Coordenador da Funai fala em “meter fogo” em índios isolados no Amazonas

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, declaração foi dada pelo tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva, durante reunião em uma aldeia no dia 23 de junho

Coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Vale do Javari, no Amazonas, o tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva incitou lideranças do povo marubo a disparar contra índios isolados caso eles estejam causando transtornos. A declaração, gravada em áudio, foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (22).


Em reunião na aldeia Paulinho, no dia 23 de junho, o coordenador afirma que iria “entrar em contato com o pessoal da Frente (de Proteção Etnoambiental) e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”.


No áudio, Henry disse ainda que “são eles que estão saindo do território deles para importunar os marubos”, e segue alegando que o povo da aldeia deve se defender.


— Não estou aqui pra desarmar ninguém, também não estou aqui pra ser falso e levantar bandeira de paz. Eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra, mas se a guerra vier, nós também não vamos correr. Se vierem na terra de vocês, vocês têm todo o direito de se defender — afirmou.


A Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari — que não é subordinada à Coordenação Regional da Funai — investiga o suposto aparecimento dos isolados nessa região do Rio Ituí.


Conforme a Folha, os índios isolados raptaram uma mulher de 37 anos da aldeia dos marubos, que foi encontrada na mata com as mãos amarradas após quatro hora de busca. Essa teria sido a terceira tentativa de rapto da mulher desde o final de 2020.


No áudio, o coordenador da Funai alega ainda que as atitudes dos isolados não podem ser justificadas, visto que eles falariam português e possuem contato com a Frente e, por isso, deve ser tomada uma “providência para evitar um mal maior”. No entanto, a Folha de S.Paulo esclareceu que não há povos isolados que falam português e que Henry, que está há um ano no cargo, pode ter se confundido com os korubos.


A Funai, em Brasília, ainda não emitiu posição sobre o áudio divulgado.


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