Nesta semana, a notícia de que um foguete chinês poderia entrar na atmosfera da Terra deixou muita gente preocupada. Para os brasileiros, a notícia parecia pior ainda, uma vez que previsões apontavam que os destroços do foguete poderiam cair no país.
Apesar da informação parecer preocupante, é possível ficar tranquilo. Cálculos realizados pela Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), pela empresa de meteorologia Clima ao Vivo e pela comunidade internacional demonstram que a chance da reentrada ocorrer em céus brasileiros é de 1,48%.
A previsão, atualizada às 18h desta sexta-feira (7), é de que o foguete entre na atmosfera por volta das 9h53 de domingo (9), pelo horário de Brasília, com margem de erro de 12 horas. Durante o período, o Longa Marcha 5B faz quatro passagens sobre o Brasil e a chance do foguete ser visto daqui é de 3%.
Mesmo com o pequeno risco de cair no país, isso não representa grandes perigos. Entre 60% e 80% do foguete de ser totalmente vaporizado antes de atingir 60 km de altitude. As partes que resistirem devem continuar se deteriorando por quilômetros até que a resistência atmosférica reduza a velocidade dos fragmentos. Os destroços restantes devem se disseminar ao longo da superfície terrestre, diminuindo a velocidade e zerando o risco de explosões.
“A cada hora que passa os cálculos são refeitos e tendem a ser mais precisos, mas o que podemos garantir é que caso a reentrada ocorra sobre o Brasil, cerca de 350 câmeras do Clima ao Vivo e da Bramon estarão registrando o evento”, disse o CEO do Clima ao Vivo, Denilson Rocha.
ara aqueles que continuam apreensivos com o desfecho do caso, vale ressaltar que objetos são abandonados em órbita e reentram na atmosfera da Terra quase todos os dias. Recentemente, foi registrado a entrada na atmosfera da Terra do foguete Ariane 5, que pôde ser visto em diversas cidades entre os estados do Pará e do Ceará.
A diferença, no entanto, é que o foguete chinês Long March 5B tem cerca 33 metros de comprimentos, cinco metros de diâmetro e aproximadamente 21 toneladas de massa. Embora os números pareçam grandes — e são–, o efeito prático será que mais detritos serão espalhados em uma área mais extensa.
Processo de reentrada
A reentrada do foguete na atmosfera da Terra tem início entre 100 km e 120 km de altitude. Ao chegar nessa altura, a compressão dos gases atmosféricos começa a formar uma bolha de plasma, que aumenta o brilho à medida que o objeto vai penetrando na atmosfera.
Quando o foguete chegar perto dos 80 km de altitude, a resistência do ar e o calor devem começar a deteriorar os destroços.
Repercussão internacional
A notícia chamou a atenção dos brasileiros, mas repercutiu no resto do mundo. Os Estados Unidos, por exemplo, também acompanham o trajeto do foguete. A questão, no entanto, não é o risco, mas o aparente descaso da China, que parece não ter se preocupado em criar alguma manobra para deorbitação segura do foguete.
“Há uma certa preocupação internacional sobre o fato de a China não ter criado manobras que pudessem garantir uma reentrada segura do foguete. De fato, pelo tamanho do objeto, pode haver detritos que alcancem o solo, porém não devem gerar grandes riscos”, ressalta Denilson Rocha.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, não disse na quarta-feira (5) se os EUA se comprometeriam a pedir à China o pagamento de uma indenização em caso de danos causados pelo foguete.
“Não estamos nesse ponto. Estamos rastreando a localização por meio do Comando Espacial dos EUA, e esperamos que esse não seja o resultado”, disse Psaki na coletiva de imprensa.
“Em primeiro lugar, o Comando Espacial dos EUA está ciente e rastreando a localização do “5B Long March” chinês no espaço e, certamente, o Comando Espacial tem mais informações sobre esse rastreamento e outros detalhes adicionais”, disse Psaki, acrescentando que os EUA “estão empenhados em abordar os riscos de congestionamento crescente devido a detritos espaciais e atividade no espaço, e queremos trabalhar com a comunidade internacional para promover a liderança e comportamentos responsáveis no espaço”.
Um porta-voz do Departamento de Defesa disse à CNN que os militares dos EUA não estão considerando uma opção de ataque cinético para desmontar o foguete. No passado, os EUA demonstraram ter a capacidade de abater detritos que entram na atmosfera.
O secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby, disse na quarta-feira (5) que o Comando Espacial está rastreando o foguete, mas que é “muito cedo para considerar opções sobre o que pode ser feito, até que tenhamos uma melhor noção de onde ele irá cair”.