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Envolvido na morte da missionária Dorothy Stang é investigado por desmatar e ameaçar moradores de área protegida no AC

Apontado como intermediário namorte da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, é investigado pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) por desmatar uma área de 600 hectares, além de criar gado e ameaçar moradores da unidade de conservação ambiental Floresta Estadual Antimary (FEA). A unidade fica localizada na BR-364 entre Sena Madureira e a cidade do Bujari, interior do Acre.


“Apesar de Dorothy, as pessoas ainda morrem no campo”, alerta ambientalista após 15 anos da morte de missionária no PAEvento online faz homenagem à missionária Dorothy Stang


Amair Feijoli também é alvo da Polícia Civil de Sena Madureira e ações de combate ao desmatamento e invasões de terra do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) e Secretaria de Meio Ambientel Estadual (Sema).


Em janeiro de 2021, um grupo de 40 pessoas, entre moradores e invasores da região, procurou a Promotoria de Justiça de Sena Madureira para denunciar que Amair Feijoli havia se mudado para uma fazenda na localidade e estaria fechando alguns ramais (estradas de terra), retirando madeira ilegalmente e criando gado. A partir daí, o MP-AC iniciou as investigações e instaurou o procedimento.



Amair Feijoli foi condenado a 18 anos por intermediar a morte de Dorothy Stang. Segundo a Justiça do Pará, foi ele quem contratou os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista para assassinar a missionária a mando de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão.


Dorothy Stang foi assassinada em 2005 — Foto: Divulgação.


Dorothy foi morta a tiros em Anapu, sudoeste do Pará, por lutar pela reforma agrária. Ela coordenava projetos de uso sustentável da floresta em áreas de assentamento do Incra e sofria ameaças de madeireiros na época.


O G1 apurou que a família de Amair Feijoli se mudou para o Acre em 2020. Contudo, ele continua mantendo residência no Pará, onde também teria terras. A reportagem entrou em contato com a família de Feijoli e aguarda um posicionamento do advogado dele.


A reportagem tentou também ouvir o promotor de Justiça responsável pelo procedimento preparatório, Luiz Henrique Correa Rolim, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.


O G1 também aguarda posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado do Pará sobre a situação do acusado, mas na última movimentação aberta do processo costa que o acusado cumpre pena em regime aberto, tendo que cumprir algumas medidas judiciais.


Ameaças


Ao G1, uma moradora que faz parte do grupo que foi até MP-AC denunciar o caso, e pediu para não ter o nome divulgado, contou que saiu da Floresta Estadual do Antimary com medo das ameças após Amair Feijoli se mudar para a região.


“Vivia todo mundo calmo lá dentro, quando venderam essa terra para esse Amair foi que começou o desespero. Ele ameaça a gente, passa e diz que é dele, que tem documento. Diz que a área é toda dele, que é para o pessoal sair de dentro. Se não sair por bem, sai por mal, que ninguém sabe do que ele é capaz”, relembrou.


Atualmente, a mulher trabalha em uma fazenda no Ramal Cassirian, zona rural de Sena Madureira. A moradora explica que a propriedade comprada pela família de Amair Feijoli fica no Projeto de Assentamento Wilson Lopes, e fica na parte de trás da floresta. Com isso, os novos moradores passaram a derrubar a mata


Em fevereiro, a polícia ambiental foi acionada porque Feijoli teria fechado um ramal utilizado pelos moradores para retirada das produções. A equipe foi até o local, fez o boletim de ocorrência, mas ainda não sabia quem era a pessoa.


“Chamaram a polícia porque ele estava fechando o ramal e descemos para denunciar. Comprou a terra no projeto, que fica nos fundos da reserva e está aproveitando para invadir. Diz que é acostumado a grilar terra lá onde mora, que é acostumado com isso e essa terra é muito fácil dele ganhar”, alegou a moradora.


Unidade de conservação ambiental


A Floresta Estadual Antimary foi arrendada pela União em 22 de junho de 2005. O decreto foi publicado no decreto no Diário Oficial da União (DOU). Em 2014, a Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis acre (Sedens), publicou um decreto dos Planos de Manejo das Florestas Estaduais do Rio Gregório, do Rio Liberdade, do Mogno e do Antimary.


A unidade de conservação ambiental permite a presença de moradores no seu interior. Em 2019, eram 50 moradores assentados regulamente, atualmente são 53 famílias que vivem do manejo florestal da coleta da castanha, açaí, agricultura, pecuária de corte, criação de aves, de porcos, carneiros e venda de frutas e verduras. Há ainda a presença de invasores na localidade.


À Rede Amazônica Acre, o secretário de Meio Ambiente do Acre (Sema), Israel Milani, explicou que a pasta voltou a receber denúncias de pessoas invadindo a localidade no início de 2020. Com essas informações, a Sema acionou o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) e o Imac e enviou equipes até o local para averiguar as denúncias.


