Bebê nasce com anticorpos contra Covid-19 após mãe contrair doença na gestação no interior do Acre

Foto: Reprodução

Um casal da cidade de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, foi pego de surpresa ao fazer o exame de sangue na filha recém-nascida e descobrir que a menina já nasceu com anticorpos contra a Covid-19.


A mãe, a empreendedora Joicilene de Souza Ramirez, de 35 anos, tinha feito um teste ainda no oitavo mês de gestação, que deu negativo para a doença. Mas, pelo que novos exames mostraram, ela tem anticorpos contra a infecção causada pelo novo coronavírus.


Orientada pelos médicos, ela então fez também um exame na pequena Antonella Ramirez Jucá, que nasceu no dia 22 de abril. No último dia 18, a mãe ficou sabendo que a menina também apresentou os anticorpos. O pai do bebê, o militar Maicon Silva Jucá, de 31 anos, contou que a mulher não chegou a apresentar sintomas de Covid-19 na gestação.


“Dias depois do nascimento da bebê, minha mulher fez o exame e deu que tinha os anticorpos e, por isso, resolvemos fazer o exame na neném que deu também. Os médicos disseram que é muito raro, que ainda não tinham visto isso. Ficamos muito emocionados de saber que a neném já tem, é até uma forma de alívio mesmo e esperança para as mães grávidas que, caso contraiam o vírus, possa passar os anticorpos para o bebê”, diz o pai da bebê.


Emocionada, a mãe falou ao Jornal do Acre 1ª Edição que estava aliviada de que nada mais grave tenha acontecido com ela e com a bebê.


“Eu sou totalmente grata primeiramente a Deus por eu estar viva ainda com minha filha, porque eu tinha muito medo de pegar esse vírus durante minha gestação, porque o que mais a gente via era mulheres grávidas morrendo, então, passava muita coisa na minha cabeça”, disse.


O ginecologista e obstetra Billy Rodrigues foi quem fez o parto na maternidade de Cruzeiro do Sul e conta que ainda não tinha visto caso parecido. Segundo ele, na verdade, tem acontecido casos de bebês recém-nascidos que acabam contraindo a doença e alguns desenvolvem até sintomas graves.


“Normalmente, pelo contrário, alguns bebês estão é contraindo a Covid-19. Então, nesse caso específico, a criança nasceu com os anticorpos da mãe. Chamou atenção, por ser atípico.”


O G1entrou em contato com o secretário de Saúde do Acre, Alysson Bestene, que disse que não recebeu informação sobre o caso, mas que vai solicitar que a Vigilância Epidemiológica busque detalhes para acompanhar. Ele disse ainda que não tem conhecimento de nenhum caso parecido no estado. A reportagem também tentou falar com o secretário de Saúde de Cruzeiro do Sul, Agnaldo Lima, mas não obteve retorno até última atualização desta reportagem.


O que diz infectologista

Já o infectologista Tião Viana explica que a passagem de anticorpos da mãe para o filho é bastante comum em doenças virais. Mas, alerta que o risco da contaminação durante a gravidez é bastante alto.


“É super comum, o que não tinha era estudo comprovando, mas recentemente houve vários estudos mundiais mostrando que isso acontece sim, que a criança já nasce com algum nível de proteção devido aos anticorpos maternos. Agora, lembrando sempre que o nível de alto risco e gravidade para a mulher grávida é no último trimestre. Os riscos vasculares, como trombose, infartos pulmonares e outros tipos. Por isso, é preciso muito cuidado”, destaca.


O especialista diz ainda que a melhor maneira de prevenir os casos graves nas grávidas é avançar na vacinação para esse grupo, o que determina também que a criança nasça com a mesma proteção. Ele destaca ainda que não é possível saber a duração dessa imunidade.


“É imunidade passiva possivelmente e os anticorpos vão ficar em regra oito ou 12 semanas ou em 40 semanas, não se sabe ainda. Só os estudos de seguimento sorológico é que vão determinar”, enfatiza.


Na última quarta-feira (19), a Secretaria de Saúde de Tubarão, no Sul catarinense, informou que um bebê nasceu com anticorpos contra a Covid-19 na cidade. A mãe, Talita Mengali Izidoro, é médica, trabalha em um posto de saúde da cidade e foi vacinada quando estava com 34 semanas de gestação.


Gestantes podem transmitir anticorpos para bebê, diz estudo

Estudo publicado em janeiro deste ano no American Journal of Obstetrics and Gynecology sugere que a vacinação materna pode conferir proteção ao bebê e aponta que um certo nível de IgG (imunoglobulina G) na mãe pode ser necessário para transferir um nível suficiente de anticorpos para o recém-nascido.


Os pesquisadores avaliaram 88 mulheres grávidas com teste sorológico positivo para SARS-CoV-2 em Nova York, no primeiro semestre de 2020 (quando ainda não havia vacinação contra a covid). Delas, 42% foram sintomáticas e 58%, assintomáticas – e um dos resultados encontrados foi que os níveis de IgG foram significativamente maiores em mães sintomáticas do que em mães assintomáticas.


Os pesquisadores avaliaram 50 recém-nascidos e identificaram que 78% (39 dos 50) apresentaram resultados sorológicos positivos depois da análise do sangue do cordão umbilical.


Eles apontam que ainda não se sabe até que ponto os anticorpos IgG derivados da mãe são protetores para o recém-nascido e quanto tempo dura a proteção.


Vacinação de gestantes e lactantes

Após a chegada de mais um lote com quase 600 doses de Coronavac, a Secretaria de Saúde de Cruzeiro do Sul retomou, nesta sexta-feira (21), a imunização de grávidas e mulheres no período pós-parto com comorbidades, contra a Covid-19, no interior do Acre.


A imunização do público de comorbidades e de gestantes e puérperas iniciou em Cruzeiro do Sul no último dia 4. No entanto, a vacinação das grávidas e mulheres no período pós-parto foi suspensa em todo estado no dia 11 de maio, após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendar a interrupção do uso da AstraZeneca/Fiocruz.


Por orientação do Ministério da Saúde, o grupo só pode tomar as vacinas Pfizer ou Coronavac, de acordo com a disponibilidade de doses. Na capital acreana, a vacinação desse grupo voltou a ser feita no dia 13 de maio com doses da Pfizer.


No dia 19, o Ministério da Saúde informou que as gestantes e puérperas que tomaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca aguardem o fim da gestação e do período puerpério (até 45 dias pós-parto) para completar a vacinação com o mesmo imunizante.


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