Sem saber, eles desacataram também o delegado. O policial filmou a situação, inclusive o momento em que foi xingado pelos rapazes. Assista acima.
O delegado Rodrigo Souza contou que os jovens foram detidos no Museu Oscar Niemeyer e foram levados à Central de Flagrantes.
“Quando cheguei, vi que eles estavam alterados e perguntei o motivo de estarem gritando. Falaram que não iriam falar comigo, porque eu não mandava nada, que só iriam falar com o delegado e aí começaram as agressões [verbais]”.
Sem saber que estavam na frente do delegado, os jovens zombaram do policial e o xingaram.
“Um deles me chamou de safado, usou um palavrão e me chamou de ‘cabação’. O outro perguntou se eu já tinha lido algum livro na vida, disse que eu tinha cara de analfabeto”.
No momento das agressões verbais, os três jovens esperavam para serem ouvidos após a prisão pela Guarda Municipal. Quando foram chamados, perceberam que o homem que eles ofenderam era o delegado.
“Aí pediram desculpas”, disse Rodrigo Souza.
Segundo o delegado, os jovens justificaram que estavam daquele jeito porque estavam indignados com o tratamento.
“Eles estavam na carceragem esperando serem ouvidos. Disseram que são estudantes e não poderiam ser tratados daquela forma. Mas, não tinha nada diferente do comum”.
Os três jovens vão responder pelo desacato aos guardas municipais, mas só um deles foi liberado. Os outros dois, acabaram presos por conta das ofensas ao delegado.
“Como somaram os crimes, os dois que me xingaram ficaram presos. Arbitrei fiança de R$ 1 mil e pagaram só em juízo”.
Após o pagamento da fiança, os dois jovens saíram da cadeia na manhã de segunda-feira (12).
‘Racismo estrutural’, diz delegado
O delegado disse que, embora os jovens não tenham dito nenhuma ofensa racista, ele entendeu a situação como racismo estrutural.
“Eles não falaram nada racista, portanto nenhuma injúria racial, mas ficou bem claro. Não cogitaram que eu fosse delegado em razão do racismo estrutural, por eu ser negro não posso ser um delegado?”.
Para Rodrigo Souza, a mensagem que fica é a de que, cada vez mais, conscientizar as pessoas sobre o assunto se faz importante.
“Como negro, gosto muito de servir como exemplo para aquele moleque pobre que tem intenção de seguir carreira. Torço para que cada vez mais pessoas pretas, negras, ocupem cargos em órgãos públicos. Que isso passe a ser normal e não anormal, como eles deixaram transparecer”.