Captação de água no Rio Acre pode estar acima do limite, alerta especialista

O doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos hídricos, da Universidade Federal do Acre (Ufac), José Genivaldo Moreira falou ao Jornal do Acre 1ª Edição dessa sexta-feira (3) sobre alguns fatores que acabam interferindo nos eventos extremos registrados no Rio Acre.


Todos os anos, os acreanos se deparam com dois cenários: seca severa e cheia dos rios. Para ele, os eventos extremos dos rios têm relação com sua ocupação e o uso dos recursos, que, com o tempo, essa crise se intensifica diante de uma tendência de agravamento nos próximos anos.


“Esses eventos extremos ocorrem tanto em decorrência de fatores globais, como regionais. Os fatores globais são mais difíceis de controlar, porque eles requerem uma política em macro escala entre as nações, por outro lado, os fatores em escala regional entram as queimadas, a captação sem controle de água e o fato de não pôr em prática a legislação no que tange os recursos hídricos e, principalmente, sobretudo na capital Rio Branco, que não houve um planejamento capaz de acompanhar o crescimento populacional”, diz.


O professor revelou ainda que há um estudo feito na Ufac que avalia a hipótese de a captação de água no Rio Acre já ultrapassar o limite para ele.


“É uma hipótese de que já estamos captando além do que o rio pode oferecer, de modo que possa comprometer os ecossistemas que dependem desse curso d’ água e pode, inclusive, comprometer a oferta futura de água, mas isso ainda são hipóteses, requer ainda um estudo, um embasamento científico para responder esses pontos”, explica.


Moreira enfatiza ainda que a captação feita no Rio Acre começou ainda em 1967 e que nunca houve um planejamento para atenuar os impactos dessa captação.


“Então, é urgente, é preciso que se haja um esforço dos órgãos públicos com a sociedade civil organizada no sentido de promover medidas de atenuação desses impactos, sobretudo nessas épocas de eventos extremos. De modo que esse planejamento acompanhe o crescimento populacional e econômico da cidade de Rio Branco e que pense em outras formas de captação como já é feita em outras cidades; a exemplo da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, que tem o reservatório construído nos anos 70, quer dizer, estamos aí numa defasagem de mais de 40 anos”, pontua.


Para o pesquisador, esses reservatórios iriam auxiliar no abastecimento da cidade de Rio Branco e também amenizariam o impacto dessa captação no Rio Acre.


“Além disso, existem outras fontes renováveis de captação de água, sobretudo no meio rural, uma vez que o Acre está em expansão do agronegócio e precisa pensar no uso racional desses recursos. No Vale do Acre já há um crescimento muito acelerado da produção de soja e isso requer água e para o Vale do Juruá, o café, sobretudo, vem crescendo muito entre os pequenos produtores e a gente precisa ter um planejamento a longo prazo para que não falte água e não venha comprometer a economia do estado”, finaliza.


O Departamento de Água e Saneamento do Acre (Depasa) disse ao G1, em nota, que já há estudos sobre novos pontos de captação, considerando inclusive a ação emergencial realizada recentemente na ETA II.


Ressaltou ainda que está aberto para avaliar os estudos propostos com relação à captação de água, mas lembrou que daqui há alguns meses, esse serviço será de responsabilidade da prefeitura.


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