Mais de 450 filhos de imigrantes nasceram no Acre entre 2011 e 2019, aponta IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no final de agosto, um levantamento relacionado a casamentos, mortes e nascimentos de imigrantes em todo o país. O levantamento foi feito pelas estatísticas do Registro Civil com divulgação de tabelas com dados entre 2011 a 2019.


Segundo o levantamento, 457 crianças nasceram de mães imigrantes durante este período no Acre, sendo 231 do sexo masculino e 226 do feminino. Os casos são de mães nascidas no exterior, mas que tiveram seus filhos no estado acreano.


As cidades que registraram esses nascimentos são, em sua grande maioria, as de fronteira – que é a região que esses grupos se concentram para entrar no Brasil


Os nascimentos foram registrados nas cidades Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, onde ocorreu a maioria dos nascimentos, e Santa Rosa do Purus.


Além disso, os dados mostram que 440 imigrantes se casaram no estado acreano no período avaliado – sendo 220 homens e 220 mulheres, que oficializaram alguma união.


Já sobre mortes de imigrantes, o Acre registrou 87, sendo que os homens foram as maiores vítimas, totalizando 64 mortes e ainda 23 mulheres. O levantamento não detalha a causa da morte desses imigrantes, mas também lista as cidades onde elas ocorreram: Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia e Santa Rosa.


Minusca Centime esperando ter o filho no Acre em 2014 — Foto: Rayssa Natani/ G1/Arquivo

Minusca Centime esperando ter o filho no Acre em 2014 — Foto: Rayssa Natani/ G1/Arquivo


Rota de entrada e saída

Em 2010, o Haiti foi atingido por um forte terremoto. Na época, pelo menos 200 mil pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas, 4 mil foram amputadas e o país registrou um milhão de desabrigados. Com a crise no país, os haitianos começaram a buscar oportunidades no Brasil e, para isso, usaram o Acre como principal rota de entrada.


Em 2013, o Acre chegou a decretar situação de emergência social por causa do surto de imigração.


Por terra, os estrangeiros seguiam até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passavam por Piura, Lima, Cuzco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com a cidade acreana de Assis Brasil e, dali, para Brasileia, também no Acre. Abrigos foram montados na região do Alto Acre no boom da chegada desses imigrantes – entre 2013 e 2014.


Em março de 2014, o abrigo da cidade Brasileia foi desativado e o grupo passou a ir para um abrigo na capital e o governo e se mobilizou para que os imigrantes saíssem do estado por meio de voos fretados e também ônibus que os levavam às cidades do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Naquele momento, os imigrantes entravam no país em busca de empregos.


Ainda em 2016, começou a ser registrado o fluxo desses mesmos imigrantes fazendo a rota inversa, agora de saída do Brasil para outros país e, mais uma vez, o Acre se tornou corredor de passagem para esses grupos. Apesar de haitianos serem a maioria, há também outras nacionalidades, como senegaleses, venezuelanos e outros.


Foi nessa mesma época, que o número de entrada desses imigrantes caiu em até 96%.


O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre daquela época, Nilson Mourão, já explicava que a saída se dava porque os imigrantes queriam retornar para seu país ou até seguir para outros países como México, Estados Unidos e Canadá.


Desde de 2018, o Estado entrou com uma ação contra a União para conseguir o ressarcimento de mais de R$ 12 milhões que gastou em ajuda humanitária. O procurador do Estado na época, Armando Melo, disse que, primeiramente, o governo queria que a União reconhecesse que o acolhimento humanitário, de forma massiva, e que deveria ser de responsabilidade do governo federal e não do Estado, como foi o que ocorreu durante a entrada dos imigrantes entre 2010 e 2016.


Casa de Passagem em Assis Brasil ainda recebe imigrantes  — Foto: Quedinei Correia/ Arquivo pessoal

Casa de Passagem em Assis Brasil ainda recebe imigrantes — Foto: Quedinei Correia/ Arquivo pessoal


Fronteiras fechadas

A questão migratória no estado se agravou mais ainda em março do ano passado, quando foram registrados os primeiros casos de Covid no estado. Com a pandemia, economia ruim e demissões, mais imigrantes começaram a chegar no Acre para poder conseguir sair do país. A maioria chega de avião em Rio Branco ou usam as rotas terrestres até a cidade de Assis Brasil.


Com os casos de Covid-19 aumentando, o Peru decidiu fechar as fronteiras com o Acre para evitar entrada e maior proliferação da doença no país. Em maio do ano passado, com alguns casos de Covid dentro dos abrigos de imigrantes montados em escolas de Assis Brasil, a prefeitura da cidade chegou a cobrar rigidez nas medidas de segurança sanitária.


Em março do ano passado, devido à pandemia e o número de imigrantes, a prefeitura decretou emergência na cidade e já pedia intervenção do governo federal.


Um ônibus com imigrantes chegou a ficar retido e foi liberado após algumas negociações. O número de imigrantes na cidade, segundo a prefeitura, chegou a 70 e 80 por dia, mas, sempre mudando e oscilando, dependendo de algumas aberturas do lado peruano.


Já no início deste ano, esse número caiu drasticamente e cidade chegou a ficar apenas com um imigrante. Com o novo aumento dos casos de Covid-19, o Peru fechou a fronteira novamente. A Secretaria de Segurança Pública do Acre disse que o Ministério de Relações Exteriores está em tratativa com o governo peruano, que, segundo ele, passa por um momento de instabilidade política e, portanto, o Brasil tem encontrado dificuldades em resolver a situação.


Atualmente, o número voltou a crescer nas cidades de fronteira, porque o Peru decidiu expulsar imigrantes com documentação ilegal no país.


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