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Estudo da USP mostra que malária desenvolve anemia em crianças de Cruzeiro do Sul

Estudo realizado em Cruzeiro do Sul por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Saúde Pública, ambos da Universidade de São Paulo, mostra que as crianças que tiveram malária recente ou episódios repetidos têm risco aumentado para desenvolverem anemia aos dois anos.


Já a malária na gestação foi associada a baixos níveis de hemoglobina materna, diminuição de peso e comprimento ao nascer. Uma única ocorrência de malária transmitida pelo Plasmodium vivax(veja box abaixo) foi suficiente para impactar estes resultados, sendo que os episódios repetidos tiveram efeito negativo mais pronunciado no peso e na hemoglobina materna.


Os resultados estão descritos no artigo Low-level Plasmodium vivax exposure, maternal antibodies, and anemia in early childhood: population-based birth cohort study in Amazonian Brazil, publicado no dia 15 de julho na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases. A pesquisa foi realizada pela bióloga Anaclara Pincelli com orientação do professor do ICB Marcelo Urbano Ferreira.


Os achados da pesquisa ajudam a derrubar o mito de que a malária vivax seria uma infecção relativamente “benigna” na gravidez e na primeira infância na Amazônia e servem de alerta aos gestores públicos para a necessidade de um maior controle da doença na região, com a intensificação do monitoramento da malária em gestantes e parturientes.


Segundo os pesquisadores, a anemia na infância é uma condição preocupante. Na maioria dos casos, está associada à deficiência de ferro e pode comprometer o desenvolvimento físico e neurológico, principalmente quando ocorre dos nove meses aos dois anos de idade.


Os pesquisadores utilizaram dados envolvendo 1.539 crianças acompanhadas desde 2015 pelo Projeto MINA Brasil (Saúde e Nutrição Materno-Infantil no Acre), coordenado pela professora Marly Augusto Cardoso, do Departamento de Nutrição da FSP.


Realizado em Cruzeiro do Sul, o projeto um acompanhamento de longo prazo de mães e seus bebês para avaliar aspectos da saúde e da nutrição, desde a concepção até os mil dias de vida (270 da gestação + 365 do primeiro ano + 365 do segundo ano de vida).


O período é considerado uma “janela de oportunidades” para uma série de intervenções importantes que podem melhorar o perfil de saúde da criança na adolescência e na vida adulta. A iniciativa integra o Projeto Temático Estudo MINA – materno-infantil no Acre: coorte de nascimentos da Amazônia Ocidental Brasileira, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


A malária é um fator de risco para a anemia porque o plasmódio invade as hemácias e depende de nutrientes, como ferro, para sua multiplicação, o que leva à perda desse elemento pelo organismo. E crianças dependem muito de ferro para o seu desenvolvimento. “Uma das problemáticas do P. vivax são os casos repetidos, que acabam agravando a anemia porque a pessoa infectada acaba não tendo tempo de se recuperar do primeiro episódio”, diz Anaclara. Todas as crianças do projeto diagnosticadas com anemia receberam tratamento com sulfato ferroso pela equipe de pesquisa em parceria com a Estratégia Saúde da Família do município de Cruzeiro do Sul.


Em outro estudo, o grupo de pesquisadores ainda constatou que 40% das mães apresentaram anemia no parto – uma ocorrência muito alta, que revela um problema sério de saúde pública, tanto para as mães como para os bebês.


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