Há mais de um ano mantendo indígenas da etnia Warao, a maior da Venezuela, o governo do Acre alugou um novo abrigo para acomodar os estrangeiros. Os 65 índios estavam em um abrigo no bairro Cidade do Povo, em Rio Branco. Agora, o grupo foi levado para a Chácara Aliança, que também fica na capital acreana.
A chácara Aliança já foi abrigo, no passado, para os imigrantes haitianos e senegaleses entre os anos de 2014 e 2016, quando eles usavam o Acre como rota para tentar chegar em outras regiões do país. Cinco anos depois, o espaço volta a abrigar imigrantes, desta vez venezuelanos que fogem da crise no país.
André Crespo, diretor Interino dos Direitos Humanos da Secretária de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres (Seasdhm), disse que o grupo foi transferido no último dia 30, após a licitação e contrato de aluguel.
“Levamos eles dias 30 de março. Estavam lá desde março do ano passado e, como o município não tinha, na época, a capacidade de abrigá-los e eles não poderiam ficar junto com não indígenas venezuelanos, então, o estado acolheu. Como não tínhamos um espaço contratado, eles ficaram na Cidade do Povo”, explicou.
O diretor disse que o processo de contratação começou em dezembro do ano passado e só agora foi concluído. Além dos indígenas que estão na chácara, o governo abriga ainda outros 35 venezuelanos em um abrigo anexo à Seasdhm, no bairro Estação Experimental, em Rio Branco.
“Venezuelanos não indígenas continuam chegando, só que em um fluxo pequeno, por semana chegam cerca de cinco a sete adultos porque o Acre ainda é rota, desde o fluxo dos haitianos. Então, ainda chegam, só que de maneira discreta, com fluxo menor”, acrescentou.
Chácara Aliança recebe cerca de 65 indígenas da etnia Waro — Foto: Lucas Oliveira: Seasdhm
Ajuda
Crespo falou ainda que os venezuelanos apenas usam o Acre como rota e ficam só o tempo necessário para a expedição dos documentos e depois seguem viagem. Mas, o indígenas não demonstram pretensão de sair.
“Os indígenas são um desafio, porque eles não querem sair daqui. A gente tem tentado criar a autonomia deles, o que é um pouco complexo, durante um ano já tentamos várias ações, oferecemos terra, material para artesanato. Todas as famílias já recebem bolsa família, então, eles têm tudo que uma família brasileira tem. Só que a gente não pode fechar o abrigo e soltá-los na rua, estamos fazendo o processo de autonomia. Mas, porque o abrigo é provisório, não existe política de abrigo permanente de imigrantes”, acrescentou.
No Acre, desde que se intensificou a crise na Venezuela, já passaram pelo menos 2,5 mil imigrantes venezuelanos, desde o ano de 2019, segundo informou Crespo.
Os indígenas começaram a chegar ao estado acreano em setembro de 2019 em busca de refúgio e abrigo, fugindo da crise no país e, desde então, é comum encontrá-los em semáforos pedindo ajuda.
O grupo passou a viver em condições subumanas em um prédio abandonado que fica no Bairro da Base, próximo ao Centro de Rio Branco, depois que foi despejado da casa onde vivia por não ter como pagar aluguel. Até que foram levados para o abrigo público.
Crise Migratória no Acre
Em fevereiro deste ano, mais uma vez, o fluxo de imigrantes no Acre voltou a chamar atenção, devido à tensão registrada na cidade de Assis Brasil, que faz fronteira com o Peru. O município, que tem 7.534 habitantes, registrou naquele mês um grande fluxo de imigrantes retidos porque o Peru fechou a fronteira e o grupo, que saiu do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Sudoeste do país, não conseguia deixar o Brasil.
Cerca de 400 imigrantes chegaram a ocupar a Ponte da Integração que liga a cidade acreana de Assis Brasil, na fronteira com o Peru, no dia 14 de fevereiro. Três dias após ficarem acampados, os imigrantes invadiram a cidade de Iñapari e entraram em conflito com a polícia peruana, mas, foram obrigados a voltar.
Após quase um mês de ocupação, os imigrantes deixaram de forma pacífica a ponte e voltaram para os abrigos fornecidos pela prefeitura da cidade, em duas escolas.