As pontes Internacional e da Amizade, que ligam, respectivamente, as cidades brasileiras de Epitaciolândia e Brasiléia a Cobija, capital do Departamento de Pando, na Bolívia, foram bloqueadas ainda na manhã deste sábado, 10, por cidadãos brasileiros em protesto contra a prorrogação do decreto boliviano que manteve a fronteira entre os dois países fechada por mais uma semana.
Na tarde de sexta-feira, funcionários da aduana boliviana informaram à reportagem do jornal ac24horas que haviam recebido ordens para reabrir a passagem para o Brasil em razão do término do prazo estabelecido pelo Decreto Supremo 4.481, que impôs o período de fechamento com a permissão para uma janela de circulação de três horas diárias.
Durante várias horas, o trânsito entre as três cidades voltou a ocorrer normalmente, mas na manhã deste sábado, brasileiros que tentaram fazer a travessia para o lado boliviano se depararam novamente com a fronteira fechada. A prorrogação, segundo o governo municipal de Cobija, vigora até a meia-noite do próximo dia 16 de abril.
Desde a primeira ocasião, a medida do governo boliviano tem causado desconforto e tensão na fronteira com o Acre, pois o departamento de Pando, que tem Cobija como capital, é um dos mais isolados do país e tem grande dependência das rodovias de Brasil e Peru, além do comércio e demais serviços oferecidos por Brasiléia e Epitaciolândia.
Diante da possibilidade de flexibilização do fechamento das pontes que interligam as cidades, o prefeito de Cobija, Luís Gatty Ribeiro, e a governadora de Pando, Paola Terrazas, emitiram comunicados abrindo janelas de circulação de três horas diárias para o trânsito de cidadãos dos dois países, o que causou mais aglomeração e transtornos nos dois lados, segundo jornalistas locais.
Paola Terrazas, que é contrária ao fechamento da fronteira, disse em uma entrevista na semana passada que temia que os brasileiros praticassem a reciprocidade e também fechassem a passagem para o país, o que traria grandes dificuldades para a população de Cobija, cujo abastecimento de combustíveis chega pelas estradas brasileiras.
Para grande parte dos brasileiros que precisam, por motivo de trabalho ou estudos, atravessar a fronteira diariamente, a flexibilização feita pelas autoridades bolivianas visa apenas atender à própria necessidade, principalmente no que diz respeito à aquisição de produtos alimentícios no lado brasileiro, desconsiderando a reciprocidade.
Na última segunda-feira, 5, a presidente da Câmara de Vereadores de Brasiléia, Arlete Amaral, ficou temporariamente retida do lado boliviano depois de ter ido a Cobija e chegado de volta à tranca instantes depois do encerramento do horário permitido para a circulação entre os dois lados da fronteira. A Vereadora afirmou, inclusive, que policiais bolivianos foram mal-educados com ela.
Com o novo impasse ocorrido na manhã deste sábado, um grupo de brasileiros atravessou carros na Ponte Internacional, que liga Epitaciolândia a Cobija, e fez ameaças de fechar as passagens, no lado brasileiro, para impedir a entrada dos bolivianos nos horários da janela de circulação, que foi aumentada de três para quatro horas diárias – das 7h às 8h e das 16 às 19 horas (hora Bolívia).
A situação no local ficou tensa no meio da manhã, com brasileiros fazendo disparos de rojões e pedindo respeito às autoridades bolivianas, que estariam recebendo propina para permitir a passagens de algumas pessoas. Em um dos muitos vídeos publicados na internet é possível ver que a Ponte Internacional foi bloqueada com uma árvore no lado brasileiro.
No período da tarde, os protestos se concentraram na Ponte da Amizade, em Brasiléia, onde a passagem foi fechada com correntes, num ato simbólico de diversos trabalhadores, entre comerciantes e mototaxistas, contra o que os brasileiros classificam de falta de respeito e humilhação por parte das autoridades bolivianas com os vizinhos de fronteira.
As restrições bolivianas à circulação na fronteira com o Brasil e outros países como medida preventiva contra o risco de infecção de novas variantes do coronavírus. O presidente Luís Arce declarou em um comunicado conjunto publicado pelos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores que podem ocorrer novas extensões dependendo de avaliações epidemiológicas.