Um misto de sentimentos que envolve felicidade, alívio e gratidão. Foi o que sentiu a enfermeira Janaína Negreiros ao vacinar o marido Luiz Carlos da Silva Negreiros, de 48 anos, na tarde dessa quinta-feira (17) no mutirão em frente ao Palácio Rio Branco, que vacina pessoas com idade a partir de 45 anos.
A profissional de saúde que perdeu os pais para a doença em um intervalo de 24 horas, e junto com o marido também foi contaminada pela doença, contou ao G1 que no ano passado quando teve Covid e transmitiu a Negreiros se sentiu culpada por ter levado a doença para casa. Porém, agora ela comemora estar levando esperança.
Janaína atua no Centro Estadual de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) e atua com vacinas especiais. Ela conta que no exercício da profissão, além de ter sido contaminada pela doença, teve que lidar com o sentimento de culpa de ter ‘levado’ o vírus para casa.
“Ano passado, em setembro, fui diagnosticada com Covid e na época eu trabalhava em Cruzeiro do Sul e meu esposo pegou Covid de mim. Ele ficou 12 dias internado no Into e fiquei muito mal naquela situação porque eu tinha transmitido para ele, que ficou com 45% do pulmão comprometido. Foi também um momento muito difícil porque a gente além de ser profissional, ainda carrega a culpa de transmitir a doença aos familiares no exercício da profissão. Isso é um conflito muito grande de sentimentos”, desabafou.
Mas, o dia tão esperado da imunização do esposo chegou e ela pode comemorar o momento tão esperado de ele ser vacinado e o melhor: a dose de esperança foi dada pelas mãos dela.
“Ontem [quinta,17], foi o contrário. Pude proporcionar para ele a possibilidade da cura, do anticorpo, da vida, o contrário do que já tinha acontecido em setembro e foi uma sensação muito grande de felicidade, gratidão e esperança porque a gente sempre tem os dias ruins, mas, eles passam e depois vêm os bons. Ontem foi um dia bom”, disse emocionada.
Perda dos pais
O momento marcante na vida de Janaína ocorre seis meses depois de ela perder os pais, o casal de aposentados Morcina Maria Barroso da Costa, de 68 anos, e José Barbosa da Costa, de 71, que não se desgrudavam em nenhum momento ao longo dos 48 anos de casamento.
No dia 25 de janeiro deste ano, Morcina não resistiu e morreu vítima da doença. Mais de 24 horas depois, no dia 26, José Barbosa também faleceu em decorrência da Covid-19. Os dois eram pais de três filhos, tinham oito netos e uma bisneta, que não chegaram a conhecer porque ela nasceu quando eles já estavam internados. Em dezembro de 2020, o casal celebrou 48 anos de casamento.
“Sou defensora das vacinas já de muito tempo, sei da importância dela. Bem quando meus pais estavam internados na UTI foi quando foi autorizado. É difícil até hoje falar. Esperando aquela mobilização por parte da Anvisa com esperança que eles sobrevivessem para poder ter tempo de tomar a vacina e, infelizmente, para eles não foi possível, mas está sendo possível para muita gente e o que eu puder contribuir para que as pessoas possam ter direito a esse acesso, como cidadã e profissional de saúde vou fazer”, acrescentou.
Janaína ainda lamentou o fato de muitas pessoas estarem rejeitando a vacina. A enfermeira diz que ao longo dos anos, a vacina já evitou o agravamento de muitas doenças e outras até foram erradicadas no país.
“Quando vejo pessoas menosprezando ou rejeitando a vacina, fico muito triste, magoada porque muitas pessoas que queriam ter a oportunidade não tiveram e quem tem não está valorizando, dando a devida importância e isso é muito triste porque pode levar a outras pessoas que, não tem nada a ver, ao risco”, pontuou.