Os juros estão subindo mais depressa, conforme mostra a alta determinada pelo Banco Central neste mês. Isso vai atingir em cheio a possibilidade de reação do mercado de trabalho no Brasil, segundo entidades ligadas a empresas e sindicatos. A expectativa de economistas é de uma taxa de desemprego fechando o ano acima dos 14,6% atuais. E o universo de brasileiros sem trabalho não vai diminuir. Segundo dados do IBGE, está faltando trabalho para 33 milhões de pessoas.
Isso porque os juros mais elevados vão reduzir o consumo, afetando as vendas das empresas, que por tabela suspendem ou adiam planos de retomada de produção ou expansão do negócio. Mesmo as companhias que decidirem ir adiante com os planos terão que gastar mais com empréstimos elevados para bancar o projeto.
A Selic que vinha subindo apenas 0,75 ponto percentual a cada 45 dias, avançou 1 ponto percentual no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), atingindo 5,25%. E o órgão do governo responsável pelo mercado financeiro já avisou que vai subir novamente os juros básicos para 6,25% em setembro. Segundoestimativas de mercado, a taxa básica de juros vai subir até 7,25% neste ano, pelo menos.
Tudo isso para segurar a inflação. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial de inflação do governo, já atingiu 9% em 12 meses -a pior marca em cinco anos. A inflação tem subido mesmo depois que o Banco Central passou a elevar os juros, em março.
Veja a inflação acumulada nos 12 meses anteriores a cada um dos meses abaixo:
Jan.2021: 4,6%Fev.2021: 5,2%Mar.2021: 6,1%Abr.2021: 6,8%Mai.2021: 8,1%Jun.2021: 8,4%Jul.2021: 9%
Como juros afetam o emprego
Os juros mais elevados encarecem o crédito e aumentam o rendimento das aplicações financeiras. Isso desestimula o consumo porque fica mais caro parcelar compras ou financiar um novo imóvel. Ao mesmo tempo, fica mais interessante para o consumidor aplicar o dinheiro em vez de gastar.
O que o Banco Central está fazendo então é aumentar a dose desse remédio para ver se consegue conter a febre da inflação. O problema é que essa droga tem efeitos colaterais, dizem economistas.
Um aumento mais rápido dos juros vai estimular a poupança em detrimento do consumo, e o crédito vai encarecer. São dois fatores contrários à geração de emprego e renda.
Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e professor doutor do Programa de Pós-graduação em Economia Política da PUC-SP
O impacto dos juros mais altos na economia real pode demorar de três a nove meses para ser sentido.
Veja no gráfico abaixo que, quando os juros sobem, a taxa de desocupados começa a aumentar também, mas de forma mais espalhada. A queda dos juros após 2016 vinha tendo como resposta uma redução lenta do desemprego.
Mas esse movimento foi interrompido no fim de 2019 por causa da pandemia. Mesmo com os juros ainda caindo, o desemprego continuou subindo. A nova alta da Selic agora pode provocar nos próximos meses um novo movimento de alta do desemprego, apontam economistas.