Um novo fóssil achado por pesquisadores marca mais um avanço nos estudos de paleontologia do país. Ainda em 2019, um grupo de paleontólogos encontrou uma estrutura óssea da Macranhinga ranzii, uma ave aquática suliforme da família dos anhingidae que viveu no Brasil cerca de 5 milhões de anos atrás no estado do Acre.
O material foi achado em 2019 e, após mais de um ano de estudo, um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista Historical Biology.
A paleontóloga Lucy Gomes de Souza, do Museu da Amazônia (Musa), participou das escavações e do estudo. Ela diz que o achado é muito importante para os estudos voltados à fauna da região.
“Esse é um fóssil da parte da cintura pélvica de uma ave extinta. O fragmento do fóssil inclui vértebras e os ossos relacionados à bacia do animal. Ele foi encontrado em agosto de 2019 no município de Boca do Acre, na localidade conhecida como Cajueiro. Assim que coletamos o material e reconhecemos sua importância, demos início aos estudos”, explica.
Na época em que viveu no Brasil, a ave podia ser vista na região do Acre e também no Amazonas. Lucy destaca ainda que fósseis de aves são mais difíceis de serem achados, por isso, esse achado se torna ainda mais significativo.
A paleontóloga Lucy Gomes de Souza esteve em campo em 2019 — Foto: Vanessa Gama/Arquivo pessoal
“Essa ave era muito similar, tanto morfologicamente quanto evolutivamente dos biguás, sendo essa espécie com indivíduos bem grandes e pesados, bem maiores que os parentes atuais. Esse achado é importante porque na formação Solimões, que é a camada de rocha fossilífera mais abundante do Norte, a ocorrência de fósseis de aves é bem rara, sendo esse material um dos mais bem preservados e completos até então. Além disso, esse achado ajuda a entendermos a diversidade do passado e como ela influenciou a origem e evolução da nossa rica fauna Amazônica atual”, pontua,
O material está depositado no Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Acre (Ufac), que possui a maior coleção de fósseis paleovertebrados da Amazônia Sul-Ocidental, com cerca de 6 mil espécies catalogadas.
Além da Ufac, estão envolvidos neste estudo o serviço geológico do Brasil, pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM – Rondônia) e o Museu da Amazônia.
Escavações e buscas continuam após pesquisadores acharem fóssil de ave — Foto: Vanessa Gama/Arquivo pessoal
Características e homenagem
A Macranhinga ranzii era um animal com adaptações para mergulhar em rios e lagos, pesava mais de 8kg (um peso muito maior que os parentes viventes atuais) e se alimentava principalmente de peixes que caçava durante seus mergulhos.
Estima-se que ela tenha vivido na região do Acre e Amazonas há cerca de 5 a 10 milhões de anos, porém os estudos ainda não apontam há quanto tempo ela foi extinta.
“No momento, há conhecimento de pelo menos quatro espécies e todas são relacionadas evolutivamente, então não temos ainda fósseis de outros grandes grupos de aves apenas das suliformes, que são essas aves de hábitos semi-aquáticos”, destaca Lucy.
Os primeiros achados da espécie foram oficialmente publicados em 2003, quando foi reconhecida. Na descrição oficial da espécie e agora na descrição desse novo material, o doutor Edson Guilherme teve participação.
Outra curiosidade é que o nome da ave, Macranhinga ranzii, foi dado em homenagem ao paleontólogo Alceu Ranzi – um dos primeiros a estudar os sítios paleontológico encontrados no Acre e que deu grandes contribuições para a área. Atualmente, ele está aposentado, mas estava em campo quando o fóssil foi achado.
Inclusive, ainda neste mês, o Museu da Amazônia iniciou uma exposição de paleontologia que está diretamente vinculada às expedições e estudos desse animal.
Após publicar o artigo, a pesquisadora diz que os estudos e buscas continuam.
“Além de seguir com as escavações, buscando encontrar elementos fósseis dessa espécie ou até mesmo fósseis de outras espécies de aves, iremos seguir estudando os fenômenos ambientais e climáticos que extinguiu não só essa espécie como tantas outras e que possibilitou a origem e desenvolvimento da nossa rica e maravilhosa Amazônia atual.”