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Humanos têm os moldes genéticos para produzir veneno

Estudos mostraram que mamíferos de forma geral ainda possuem os moldes genéticos presentes nos répteis para a produção de veneno


Venenos e toxinas são estratégias de caça e defesa um tanto comuns entre répteis e invertebrados. Alguns mamíferos ainda podem possuir certas proteínas que ajudam na caça, como certos morcegos, que possuem salivas anticoagulantes.


Contudo, um estudo vindo do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão, e da Universidade Nacional da Austrália mostrou que mamíferos podem ter resquícios genéticos da produção de veneno.


A evolução tem um papel fundamental nessa descoberta. Conforme a vida foi se desenvolvendo, ao longo de milhares de anos, muitas características se conservaram em animais diferentes.


Certos genes, por exemplo, estão presentes em todo o reino animal, desde invertebrados marinhos até os humanos. Acontece, por conseguinte, que os seres humanos e mamíferos em geral podem, sim, ter os precursores genéticos do veneno – só que eles não estão mais ativos.



(Imagem de Bianca Mentil por Pixabay)


Para demonstrar isso, os pesquisadores avaliaram a semelhança entre genes de glândulas salivares em diversos animais. Isso porque as glândulas de veneno presentes em cobras e outros vertebrados peçonhentos são, justamente, glândulas de saliva modificadas.


A partir dessa análise, portanto, os pesquisadores puderam demonstrar que diversos genes responsáveis pela produção de veneno em outros animais estão, sim, presentes nas glândulas salivares de seres humanos.


A relação entre glândula de saliva e veneno


A saliva possui naturalmente milhares de enzimas. Enzimas, por sua vez, são proteínas que têm uma função de catalisadores biológicos.


A maioria das enzimas presentes na boca dos humanos são responsáveis por quebrar carboidratos e proteger o sistema digestório contra algumas infecções.



Contudo, os autores do artigo avaliaram a produção e os genes de um grupo de proteínas em particular: as calicreínas. Essas proteínas têm uma conservação alta evolutivamente e estão presentes desde os venenos de centopeias até os das cobras.


Muitas delas tem a função de vasodilatadores, que causam um choque na pressão arterial da presa. A parte peculiar é que esses genes ainda estão pesentes nas células de glândulas salivares de humanos.


No entanto, eles não produzem veneno nem codificam para funções essenciais – apenas estão lá como resquício evolutivo.


 



(Imagem de Michael Kleinsasser por Pixabay)


Apesar da descoberta curiosa, isso não quer dizer que existam super humanos que tenham glândulas de veneno.


Na verdade a importância é muito mais farmacêutica do que sci-fi. Acontece que, em geral, animais venenosos são grandes candidatos para o desenvolvimento de medicamentos. Isso porque certos venenos, quando atenuados, podem modificar inúmeras funções vitais de forma não tão intensa.


O artigo está disponível no periódico PNAS.


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