Um filme picante, em síntese, é aquele que provoca os sentidos. Alguns deles, por exemplo, nem precisam ter cenas de sexo.
Um olhar pode ser muito mais potente do que uma roupa sendo rasgada. Um toque nas mãos pode fazer mais estrago do que qualquer exposição de nudez — gratuita ou não.
Pensando nisso, listar filmes picantes é um trabalho ainda mais subjetivo do que qualquer outra lista. Isso porque é muito claro que aquilo que é picante para uma pessoa pode ser um balde de água gelada para outra… e justamente um balde de água gelada pode ser excitante para uma terceira pessoa.
Somos todos muito diferentes e, não sendo o streaming do Telecine uma plataforma pornô, os filmes selecionados são completamente diferentes entre si. Um ou mais deles podem ter cenas mais explícitas, mas não é essa a questão… a intenção fala mais alto aqui.
Há um motivo sempre muito influente quando se tenta elencar filmes dessa forma: a identificação. Quando se trata de desejo, tudo ganha outras proporções, porque mexe com a imaginação… e isso é algo quase sagrado, além de ser, sobretudo, intransferível.
Pensando nisso, a ideia das nossas listas de cinema geralmente é indicar. Sem a menor pretensão de criar algo exato, definitivo ou qualquer coisa do tipo, os filmes citados e brevemente resenhados mais abaixo servem como indicações para quem não os assistiu ou para quem gostaria de reassisti-los.
No catálogo do serviço podem ser encontrados outros filmes tão bons quanto, mais picantes — que seja —, mas, como dito, isso vai depender de questões subjetivas do imaginário e, claro, do gosto pessoal (até por isso a lista é, apesar de curta, bem diversa).
Sem mais demora e dentro dessa abordagem sem verdades absolutas, vamos à lista dos 7 filmes mais picantes para assistir no streaming do Telecine (em ordem alfabética, sem contar os artigos).
7. Azul é a Cor Mais Quente
A força imersiva de Azul é a Cor Mais Quente é especialmente válida pelo comprometimento das protagonistas. Se o diretor Abdellatif Kechiche talvez pouco consiga construir como unidade, deixando elementos agirem sem funcionarem dentro do conjunto – como a comentada percepção de que Kechiche acabou se empolgando em algumas cenas –, Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos conseguem transpor um efeito emocional único no antes, no durante e no depois das cenas de sexo.
A história, que é baseada em um romance gráfico de Julie Maroh, contorna a vida de Adèle (homônima da atriz), que começa a mudar completamente quando ela conhece Emma (Seydoux).
6. Carne Trêmula
Pedro Almodóvar é um dos cineastas mais icônicos e celebrados e talvez um dos mais inimitáveis. Em Carne Trêmula, o diretor transforma uma história essencialmente pesada em algo de assimilação fácil que deixa todo o peso para o pós-filme… para quando se senta, enfim, para pensar no que foi assistido e nos seus subtextos. O senso de ironia, aqui, é essencial para esse processo do espanhol, que, inclusive, interrompe uma luta para os brigões vibrarem com um gol da seleção espanhola de futebol em um jogo transmitido pela televisão.
Carne Trêmula segue Víctor (Liberto Rabal), ex-presidiário que permanece apaixonado por Elena (Francesca Neri). Mas ela é casada com um ex-policial, David (Javier Bardem), que ficou paraplégico após um tiro da arma de Víctor.
5. Um Estranho no Lago
É verão. Um cruzeiro para homens às margens de um lago. Franck (Pierre Deladonchamps) se apaixona por Michel (Christophe Paou), um homem atraente e letalmente perigoso. Franck sabe disso, mas quer viver sua paixão de qualquer maneira.
A completa falta de trilha sonora musical de Um Estranho no Lago é substituída por pássaros cantando, água batendo contra a costa e os amantes ofegando em êxtase. Tudo isso, mais o clima de suspense, torna o filme algo mais do que exatamente um thriller. O trabalho do diretor Alain Guiraudie (de Le roi de l’évasion) é, sobretudo, uma meditação sobre a natureza da amizade e do desejo, bem como a incongruência enlouquecedora dos dois.
4. Love
É interessante que Love pode ser visto como o filme mais solto, livre, o trabalho menos transgressor de Gastar Noé. O diretor parece mais comedido, apesar da temática. Na história, Murphy (Karl Glusman) é um americano que mora em Paris e mantém um relacionamento altamente sexual e emocionalmente carregado com Electra (Aomi Muyock). Sem saber do efeito que isso terá em seu relacionamento, eles convidam sua linda vizinha Omi (Klara Kristin) para dormir.
Através das memórias de Murphy, tudo é exibido com muita paixão, tristeza e fúria. E, como se estivesse penetrando nas memórias e pensamentos de um homem em ebulição animal, o resultado da maioria das memórias são cenas de sexo.
Love pode estar longe do Noé de Viagem Alucinante (de 2009), por exemplo, mas mantém a sua assinatura e ainda a carrega com algo de autobiográfico, o que demonstra ao interpretar um personagem chamado igualmente Noé… mas creditando-se como Aron Pages para, de repente, não ser reconhecido por quem nunca lhe viu.
3. Magic Mike
Magic Mike é um filme potencialmente estranho, começa divertido e fica cada vez mais sombrio. Steven Soderbergh (do recente A Lavanderia e de Onze Homens e um Segredo) constrói uma história com uma sensação de realismo constante. Ao contrário do que pode parecer, trata-se de um filme humano, com o coração no lugar, mas que tem, claro, suas cenas mais quentes.
A premissa, que é bastante simples, segue um stripper que procura ensinar a um jovem como se divertir, pegar mulheres e ganhar dinheiro com facilidade. Mas vai muito além.
2. Ninfomaníaca (Volume 1 e Volume 2)
Há quem goste muito dos dois filmes. Há quem os veja como insuportáveis. Dito isso, Ninfomaníaca não saiu muito da assinatura de seu criador, o polêmico Lars von Trier (de A Casa que Jack Construiu). Acompanhando uma ninfomaníaca autodiagnosticada que conta suas experiências eróticas para um homem que a salvou após uma surra, Trier constrói um filme poético-pornô.
Pode estar longe de ser seu melhor filme e funcionar como uma provocação à indústria, mas Trier controla tudo muito bem e as cenas de sexo, mesmo que não aconteça com o elenco de fato, são um tanto quanto realistas. E ainda conta com o protagonismo de Charlotte Gainsbourg, atriz que é das melhores da atualidade e permanece sem receber seu devido valor.
1. Tinta Bruta
De estrutura aparentemente solta, Tinta Bruta é um filme emblemático. Tanto porque seu formato é, na prática, uma metalinguagem para a vida de alguém LGBTI+ – em um caminho de vida pública mais incerto – quanto pela elegância da condução de Felipe Matzembacher e Marcio Reolom. Paul O’Callaghan, um dos críticos americanos mais influentes da atualidade, comparou o filme gaúcho a dois petardos da filmografia mundial recente: O Reino de Deus (de Francis Lee) e Uma Mulher Fantástica (de Sebastián Lelio) – este vencedor do Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. O final repentinamente otimista de Tinta Bruta é tratado com tanto carinho pelos diretores que, enfim, parece desagradável negar felicidade a quem passou por uma jornada tão pesada… Temos direito de negar felicidade a alguém?
Agora, ficam aí os comentários. Como sempre, foi difícil fazer uma lista com um material tão subjetivo, mas temos certeza que vocês podem complementar e enriquecer tudo. Ficaram filmes de fora, então vamos conversando, debatendo… de repente, aumentando a lista.