Cento e vinte mil vidas brasileiras poderiam ter sido poupadas em 2020 se medidas restritivas adequadas para conter o novo coronavírus tivessem sido adotadas. Essa é a conclusão de um estudo feito pelo Grupo Alerta e apresentado pela diretora da Anistia Internacional, Jurema Werneck, à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (24).
“O Brasil poderia ter salvo 120 mil vidas no primeiro ano da pandemia se uma política de controle tivesse sido implementada”, disse ela aos senadores. Até dezembro, o Brasil havia registrado 194.976 mortes por Covid-19.
Os pesquisadores acreditam que o número de mortes poderia ter sido menor caso a oferta de vacinas fosse maior e o plano de imunização do país tivesse sido mais bem planejado desde o início.
A pesquisa aponta que, mesmo com a chegada de imunizantes, o começo da vacinação foi marcado por improvisos, falhas e ausência de metas públicas objetivas. A análise também aponta que as dificuldades com a compra de vacinas prontas e importação do IFA (ingrediente farmacêutico ativo) para o envasamento das doses no Brasil prejudicaram os trabalhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan.
O grupo de estudos chegou a essa conclusão calculando o excesso de mortes por causas naturais em 2020, quando a pandemia começou, até março de 2021. Dentro deste cálculo estão, portanto, as mortes causadas por doenças em geral e pela Covid-19.
“Considerando esse excesso nós calculamos que algumas mortes poderiam ter sido evitáveis com medidas não farmacológicas, ou seja, com isolamento social, controle de portos, aeroportos, fechamento de acesso a rodoviárias, escolas, estabelecimentos comerciais, etc.”, afirma a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia.
Foram constatadas no estudo 305 mil mortes acima do que seria esperado com base nos óbitos registrados entre 2015 e 2019, quando a pandemia ainda não havia começado. Ainda de acordo com Ligia Bahia, essa estimativa leva em consideração mortes diretamente causadas pelo novo coronavírus e por atrasos de diagnóstico da doença ou falta de tratamento.
O estudo também aponta que, até março de 2021, poderiam ter sido registrados 40% óbitos a menos somente com medidas restritivas e vacinação. Os dados foram coletados com base em relatórios científicos publicados nas revistas Science e Nature.
A falta de investimento e estrutura em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) poderia ter evitado, ainda de acordo com o levantamento, 20.642 mortes de pessoas à espera de um leito. A maioria das mortes em pronto-socorro foram registradas em hospitais públicos.
Entre as ações sugeridas pelo grupo estão uso de máscaras, distanciamento, restrição de mobilidade e de aglomerações, entre outras.
“Enquanto as vacinas — medidas específicas de prevenção — e medicamentos não estavam disponíveis, havia medidas comprovadamente capazes de controlar a pandemia, através da redução de transmissão”, diz o texto.
A CNN procurou o Ministério da Saúde para comentar a pesquisa, mas ainda não houve retorno.