcedor nos estádios. Estava ficando uma disputa desleal dentro de campo, com times em determinados Estados, como Rio e Minas, com portões parcialmente abertos enquanto que em São Paulo isso era vetado. A decisão era iminente, prometida para novembro coincidentemente com a realização da corrida de Fórmula 1 na cidade, em que o governador participou das tratativas para um contrato de parceria por mais cinco anos em Interlagos. Então, o governador voltou atrás e liberou o torcedor.
A ideia inicial era que tudo fosse aberto para o torcedor em novembro. A pressão e algum bom senso ajudaram a mudar isso. Dia 4 de outubro, o torcedor de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos estarão em seus respectivos estádios empurrando seus times em partidas e decisões.
O torcedor é bem-vindo. O futebol descobriu com a pandemia, que ainda não acabou, que a presença de público é o ativo mais importante de um jogo, tão importante quanto os jogadores, por exemplo. Sem torcida, o jogo fica sem graça, os corações não batem nem dentro de campo nem fora dele. Não há alegria e, em muitos casos, a motivação cai. Não deveria cair porque atletas profissionais deveriam superar isso, mas é inegável que o clima influencia na disputa.
Há regras para essa volta em São Paulo, o Estado mais populoso do Brasil e o de maior número de covid-19 em todos os sentidos. Em São Paulo morreu mais gente e teve e tem mais pessoas contaminadas diariamente. A decisão de Doria é tomada quando os números da doença, que vinham em queda em suas médias, dão uma piorada no Brasil. Portanto, é preciso ter atenção, cuidados e seguir regras. Cada Estado está tomando suas próprias decisões e elas são dinâmicas. Dia 17, o Estadão deu um panorama disso. Não há nada centralizado ou de um comando unido. O governo federal foi incapaz de fazer isso. A CBF também largou mão e entregou às federações, como sempre faz. E casa região tem números diferentes da doença.
São Paulo tem a chance de dar bons exemplos. Apresentar os documentos de vacinas e fazer os testes PCRs serão obrigatórios. Não ‘arrume’ documentos falsos porque se isso acontecer você poderá se contaminar ou mesmo passar a doença, caso a tenha e não saiba, para outros. Digo isso porque já ouvi dizer que há por aí atestados falsos de vacinação e testes. Meu Deus! Vale lembrar que mais de 500 pessoas morrem diariamente de covid-19 no Brasil e o vírus ataca cada cidadão de forma diferente, não há uma maneira única de ele debilitar suas vítimas. Portanto, todo cuidado é pouco. E talvez seja para sempre. Precisamos voltar, mas com inteligência, sem riscos, com cautela.
Para os clubes de São Paulo, os portões abertos significam dinheiro em caixa também. Ingressos não serão vendidos em dias de jogos, como é há anos. A carga será nesse momento de 30% da capacidade total do estádio. Os times estimam ganhar por mando até R$ 2 milhões. Ou um pouco mais do que isso num borderô bruto. Novos gastos serão feitos com organização, por exemplo, e limpeza. No Brasileirão, os quatro times paulistas devem mandar entre oito e nove partidas.
A liberação do público em São Paulo também deve ajudar as agremiações a impulsionar seus programas de sócios-torcedor, de modo a ter novamente uma fonte de rende interessante neles. Com a pandemia e a economia do Brasil em frangalhos, com inflação e sem emprego, muitos deixaram de pagar o programa porque não estavam se valendo de seu benefícios. Podem apertar o cinto e voltar agora.
A secretária de saúde do Estado de São Paulo, assim como o comando dos órgãos de combate à covid-19, estará de olho nesse torcedor. Não está descartada a possibilidade de repensar a decisão caso os números de mortes e contaminados aumentem no Estado e no País, como um todo. No jogo da seleção brasileira em Manaus, em outubro, contra o Uruguai, pelas Eliminatórias, o governo local também já autorizou a presença de torcida. Era para ter sido no jogo que não aconteceu entre Brasil e Argentina, na Neo Química Arena, mês passado. Mas as autoridades não se organizaram a tempo disso.