Família de Lourenço Pereira, de 62 anos, afirmou não ter dado aval para o médico que fez o tratamento, em cidade do Rio Grande do Sul
“O que pretendemos é buscar justiça para tudo o que ocorreu com o meu pai no período da internação, para que outras pessoas não passem por tratamentos experimentais. Não teríamos autorizado, sobretudo por sabermos que essa conduta médica não tem base legal”, diz a filha Eliziane Pereira, de 32 anos.
Lourenço Pereira costumava ir de sua residência, na divisa da cidade de Alecrim, de bicicleta até a área central da cidade. No último dia 19, ele não conseguiu terminar o trajeto por sentir falta de ar.
O idoso comunicou a situação à filha Eliziane, que mora em Porto Alegre. Ela chamou uma ambulância, que levou o homem ao hospital.
Hidroxicloroquina diluída
A hidroxicloroquina, remédio também sem uso comprovado para tratamento da Covid-19, deve ser ingerida pela via oral, mas alguns médicos passaram a aplicar a técnica experimental em pacientes de Covid-19.
Profissionais críticos da prescrição alertam para os riscos de a inalação do fármaco causar efeitos adversos, como taquicardia.
A família do paciente Lourenço Pereira diz não ter sido consultada sobre as nebulizações e afirma que não emitiu nenhuma autorização.
Eles fizeram uma denúncia ao Ministério Público requerendo a investigação do caso alegando que a medicação contribuiu para a piora do quadro de saúde de Pereira.
Outras mortes
Não é a primeira vez que pacientes com Covid-19 morrem após terem recebido a hidroxicloroquina diluída em soro.
No último dia 24, três pessoas faleceram no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, também no Rio Grande do Sul.
Nesses casos, o quadro clínico das vítimas variava entre estável e grave, e evoluíram para óbito rapidamente após o início dos tratamentos experimentais ministrados pela médica Eliane Scherer.
Mesmo com as mortes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o uso da medida contra a Covid-19.
No último dia 21, o chefe do Executivo federal disse que pacientes poderiam usar a hidroxicloroquina diluída “fora da bula”.
“Nós temos uma doença que é desconhecida, com novas cepas, e pessoas estão morrendo. Os médicos têm o direito, ou o dever, de que, no momento que falta um medicamento específico para aquilo com comprovação científica, ele pode usar o que se chama de off-label – fora da bula”, disse o presidente à Rádio Acústica.
Bolsonaro citou o caso de Eliane Scherer. A médica foi demitida após as mortes, pois adotou uma técnica não prevista em protocolos de saúde e, além disso, teria colocado em risco a vida de outros pacientes por ter feito a nebulização em ambiente aberto.
Um dos pacientes de Eliane, que também veio a falecer, era o vereador e ex-prefeito de Dom Feliciano (RS) Dalvi Soares de Freitas. O político estava internado no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã (RS).