Identificada pela primeira vez no Brasil em 2001, sendo desde então monitorada e pesquisada por vários centros públicos e privados do país, a ferrugem asiática da soja, uma doença causada por fungo, já chegou ao Acre e passa a ser um motivo de grande preocupação para produtores e para o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf).
De acordo com o Consórcio Antiferrugem, uma parceria público-privada no combate à ferrugem asiática da soja, essa doença é considerada a principal na cultura da leguminosa e possui um custo médio de US$ 2,8 bilhões por safra no Brasil. O consórcio conta com aproximadamente 100 laboratórios cadastrados em todo o país, capacitados para identificar a praga.
A informação da chegada da ferrugem asiática ao estado foi dada pelo professor Josimar Ferreira, vice-reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), que é engenheiro agrônomo e tem mestrado e doutorado em fitopatologia. De acordo com ele, a identificação se deu em duas propriedades do município de Capixaba.
Josimar Ferreira trabalhou com a ferrugem asiática da soja no estado de Minas Gerais e diz que o problema é de fácil disseminação, podendo transpor grandes extensões por via aérea, vento, máquinas e implementos agrícolas.
“Seus esporos são deslocados pela corrente de ar causando contaminação em áreas novas. A questão é falta de fiscalização sanitária, adoção de medidas de vazio sanitário, com pelo menos 90 dias sem ter a cultura plantada. Nossos produtores, em alguns casos, não têm aplicado a questão de vazio sanitário. Isso significa que não tem como aplicar a cultura da safrinha para a soja”, explicou Josimar Ferreira.
O vazio sanitário citado pelo engenheiro agrônomo é o período de, no mínimo, três meses em que não se pode semear ou manter plantas vivas de soja no campo. A medida objetiva reduzir a sobrevivência do fungo causador da ferrugem asiática durante a entressafra e assim, atrasar a ocorrência da doença na safra, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Josimar Ferreira também falou a respeito da gravidade do problema no que diz respeito aos danos que pode causar às plantações e o prejuízo que tem a capacidade de gerar para os produtores. De acordo com ele, os danos são tão severos que em algumas situações o produtor não consegue colher nada, pois a planta não consegue produzir. Ele chama atenção para a necessidade de adoção de medidas preventivas.
“O efeito na cultura é devastador e o controle não é fácil. Você precisa de equipamentos, você precisa aumentar as doses dos produtos químicos, aí eu estou falando dos fungicidas, que são produtos que em muitas das situações levam à quebra da resistência, não fazendo efeito contra a doença. É necessário o manejo preventivo, com a rotação de cultura (soja/milho), evitando a safra/safrinha da soja”, disse ele.
O engenheiro agrônomo Samuel Almeida da Luz, coordenador da área de Educação e Saúde na área vegetal do Idaf, disse ao ac24horas que o órgão estadual vem monitorando os plantios de soja no Acre desde 2019 e afirmou que já era sabido que a doença estava se aproximando do estado. Ele explicou que em janeiro de 2021 foi iniciado o processo de cadastramento das propriedades produtoras dentro desse trabalho de monitoramento.
“Agora vamos dar continuidade ao trabalho. A gente já sabia que isso ia acontecer, pois os esporos da ferrugem são carregados pelo vento. O Idaf vai entrar com tudo o que pode ser feito, de acordo com o que é feito no país inteiro, que é o vazio sanitário e o calendário de plantio. O controle químico por si só não controla a ferrugem da soja porque o fungo desenvolve resistência muito rapidamente, então são necessárias medidas paralelas”, destacou.
Instrução Normativa
Na última sexta-feira, 14, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou no Diário Oficial da União a Portaria nº 306, que revisa e atualiza os procedimentos previstos no Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), instituído em nível nacional pela Instrução Normativa nº 2/2007. Com base nessa normativa, o Idaf também vai construir a sua, em âmbito estadual.
A nova regulamentação passa a valer a partir de 1º de junho e entre as principais alterações está a instituição de um novo modelo de governança do programa de controle de pragas. O diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do Mapa, Carlos Goulart, diz que as medidas fitossanitárias relativas aos períodos de vazio sanitário e do calendário de semeadura passarão a ser instituídas pela Secretaria de Defesa Agropecuária.
“Essas medidas serão estabelecidas com base nas sugestões dos Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Vegetal, em articulação com as Superintendências Federais de Agricultura em cada estado, considerando ainda os dados de pesquisa científica, de monitoramento da praga na safra anterior, os resultados dos ensaios de eficiência de fungicidas, no zoneamento agrícola, entre outros”.
O Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática (PNCFS)
O PNCFS, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), visa ao fortalecimento do sistema de produção agrícola da soja, congregando ações estratégicas de defesa sanitária vegetal com suporte da pesquisa agrícola e da assistência técnica na prevenção e controle da praga.
A doença é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e considerada uma das mais severas que incidem na cultura da soja, podendo ocorrer em qualquer estádio fenológico. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção.