Após sequência de adiamentos, vacinação de adultos não prioritários só deve acontecer no segundo semestre de 2021; jovens com menos de 25 anos devem ficar para 2022, mas a previsão tem mudado constantemente
O governo federal brasileiro já contabiliza no papel mais de 500 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, quantidade suficiente para imunizar a população inteira e contar com uma sobra do bem mais disputado no mundo hoje.
Mas a realidade atual do Brasil é marcada por falta de vacinas, lentidão na aplicação de doses disponíveis, atrasos em entregas previstas dentro e fora do país e consequências da demora do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em comprar imunizantes.
A previsão divulgada pelo Ministério da Saúde já mudou cinco vezes em março, por exemplo, sempre reduzindo o número de doses a serem distribuídas nas próximas semanas e adiando cada vez mais entregas.
O cronograma atual do Ministério da Saúde prevê a entrega de 154 milhões de doses no primeiro semestre de 2021, considerando apenas vacinas aprovadas pela Anvisa: Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer. Isso seria suficiente para imunizar o grupo prioritário inteiro, mas isso não significa que todas essas 78 milhões de pessoas estariam vacinadas antes de julho — o Brasil tem conseguido aplicar apenas metade das doses disponíveis e há um intervalo de três semanas entre a primeira e a segunda dose.
Além disso, em razão dos atrasos recorrentes e da alta demanda internacional por vacinas, parte dos especialistas vê com ceticismo esse cronograma.
“Com o pé no chão, até o meio do ano você vai ter uma vacinação provavelmente de quem tem mais de 60 anos e provavelmente pode avançar um pouco mais na faixa dos 50 anos, incluindo também outros profissionais em risco. É isso que nós vamos ter até o meio do ano. Estamos falando de 40 ou 50 milhões de pessoas. E 100 milhões de doses de vacinas”, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em entrevista ao jornal Valor Econômico em 4 de abril de 2021.
A partir das informações mais recentes, a BBC News Brasil traça a seguir três cenários para o período de vacinação previsto para diferentes grupos da população brasileira — além do pode dar errado ou até melhorar no meio do caminho, caso sejam aprovadas vacinas como a russa Sputnik V ou a indiana Covaxin.
É importante ter em mente que tudo pode mudar, como já foi visto nas últimas semanas.
A tendência, até o momento, é que o início da vacinação dos adultos não prioritários deva acontecer pelo menos em meados do segundo semestre de 2021, enquanto a de jovens com menos de 25 anos deve acontecer só em 2022.
A situação dos menores de idade é ainda mais incerta.
Números e obstáculos
Um estudo recente da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) apontou que que Brasil precisa vacinar 2 milhões por dia para controlar pandemia em até um ano. Especialistas apontam que o país teria capacidade para imunizar mais de 1 milhão de pessoas por dia, como fez na pandemia de H1N1 em 2009.
Em março, no entanto, a taxa de vacinação diária tem variado de 22 mil a 500 mil doses.
O governo federal até agora distribuiu 43 milhões de doses para Estados e municípios. Do total, 21,1 milhões já foram aplicadas, sendo 16,4 milhões como primeira dose.
Até atingir o patamar necessário para conter mortes e infecções, há quatro obstáculos importantes para as 563 milhões de doses previstas para este ano pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. São eles: