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“A sensação que tenho é que meu pai deu a vida por nada”, diz filha de Chico Mendes sobre destruição de Resex

Floresta nativa perdeu 13 km² mês passado, segundo Imazon; venda de lotes e gado ameaçam sobrevivência de seringais e castanheiras

Símbolo da luta ambientalista no Brasil, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes foi a terceira mais desmatadas em junho. Só neste ano perdeu 13 km² de floresta nativa, segundo dados do Instituto Imazon. O desmatamento na reserva passou a chamar atenção a partir de 2019, quando foram destruídos 68 km². Em 2020, a área de floresta derrubada aumentou 48%, atingindo 101,3 km².


Luiza Carlota, vice-presidente da Associação de Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes em Epitaciolândia e Brasileia (Amopreb), afirma que a reserva está sendo loteada e moradores tradicionais, que trabalhavam na extração de látex e coleta de castanha, estão transferindo suas posses para terceiros depois que chegou à Câmara dos Deputados um projeto de lei que propõe a redução da área da unidade de conservação.


— Tem muita fake news e boato que a reserva será diminuída e as pessoas não terão onde trabalhar. Um vai falando para o outro e o estrago está feito. Muita gente acaba vendendo sua colocação dentro da reserva. E cada pessoa nova que chega, desmata — diz Luíza.


Segundo ela, a associação chegou a fazer um protesto em março de 2020 e pediu a intervenção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão das unidades de conservação no país, mas nada aconteceu.


Ao apresentar o projeto de lei (PL) 6024, em novembro de 2019, a deputada Mara Rocha (PSDB) afirmou que pequenos produtores rurais já tinham plantações e gado na área antes da criação da reserva e estavam agora sendo impedidos de trabalhar por fiscais ambientais. A Resex Chico Mendes tem 9.705,7 km². A área a ser reduzida pelo PL seria de cerca de 222 km².


Reservas de uso coletivo


A ideia de criar reservas de uso coletivo foi do ambientalista Chico Mendes, líder dos seringueiros de Xapuri (AC), assassinado em dezembro de 1988 a mando de um grileiro de terras da região. Em março de 1990 o então presidente José Sarney criou as primeiras reservas extrativistas do país. A Resex Chico Mendes foi a segunda a ser oficializada.


Júlio Barbosa, secretário da Associação de Moradores da Reserva em Xapuri e presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, afirma que, na sua região, tem sido cada vez maior o número de intrusos que entram e se estabelecem dentro da Resex, seja para criar gado ou plantar.


Segundo o Ministério Público Federal, no último Censo, em 2010, foram identificadas 2.076 famílias morando dentro da Resex Chico Mendes. A estimativa hoje é que esse número ultrapasse a marca de 3 mil.


— O pessoal vem de Rondônia e não tem ligação com a floresta. Nunca trabalharam em seringal ou coletaram castanha. São mecânicos, mestre de obras, gente que mora na cidade. A entrada deles gera um impacto muito forte e nos últimos três anos a situação pegou fogo — conta.


Barbosa afirma que muitos dos que chegam desmatam e colocam gado em parceria com fazendeiros, seja alugando a área para pasto ou trabalhando em troca de parte dos bezerros que nasçam no local.


Segundo ele, os preços da borracha e da castanha aumentaram e permitem bom rendimento aos extrativistas.


— Não justifica querer criar gado ou aumentar a plantação com monoculturas — afirma.


Barbosa diz que há pressão para plantio de café e cacau dentro da reserva. Pelas regras, explica, os extrativistas podem plantar no sistema agroflorestal, sem destruição da floresta. O perigo, avalia, é a floresta ser desmatada para atender interesses de produtores rurais.


Angela Mendes, filha de Chico Mendes, afirma que, quando a Resex foi criada, deixou de existir o conflito pela posse da terra, mas o problema está voltando.


— A sensação é que é meu pai deu a vida por nada. Está tudo indo por água abaixo.


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