Jaunel Ilora explica que os parentes desaparecidos moram na região sul do país, local bastante afetado pelos tremores que deixaram mais de 700 mortos
O terremoto de grande magnitude que deixou centenas de mortos e um rastro de destruição no Haiti neste último sábado (14) gerou muita preocupação para Jaunel Ilora, haitiano que vive há 5 anos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Ele conta que há mais de 24 horas tenta, sem sucesso, fazer contato com cinco pessoas de sua família —um primo e esposa, com mais três filhos do casal. Todos vivem na região sul do país, local bastante afetado pelo tremor. Até o momento, 724 pessoas perderam a vida. As cidades de Cayes e Jérémie, no sudoeste do país, foram as mais atingidas.
“É algo desesperador. Se soubesse que estão em algum hospital, ou vivos, já era um alívio. Agora não tenho nenhuma notícia e estou ficando aflito por não poder fazer nada daqui do Brasil”, lamenta.
Conforme Jaunel, a preocupação é tanta pela falta de informação porque em 2010, quando ocorreu outro grande terremoto no Haiti, um dos maiores da história do país, ele perdeu 13 pessoas da família. Na ocasião, foram mais de 200 mil mortos na tragédia.
“Não eram amigos, era gente do meu sangue. Meus familiares que até hoje sinto muito falta. Por isso que estou com o coração tão apertado”, explicou ao G1.
Apesar da aflição, o professor ressalta que conseguiu falar com os pais e alguns de seus irmãos. Ele reforçou que todos estão bem e que tiveram perdas apenas materiais.
Ainda de acordo com Jaunel, na tarde deste domingo (15), parte da comunidade haitiana em Campo Grande irá se reunir para fazer um levantamentos das famílias que tem parentes nas áreas afetadas pelo tremor.
“Vamos tentar descobrir se alguém aqui perdeu parente e também queremos ajuda do Brasil, para que permita-nos trazer pessoas próximas a nós. Isso só seria possível facilitando a questão de documentação”, opina.
O terremoto
A terra tremeu às 8h30. O epicentro estava no sudoeste do país, na ponta da península Tiburon. Les Cayes e Jeremie foram as cidades mais atingidas; 130 mil pessoas vivem nessa área.
A magnitude do terremoto foi de 7,2, maior que a registrada no terremoto de 2010, que teve intensidade 7 e atingiu a capital, Porto Príncipe, matando mais de 200 mil pessoas. O epicentro do terremoto deste sábado fica na mesma falha geológica que causou o terremoto de 2010, onde se chocam as placas tectônicas da América do Norte e do Caribe. O tremor foi sentido em todas as ilhas do Caribe.
O editor do principal jornal do Haiti descreveu assim o terremoto: “Lentamente, fortemente, durante longos segundos, o Haiti tremeu.”
Crise política e humanitária
O terremoto atinge o Haiti em um momento de forte crise política, que é anterior até mesmo ao assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho deste ano.
Moïse dissolveu o Parlamento e governava por decreto havia mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.
Depois do assassinato do presidente por um grupo de mercenários, um governo interino assumiu o controle do país até a realização de novas eleições.
A nação mais pobre das Américas tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado.
Nos últimos meses, o Haiti enfrentava também uma crescente crise humanitária, com escassez de alimentos e aumento nas taxas de violência.
O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).
O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.
Nos Estados Unidos, o presidente Biden anunciou o envio imediato de ajuda humanitária ao Haiti, como aconteceu depois do terremoto de 2010. A embaixadora Samantha Powell é quem vai cuidar desta operação. Biden disse que os EUA ajudarão na reconstrução depois de mais essa tragédia.