Após os invasores serem expulsos, a Sema refez o cadastramento das 53 famílias que vivem na unidade, inclusive com instalação de pontos de GPS nas moradias, e notificou o MP-AC e a Procuradoria-Geral do Estado (PGE-AC) sobre os fatos.


“A Sema é gestora da política pública ambiental, fazemos a gestão da floresta. A partir do momento que constatamos os ilícitos, encaminhamos para as entidades fiscalizadoras, que é o BPA e o Imac. Então assim, a partir do momento que temos desmatamento dentro da Floresta do Antimary, temos a questão da venda de madeira, de caça ilegal, a Sema informa ao secretário, que faz um ofício encaminhando para os órgãos fiscalizadores e, eles sim, podem tomar as decisões de ir lá e coibir esse tipo de ilícito”, disse Milani.


Ainda segundo o secretário, a unidade de conservação ambiental tem sido fiscalizada e monitorada anualmente, até com voos das equipes da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), para combater o desmatamento e ações de invasores.


“Só em 2020 quase quadriplicamos as ações de ordens de comando e controle. Demandamos os órgãos fiscalizadores, eles foram lá e tivemos também, desde o ano passado, um apoio muito forte do Ciopaer com o Hárpia 4 fazendo essas fiscalizações. Nesse fim de semana, o Hárpia 4 estava nessa região dando um apoio na regional do Jurupari e em Cruzeiro do Sul também, mas fizemos um sobrevoo para dar uma presença do estado na Floresta do Antimary”, destacou.


Denúncias


Foi em uma dessas ações de combate que o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) descobriu o envolvimento de Amair Feijoli da Cunha no local. As equipes ambientais fizeram algumas operações na região em 2019 chegaram a prender 16 pessoas suspeitas de invasão, encontraram áreas abertas no meio da mata e retirada ilegal de madeira.


Foram achados também alguns moradores que já tinham se instalado na comunidade. Até aquele momento, a polícia tinha apenas ouvido alguns moradores e invasores mencionarem o nome de Amair Feijoli, mas não sabia quem era ele. Em 2020, as equipes voltaram ao local, mas não acharam mais invasores e foi feito um relatório e entregue ao MP-AC. Em contraponto, as pessoas que tentavam se instalar ilegalmente na área chegaram a denunciar as equipes ao MP-AC contra a ação de retirada.


A denúncia acabou arquivada após o BPA comprovar o desmatamento com imagens de satélite. O comandante do BPA, major Kleison Albuquerque, revelou que em janeiro deste ano a polícia voltou à localidade após receber novas denúncias de invasões de desmatamento na área. Foi montada uma operação do BPA e o Imac para veriguação.


Ao chegar no local identificado, uma mulher se apresentou como dona de uma área que tinha sido comprada recentemente. Nessa área, a polícia achou um desmatamento de cerca de 80 hectares. A suposta proprietária foi multada pelo Imac.


“Uma pessoa falou que tinha comprado a área e deu o nome da proprietária, que era Patrícia Coutinho da Cunha. Quando recebemos essa notificação do Ministério Público consultei o boletim e fui ver que o pai da Patrícia se chama Amair Feijoli. Só com o documento do Ministério Público que fomos perceber que se tratava dessa pessoa [envolvido na morte de Doroty] porque quem se apresentou como proprietária foi essa Patrícia, que é filha dele. Se apresentou para a gente normal, mas quando mostrou os dados o nome do pai dela constava no B.O, mas a gente não tinha ideia de quem era a pessoa”, acrescentou.


Albuquerque falou que comunicou o MP-AC do envolvimento do acusado na morte da missionária nas ações irregulares na região. Segundo o major, as equipes continuaram monitorando a área da família de Feijoli e perceberam, pelas imagens de satélite, que a região não tinha sido mais desmatada até o final do mês de maio.


Porém, novas imagens de satélite do final de maio até o dia 15 de junho mostram que a região voltou a sofrer com a ação do homem.


Em uma das fotos captadas, aparece a propriedade da família de Feijoli. As áreas destacadas em vermelho são as que foram desmatadas recentemente pelos moradores. Mais abaixo, aparece uma clareira aberta no meio da mata.Veja imagem abaixo.


Nessa segunda-feira (21), os órgãos fiscalizadores se reuniram para traçar as propostas de ações na unidade. A ideia é fazer uma operação emergencial na localidade para flagrar as irregularidades.


“Nos reunimos para fazer uma ação emergencial lá com a equipe, tanto do Batalhão Ambiental como do Imac e com o representante da Sema, só que isso é ação de comando e controle. Ações ilegais sobre a reintegração da área cabe ao Estado e acredito que já vem sendo tomada a providência. Pessoal da Sema informou que a PGE foi comunicada, o Ministério Público tem conhecimento dos fatos e as providências estão sendo tomadas”, concluiu.


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